PF conclui que Bolsonaro cometeu crime ao divulgar inquérito sobre ataque hacker ao TSE
FEBRUARY 02, 2022A delegada da Polícia Federal (PF), Denisse Ribeiro, enviou ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a conclusão do inquérito sobre a divulgação de uma investigação sobre um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No relatório encaminhado na tarde desta segunda-feira (31), Denisse reafirma ter visto crime na atuação de Jair Bolsonaro, do deputado Filipe Barros (PSL-PR) e do ajudante de ordens presidencial Mauro Cid no caso e diz que a ausência do presidente no depoimento na última sexta (28) não trouxe prejuízo aos esclarecimentos dos fatos.
A delegada afirma também que Bolsonaro e Filipe Barros (PSL-PR) participaram do crime de violação de sigilo funcional, mas não chegou a indiciá-los porque ambos possuem foro privilegiado.
Na semana passada, Bolsonaro faltou à oitiva que havia sido marcada por Moraes. A AGU (Advocacia-Geral da União) chegou a entrar com um recurso para desobrigá-lo a comparecer, o que foi negado minutos depois pelo ministro.
Em uma declaração que enviou à PF na própria sexta-feira, Bolsonaro alegou que exerceu seu “direito de ausência” e disse que sua posição encontra respaldo em decisão do STF.
Com esse documento da PF, o imbróglio envolvendo o depoimento de Bolsonaro deve chegar ao fim. Moraes deve enviar a conclusão da delegada para a Procuradoria-Geral da União (PGR) se manifestar e, depois, tomar uma decisão a respeito —se abre ou não uma ação penal contra o presidente. Não há prazo para término dessas próximas fases.
O inquérito em questão apurava a divulgação de uma investigação aberta em 2018 sobre um ataque hacker no sistema do TSE. Os documentos do caso foram usados em uma live realizada pelo presidente no dia 4 de agosto do ano passado.
O material foi mostrado ao vivo por Bolsonaro para embasar o discurso de que há vulnerabilidade nas urnas eletrônicas e que as eleições de 2018 teriam sido fraudadas.
O deputado, o ajudante de ordens e seu irmão, Daniel Cid, um assessor da comissão que analisa da PEC do voto impresso na Câmara e o delegado responsável pelo inquérito divulgado foram ouvidos pela PF.
“As oitivas das pessoas envolvidas indicam entretanto que o inquérito obtido foi utilizado com desvio da finalidade anunciada ao presidente do feito, sendo repassado a outros funcionários públicos (presidente da república e assessor especial Mauro Cid) para ser amplamente divulgado como lastro para ilações lançadas durante a chamada live presidencial”, diz o relatório.
Na conclusão, a delegada da PF diz que a divulgação do inquérito se deu com “o nítido desvio de finalidade e com o propósito de utilizá-lo como lastro para difusão de informações sabidamente falsas, com repercussões danosas para a administração pública”.
O próprio delegado do caso divulgado por Bolsonaro disse em seu depoimento que a investigação conduzida por ele não identificou manipulação dos votos ou ataque à integridade das urnas.
No relatório final, a delegada também rebate a tese levantada pela defesa de Bolsonaro de que o inquérito não estava em sigilo e, portanto, não haveria ocorrido o vazamento. Ela argumenta que “o inquérito policial, ao contrário do processo judicial, possui como regra o sigilo, conforme doutrina majoritária, posicionamento dos tribunais (inclusive súmula 14 do STF) e diante do artigo 20 do Código de Processo Penal”.
Ao concluir o relatório, Denisse faz duas solicitações a Moraes. Uma delas é o compartilhamento do caso com a investigação das supostas “milícias digitais”.
O entendimento da investigadora é que o vazamento e o uso do conteúdo para disseminar desinformação é mais um evento que envolve a “organização criminosa” investigada no inquérito, que também é relatado por Moraes.
A delegada também pede que a quebra de sigilo telemático do ajudante de ordens do presidente seja compartilhada com o inquérito que apura uma live em que Bolsonaro associou a vacina contra Covid ao desenvolvimento da Aids.
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