terça-feira, 21 de setembro de 2021

Economia está na retomada, independentemente dos “mitos do mercado”

Economia está na retomada, independentemente dos “mitos do mercado”, escreve Carlos Thadeu

Indicadores divulgados recentemente são positivos. Quem aposta contra está exagerando no pessimismo...



Na semana passada, foram divulgados importantes indicadores apontando o desempenho favorável da atividade econômica. Mesmo com a inflação mais elevada, o comércio e os serviços cresceram pelo 4º mês consecutivo em julho, com expectativas para o ano revisadas para cima. O índice de atividade do Banco Central apontou crescimento em todas as bases de comparação.

Esses números mais recentes fazem coro com a geração líquida de vagas formais, que vem chegando também de forma gradual e consistente. Não resta dúvidas de que estamos em um novo movimento de recuperação da economia, ainda que se tente aplicar os mitos dos riscos fiscais.

O volume de vendas do varejo cresceu 1,2% de junho para julho, a 4ª alta mensal com ajuste sazonal, e o varejo ampliado, incluindo os segmentos de automóveis e materiais de construção, cresceu 1,1%, segundo o IBGE. O incremento nas vendas do grupo de veículos ocorre ainda que estejamos experimentando dificuldades na recomposição do estoque de peças e partes, algo que ocorre no mundo, não somente no Brasil.

As vendas do comércio estão evoluindo em todos os padrões de comparação, inclusive em relação aos índices de antes da pandemia, e neste ano, acumulam alta de 6,4% no conceito restrito, e 11,6% no ampliado. E no 2º semestre do ano certamente termos resultados ainda melhores, uma vez que é o momento sazonal de maior aquecimento das vendas, concentrando a data mais relevante ao varejo, o Natal.

A alta na inflação corrente e a maior disseminação sobre os itens da cesta de consumo tem afetado os orçamentos das famílias, mas não tem influenciado o bom desempenho das vendas. Estimamos que este ano as vendas cresçam cerca de 5%, com herança estatística, ou carry over, da mesma ordem para o próximo ano. O crédito vem cumprindo papel de destaque no suporte ao consumo e recomposição da renda dos consumidores, com inadimplência bem comportada.

O avanço da cobertura vacinal tem promovido a maior circulação de pessoas nas ruas e zonas comerciais, ajudando a explicar o bom desempenho das vendas globais do varejo. A atividade nos serviços também se beneficia da flexibilização das medidas de isolamento, com a queda nas estatísticas de contágio e mortes pela covid-19.

Os dados do setor também mostram o 4º incremento mensal seguido, sendo que em julho, o volume de receitas de serviços avançou 1,1%, destacando-se a retomada dos serviços prestados às famílias. Os serviços que compõem o turismo adicionalmente vêm reduzindo as perdas acumuladas desde o início da pandemia, e nesse compasso, apenas o volume de receitas do turismo deve crescer cerca de 20% este ano. Os serviços como um todo devem ter o volume de receitas reais ampliadas em cerca de 6% este ano.

Com isso, o BC mostrou aquecimento da economia de 0,6% em julho, após um junho igualmente positivo. A média móvel trimestral segue a mesma dinâmica de atividade gradualmente crescente. Teremos crescimento de aproximadamente 5% do PIB este ano, com todas as revisões e previsões mais pessimistas do mercado.

Sem dúvidas a conjuntura é favorável neste 2º semestre, passado o pior momento da pandemia entre março e abril deste ano, em que se espera novos aumentos dos investimentos e financiamentos das empresas. Temos alertado para o BC cuidar da elevação da Selic a um patamar satisfatório para melhorar a dinâmica inflacionária no horizonte relevante, sem colocar em risco o desempenho da economia, dos investimentos privados, e do consumo à frente.

Esperamos que o PIB cresça ao redor de 1,8% em 2022, com a sequência de protagonismo do crédito. Este ano, o saldo das operações de crédito totais no sistema financeiro deve crescer quase 11%, e acima de 8% no próximo.

Sabemos que a inflação corrente alta é fruto de fatores transitórios e de cujos aumentos nos juros possuem baixa eficácia, além dos aumentos de agora terem impacto mais adiante. Por isso o Banco Central acertadamente diz que vai olhar com cautela os dados de alta frequência dos preços. O Ministério da Economia cuidou de corrigir seu olhar sobre a inflação no final do ano, esperando alta de 7,9%, o que também viemos defendendo, um olhar mais realista para ajudar a ancorar melhor as expectativas.

O mercado piorou a visão sobre Selic, com mais agentes advogando pelo aumento de 1,25 ponto percentual na reunião do Copom desta semana. Mas os riscos fiscais que têm deteriorado as expectativas futuras para a inflação e tentado pressionar os juros são mitos.

A evolução favorável da dívida pública e da arrecadação federal são provas, assim como a manutenção das âncoras fiscais, a solução sobre os precatórios via crédito suplementar, e o compromisso com a gestão das despesas. A dívida bruta/PIB, que encerrou 2020 em 89%, deverá chegar a 82% em 2021 e não muito além disso em 2022, sem maiores ameaças de vencimentos dos papeis curtos.

Também temos falado que pressões políticas são historicamente normais em ano pré-eleitoral, mas não há o que temer no balanço de riscos, ainda mais com menos incertezas sobre a pandemia, com o avanço da ciência garantindo maior controle sobre o vírus. Quem aposta contra está exagerando no pessimismo, uma vez que os dados não justificam previsões tão pessimistas.

Fonte: Poder 360

Carlos Thadeu de Freitas Gomes Carlos Thadeu de Freitas Gomes, 73 anos, é economista-chefe da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). 

Foi presidente do Conselho de Administração do BNDES e diretor do BNDES de 2017 a 2019, diretor do Banco Central (1986-1988) e da Petrobras (1990-1992). Escreve sobre macroeconomia para o Poder360 todas as segundas-feiras....

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