quinta-feira, 28 de maio de 2015

Por que o presidente da CBF tem que se preocupar com a investigação do FBI

Por que o presidente da CBF tem que se preocupar com a investigação do FBI

Guilherme Costa, Rodrigo Mattos e Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
Presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) até abril de 2015, José Maria Marin foi um dos sete dirigentes do futebol internacional detidos na manhã de quarta-feira (27), em Zurique (Suíça), numa ação liderada pelo FBI (polícia federal americana). Contudo, ele não é o único cartola brasileiro implicado nas investigações sobre corrupção no esporte.
Marco Polo Del Nero, sucessor e atual mandatário da entidade que comanda o futebol nacional, aparentemente é um dos suspeitos listados nos documentos montados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. E isso pode ter efeitos práticos no futuro do esporte nacional.
Del Nero assumiu a presidência da FPF (Federação Paulista de Futebol) em 2003 e teve trajetória ascendente desde então. Membro do comitê executivo da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), ele foi indicado por Ricardo Teixeira, então mandatário da CBF, e passou a integrar o comitê executivo da Fifa em 2012.
O dirigente não chega a ser citado nominalmente em nenhum documento da investigação divulgado Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Em dois arquivos, porém, um dos suspeitos é descrito como membro do alto escalão da Fifa, da Conmebol e da CBF, credenciais que batem com as de Del Nero. As ações desse personagem reforçam indícios de participação do atual chefe do futebol nacional no esquema de corrupção.
Segundo a investigação, duas empresas de marketing esportivo fecharam contratos para compra dos direitos comerciais da Copa do Brasil após negociar pagamentos de R$ 2 milhões anuais de propina a um membro da CBF. Esse conspirador, que seria Ricardo Teixeira, teria lucrado ilegalmente com negociações de contratos da entidade durante a década de 90.
Em 2012, antes de o acordo ser consumado, José Maria Marin (citado nominalmente) e outro suspeito ascenderam ao poder da CBF e também teriam exigido pagamentos ilegais. Isso teria aumentado o valor da propina.
Numa conversa interceptada pela investigação, José Maria Marin chegou a negociar com José Hawilla o pagamento de propina a ele e outro membro da CBF, que seria Del Nero. Questionado se seu antecessor Ricardo Teixeira deveria seguir recebendo pagamentos ilegais, o então mandatário respondeu: "Chegou a hora de vir para nós".
Del Nero também supostamente aparece em denúncia sobre a Copa América. Ele está em lista de personagens que teriam recebido propinas referentes a um contrato com a Datisa, empresa formada em 2013 com participação da Traffic. A companhia desembolsou US$ 317,5 milhões pelos direitos comerciais das edições 2015, 2019 e 2023, além da Copa América Centenário de 2016 (US$ 75 milhões, US$ 80 milhões, US$ 85 milhões e US$ 77,5 milhões, respectivamente). O suspeito recebeu U$ 500 mil, assim como outros dez oficiais da Conmebol.
Del Nero minimiza
Até o momento, a única manifestação de Del Nero sobre o caso aconteceu em entrevista coletiva a jornalistas que estavam em Zurique na terça-feira. O dirigente brasileiro classificou o escândalo como péssimo, mas contemporizou: "Precisamos analisar tudo e saber o que aconteceu". Depois, afirmou que as suspeitas precedem o início da administração de José Maria Marin na CBF, em 2012. "Não há nenhum contrato pós", disse o atual presidente, desmentido pelas datas contidas nos documentos.
No Brasil, a CBF fez grande esforço para que as denúncias não pespegassem em Del Nero. A entidade emitiu nota na terça-feira dizendo que "aguarda, de forma responsável, a conclusão das investigações, sem qualquer julgamento que previamente condene ou inocente". O texto ainda afirma que "a nova gestão da CBF, iniciada no dia 16 de abril de 2015, reafirma seu compromisso com a verdade e a transparência".
Em contato com o UOL Esporte, o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, relatou conversa com Del Nero e disse que o presidente não manifestou preocupação sobre o caso. O atual mandatário também negou participação em contratos e em qualquer decisão da gestão de Marin.
Fifa preocupada
No entanto, existe uma preocupação na Fifa sobre a participação de Del Nero. A entidade ainda tenta entender qual foi o real papel de alguns dirigentes no esquema, e o brasileiro é parte desse processo.
Del Nero fez alterações contundentes no quadro de funcionários da CBF após ter assumido a presidência. Há suspeita na Fifa de que o brasileiro pode ter feito isso como forma de se proteger ou de diminuir danos.
A despeito de a investigação ter explodido na terça-feira, trata-se de um processo iniciado há pelo menos dois anos. O empresário J. Hawilla passou meses negociando delação à polícia dos Estados Unidos e prestou depoimento em dezembro de 2014. Portanto, ainda que as prisões tenham sido surpreendentes, dirigentes não foram exatamente surpreendidos e tiveram algum tempo para preparar terreno.
Mesmo com esse processo de blindagem, entretanto, a história debela o capital político de Del Nero. O dirigente já perdeu um de seus vices – Marin foi afastado até a conclusão do processo – e agora está em xeque: fragilizado, com enorme risco de uma investigação mais abrangente chegar a seu quintal.

Fonte: UOL

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