"Perguntar não ofende", por Eliane Cantanhêde
O Estado de São Paulo
As seguintes perguntas estarão, senão na pauta do Congresso do PT, de amanhã a sábado, em Salvador, pelo menos nas mentes das centenas de delegados petistas do Brasil inteiro que estarão lá para lavar roupa suja e tentar vislumbrar uma luz no fim do túnel para o partido, Lula e Dilma. A elas:
Por que Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento da Petrobras, foi ao Planalto se reunir com o presidente Lula dias antes da formalização do histórico mico Pasadena, a tal refinaria nos Estados Unidos?
Costa não é aquele que transformou a própria família numa quadrilha e que assumiu, entre outras coisas, ter embolsado US$ 1,5 milhão em propina justamente para não atrapalhar o negócio de Pasadena?
Conforme informaram os repórteres Fábio Fabrini e Fausto Macedo, a “reunião (de Costa) com o presidente Lula” foi registrada exatamente assim num relatório oficial da própria Petrobras, com um título bastante específico: “Viagens Pasadena”. Na outra ponta, a agenda de Lula no Planalto confirma que ele teve uma “reunião Petrobras” exatamente no mesmo dia. Se a versão oficial é de que não falaram de Pasadena, então, falaram de quê?
A presidente Dilma Rousseff, à época, era ou não era ministra da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, que aprovou a compra mais desastrada da gestão já tão desastrada da maior empresa brasileira?
Apesar de seu gabinete ser ao lado do de Lula, de presidir o conselho e de aprovar a compra de Pasadena dias depois, Dilma não participou da reunião entre Lula e Costa?!!! Se não, por que não?
Qual a pior versão para Dilma e Lula? Ela não apitava nada e foi atropelada por Lula e Costa? Ou o presidente e o diretor de Abastecimento discutiram coisas do arco da velha que não convinha dividir com a chefe da Casa Civil e presidente do conselho? Ou Costa enrolou os dois?
E o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, estava ou não presente na reunião de 31 de janeiro de 2006 entre Lula e Costa, no Planalto? Se a agenda registrava “reunião Petrobras”, o presidente da empresa não teria que, obrigatoriamente, participar? Ou será que Lula discutia a maior, mais importante e mais simbólica estatal brasileira com o diretor de Abastecimento, do segundo escalão?
Se Lula não se lembra do que foi discutido na reunião – compreensivelmente, já que foi mais de nove anos atrás –, por que diz ter tanta certeza de que o tema tratado não foi Pasadena, como reage categoricamente sua assessoria?
Preso de março a maio e de junho a setembro do ano passado, Costa conseguiu trocar as grades por uma tornozeleira depois de decidir abrir o bico, socorrendo-se com o instrumento da delação premiada. Mas os benefícios da delação premiada viram pó se ele não falar a verdade e não contar tudo, certo?
O que ainda falta para Costa fechar sua história e se livrar do pior? Será que ele vai explicar, tintim por tintim, o que foi fazer no gabinete presidencial naquele janeiro de 2006? Será que vai contar quem esteve presente? E o que foi falado, replicado, acertado?
Ah! Se não nos falhe a memória, não foi justamente em 2006 que começou o inquérito do mensalão que atingiu o coração do PT, com os ícones José Dirceu e José Genoino indo parar na cadeia?
E o que há de comum entre mensalão e petrolão? Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa? Lula também não soube, não viu, não teve nada a ver com um, assim como não teve com o outro?
Agendas são só agendas e não se pode concluir nada a partir de uma mera reunião entre Lula e Costa, mas, de toda forma, são excelentes questões para o 5.º Congresso do PT – além da crise na economia, do “Cristo ou Judas” Joaquim Levy, do aumento de 60% da conta de luz, da marcha ré até no Pronatec, da crise entre o Planalto e o Congresso e dos horizontes (nebulosos) para 2018. Um congresso e tanto.
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