sexta-feira, 2 de julho de 2021

Saiba quem são os 'anônimos' envolvidos no suposto pedido de propina na compra de vacina

 

Luiz Paulo Dominguetti, que acusou governo de propina em compra de vacinas, depõe à CPI da Covid Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Luiz Paulo Dominguetti, que acusou governo de propina em compra de vacinas, depõe à CPI da Covid Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO — O policial militar e também representante comercial Luiz Paulo Dominguetti prestou depoimento nesta quinta-feira à CPI da Covid, no Senado, e citou mais pessoas envolvidas no suposto pedido de propina feito por autoridades do Ministério da Saúde. Em uma sessão turbulenta e marcada por bate-boca, Dominguetti confirmou que o ex-diretor da pasta Roberto Dias pediu US$ 1 por cada dose de vacina que seria comprada.

Ele também disse que os militares Marcelo Blanco e Alexandre Martinelli, que já integraram o ministério, participaram do jantar em que a propina teria sido ofertada, além de terem feito parte das negociações com a empresa Davati Medical Supply, que diz ser representante da Astrazeneca no Brasil.

Saiba quem é quem neste suposto esquema

Luiz Paulo Dominguetti

Luiz Paulo Dominguetti é cabo da Polícia Militar em Minas Gerais e se apresentou como representante comercial da Davati Medical Supply — que diz ser intermediária na venda da vacina AstraZeneca. Dominguetti denunciou de que o ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias pediu propina de US$ 1 por dose do imunizante, segundo afirmou ao jornal “Folha de S.Paulo” e confirmou à comissão.

Dominguetti trabalha como policial militar na cidade Alfenas, no Sul de Minas, e disse em seu depoimento que começou a atuar no mercado de insumos para complementar a renda. Apesar da negociação entre Ministério da Saúde e a Davati ser de grande porte — a oferta era para 400 milhões de doses —, Dominguetti não tem uma muita experiência no ramo e reconheceu que até então não tinha feito grandes negócios na pasta. Ele afirmou também ter dívidas a pagar e que deve quatro meses de aluguel. Ele admitiu que, como militar da ativa, não poderia estar exercendo outra função e está disposto a arcar com as consequências.

Roberto Dias

Diretor de Logística em Saúde do Ministério da Saúde Foto: Anderson Riedel/PR
Diretor de Logística em Saúde do Ministério da Saúde Foto: Anderson Riedel/PR

Segundo a denúncia de Dominguetti, quem lhe fez a proposta de propina para compra de vacinas foi Roberto Ferreira Dias, que era diretor do Departamento de Logística do Ministério de Saúde. Ele foi exonerado do cargo na última quarta-feira. Dias também é suspeito de ter pressionado pela aprovação célere da vacina indiana Covaxin, apesar das inconsistências no processo de aquisição do imunizante, que também foi o mais caro negociado pelo governo. Depois da polêmica, o contrato com a Covaxin foi suspenso.

Também há contra o ex-diretor a suspeita de irregularidades na compra de testes para a Covid-19, o que motivou, em outubro do ano passado, o pedido do então ministro da Saúde Eduardo Pazuello para que Dias fosse demitido. No entanto, a exoneração não ocorreu por uma forte pressão política.

A propina no caso da Davati teria sido pedida por Dias durante um jantar em um restaurante de Brasília em 25 de fevereiro, segundo relatou Dominguetti. O ex-diretor confirma que se encontrou com o policial militar para tratar sobre uma possível oferta de vacinas da AstraZeneca, mas nega o pedido de propina. Ele afirmou foi levado ao local pelo tenente-coronel Marcelo Blanco, que também foi integrante do Departamento de Logística do ministério.

Marcelo Blanco

Tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco Foto: Najara Araujo/Câmara dos Deputados
Tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco Foto: Najara Araujo/Câmara dos Deputados

O tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco foi assessor do departamento. Tanto Dias quanto Dominguetti afirmam que o militar estava presente no jantar em que o PM alega ter sido ofertada a propina. À CPI, Dominguetti disse que foi Blanco quem fez a ponte entre ele e Dias, afirmando que tinha um bom relacionamento dentro do ministério.

Blanco foi exonerado do cargo em janeiro deste ano e chegou a ser designado para substituir Dias após sua demissão. No entanto, a pasta recuou e nomeou o general da reserva Ridauto Lucio Fernandes para o cargo de diretor do Departamento de Logística.

Blanco havia sido nomeado ao departamento no início de maio do ano passado, ainda na gestão do ex-ministro Nelson Teich. Segundo o GLOBO mostrou à época, o militar substituiu a servidora Adriana Maria Pinhate, que trabalha no posto desde 2012.

Alexandre Martinelli

O coronel Alexandre Martinelli Cerqueira foi apontado por Dominguetti como a quarta pessoa presente no jantar, no dia em que a propina teria sido ofertada. À comissão, o policial disse que havia um empresário no encontro, mas não lembrava exatamente quem era. Após o senador Randolfe Rodrigues mostrar uma foto, ele o identificou como o coronel. Martinelli é ex-chefe da Subsecretaria de Assuntos Administrativos do Ministério da Saúde e deixou a pasta também em janeiro desde ano.

O coronel nega que tenha participado do jantar. Ao GLOBO, ele admitiu, porém, que estava no Shopping onde fica o restaurante, mas em uma cafeteria com um colega do Exército. Martinelli é mais um militar que foi nomeado a pasta durante a crise sanitária: sua nomeação foi feita logo no início da gestão de Eduardo Pazuello.

Cristiano Alberto Carvalho

O representante da empresa Davati Medical Supply no Brasil Cristiano Alberto Carvalho Foto: Reprodução Facebook
O representante da empresa Davati Medical Supply no Brasil Cristiano Alberto Carvalho Foto: Reprodução Facebook

Cristiano Alberto Carvalho é o representante da Davati no Brasil. No depoimento de Dominguetti à CPI, o policial disse que o empresário teria feito um acordo verbal com ele para que pudesse atuar em nome da empresa junto ao Ministério da Saúde para negociar as 400 milhões de doses da AstraZeneca. Ainda segundo Dominguetti, antes que ele tivesse contato com Dias e os demais militares ligados à pasta, era Carvalho quem estava à frente da negociação.

Herman Cárdenas

Herman Cárdenas é o presidente da Davati Medical Supply, cuja sede fica no Texas, nos Estados Unidos. Segundo Dominguetti, Carvalho teria pedido a Cárdenas para que incluísse ele na negociação com o Ministério da Saúde. O presidente da empresa, no entanto, afirmou ao GLOBO que Dominguetti não era representante da Davati no Brasil, embora reconheça que o nome dele constava na proposta formalizada à pasta.

— Estou ciente disso. Nos disseram para inclui-lo, mas ele não estava nos representando. A Davati não tinha conhecimento de quem ele era, então presumimos que ele era representantes deles — disse Cárdenas, sem precisar quem seriam “eles” que pensou que Dominguetti representava.

Davati

A empresa Davati tentou vender milhões de doses de vacina à uma associação de povos indígenas no Canadá, mas a venda foi interrompida porque o governo do país desconfiou. Nos Estados Unidos, a Davati aparece como uma empresa de construção, mas que, segundo alega, teria entrado no ramo de imunizantes devido à pandemia da Covid-19.

Segundo Dominguetti falou à CPI, Herman teria acesso a locadores do mercado que eram os proprietários da vacina vendida por ele. Por isso, de acordo com o policial, ele é capaz de negociar uma grande quantidade de doses de imunizante.

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