Moro diz não ter cometido erros "significativos" na condução da Lava Jato
Nathan Lopes
Do UOL, em São Paulo
11h31 > Atualizada 15h55
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11h31 > Atualizada 15h55
- Marcelo Chello/CJPress/Estadão Conteúdo
O juiz federal Sergio Moro declarou, nesta segunda-feira (27), não ter cometido erros na condução dos processos da Operação Lava Jato. "Sinceramente, não me ocorre nada [um erro cometido] muito significativo, que eu faria diferente", afirmou.
Moro, que comanda os processos relacionados à Lava Jato na Justiça Federal no Paraná, participou de evento da revista "Veja" acompanhado pela reportagem do UOL.
Questionado em entrevista se a divulgação de um áudio entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a então mandatária, Dilma Rousseff (PT), em março de 2016, teria sido um equívoco de sua parte, Moro respondeu: "Não cabe ao Judiciário ser guardião de segredos sombrios".
A divulgação do áudio correu um dia antes da posse de Lula como ministro da Casa Civil de Dilma.
Após a divulgação, a posse de Lula foi suspensa pela Justiça. Sendo ministro, Lula teria foro privilegiado e as acusações contra ele sairiam das mãos de Moro e iriam para a alçada do STF (Supremo Tribunal Federal).
O magistrado afirmou que a divulgação dos áudios "foi controversa". "Não esperava tanta celeuma, mas fiz o que a lei exigia e era necessário." Para Moro, o "conteúdo deveria vir a público". "Havia um diálogo que havia interesse público na sua divulgação."
Não eram conversas exatamente republicanas. O problema não foi tanto a divulgação, mas os diálogos
Sergio Moro, juiz federal
No entanto, com repercussão negativa, Moro chegou a admitir, à época, que a divulgação poderia ser considerada como um erro. O juiz afirmou que não havia percebido que a ligação de Dilma para Lula foi gravada após o horário definido por ele para as interceptações.
O ministro do STF Teori Zavascki, que morreu vítima de um acidente de avião em janeiro deste ano, à época também se manifestou contrariamente à ação de Moro e determinou que a prova fosse anulada. Ele entendeu que a interceptação não foi legal.
A defesa do ex-presidente, que criticou a divulgação dos áudios, diz que Moro é um juiz parcial e que o julgamento pelo qual seu cliente passa é político.
Em julho, Moro condenou o ex-presidente Lula a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do tríplex. Moro ainda tem, sob sua alçada, dois outros processos em que Lula é réu.
No evento de hoje, uma pergunta da plateia questionou Moro sobre "quando Lula seria preso", o que gerou aplausos de alguns espectadores.
Moro, porém, não comentou a respeito, mas relembrou a sentença do processo do tríplex. "Não me sinto confortável em falar sobre o caso dele, que já julguei. Tudo que eu queria dizer sobre aquele caso está na sentença. O juiz tem que estar unicamente preocupado com a lei."
Perguntado sobre o fato de ter voltado atrás na recusa de andar com segurança após ter determinado a condução coercitiva do ex-presidente Lula, Moro disse que fez depois de ter ataques inclusive contra sua família.
"Não esperava alguns ataques sujos por conta desses processos que envolvem políticos. Existe tentativa de diversionismo. Ao invés de discutirem minhas responsabilidades, atacam os responsáveis pelo processo", disse.
"Não vou ficar me incomodando com mentiras", afirmou.
O magistrado ainda pede que o combate à corrupção seja um dos temas da campanha política do ano que vem.
"A agenda de enfrentamento da corrupção é relevante e deve dominar os debates", disse Moro, que enxerga no pleito presidencial uma oportunidade de mudança para o país.
"O que se verifica é quase uma completa omissão das lideranças políticas [no combate à corrupção]. O que pode levar a retrocessos é nós não irmos adiante".
Moro negou, mais uma vez, que tenha o desejo de disputar a eleição do ano que vem porque isso colocaria em dúvida o trabalho que fez até agora. "No momento, não seria apropriado da minha parte", disse Moro.
"Acho que, no fundo, a política é uma das profissões mais nobres. É uma responsabilidade muito grande e também uma honra muito grande. Até um magistrado pode ser um bom político, um bom presidente", complementou.
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