Parasitas - Guerra Junqueiro
No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.
Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.
E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,
Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.
Abílio Manuel de Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta, Portugal 15 de setembro de 1850 - Lisboa, 7 de julho de 1923) - Considerado um dos poetas mais importantes do século XIX, foi bastante popular em Portugal em sua época, sendo, um representante da chamada 'Escola Nova'. Era um poeta panfletário, sendo inclusive, um dos responsáveis a criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República. Também se dedicou à prosa, jornalismo e política.
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