segunda-feira, 17 de abril de 2017

O maior ícone marxista detona o PT e a esquerda latina, de Clóvis Rossi

O maior ícone marxista detona o PT e a esquerda latina

Clóvis Rossi

23.nov.1996/Folhapress
O linguista norte-americano Noam Chomsky durante conferência na F.A.U.-U.S.P. [FSP-Ilustrada-23.11.96-Ed.Nacional]
O linguista norte-americano Noam Chomsky em conferência na USP em 1996
17/04/2017  11h01

Os governos de esquerda que se disseminaram pela América Latina, Brasil inclusive, fracassaram. No caso do Brasil (e também da Venezuela), o fracasso não é apenas das políticas adotadas mas também do ponto de vista ético.
Não, não é a análise de algum direitista empedernido mas de ninguém menos que o maior ícone do marxismo, talvez o último marxista relevante ainda existente no planeta, depois que o colapso da União Soviética sepultou todos os demais sob os escombros do Muro de Berlim.
Chama-se Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político, que completará 90 anos em 2018.
Eis o que disse Chomsky em entrevista para "Democracy Now", programa diário de "notícias independentes", como se pode ler no seu sítio na internet:
Depois de reconhecer que houve conquistas, ressalva que "os governos de esquerda fracassaram em usar a oportunidade disponível para tentar criar economias sustentáveis e viáveis. Quase todos –Venezuela, Brasil, outros, Argentina– dependeram da alta de preços das commodities, que é um fenômeno temporário. O preço das commodities de fato subiu, principalmente por causa do crescimento da China. Por isso houve aumento no preço do petróleo, da soja e assim por diante".
Prossegue: "Em vez de tentar desenvolver uma economia sustentável com manufaturas, agricultura etc, eles simplesmente apoiaram-se nas commodities –matéria prima que podiam exportar".
Neste ponto, Chomsky enfia o dedo na ferida com mais força:
"Isso [a dependência das commodities] é muito daninho, é um modelo daninho de desenvolvimento, porque, quando você exporta grãos para a China, digamos, eles exportam bens manufaturados para você, o que mina suas indústrias manufatureiras".
A análise de Chomsky está longe de ser uma novidade. Uma penca de analistas cansou de fazer a mesma avaliação sobre os governos de Lula e Dilma, para ficar só no caso do Brasil.
O que há de novo é que alguém de esquerda enfim abre os olhos e diz o rei está nu, coisa que nenhum intelectual de esquerda o fez até agora no Brasil.
Apenas frei Betto apontou, mais de uma vez, o fato de que os governos do PT reproduziram políticas de governos anteriores e não introduziram reformas estruturais (se me escapou algum outro analista de esquerda que tenha feito análises parecidas, me avise, leitor).
Mas Chomsky não se limita à crítica no campo da economia, Ataca também a corrupção, nos seguintes termos:
"Como se não bastasse [o modelo daninho de desenvolvimento], houve enorme corrupção. É simplesmente doloroso ver que o Partido dos Trabalhadores no Brasil –que implantou medidas significativas– simplesmente não pôde manter as mãos fora da caixa registradora. Juntaram-se à elite extremamente corrupta, que está roubando o tempo todo, tomou parte [no esquema] e desacreditou-se".
Ao contrário da esquerda brasileira, que continua endeusando Lula como se fosse o único político honesto na face da Terra, Chomsky preconiza a escolha de novas lideranças.
Pede "forças mais honestas que, primeiro de tudo, reconheçam a necessidade de desenvolver a economia de uma maneira que tenha um alicerce mais sólido, não apenas baseado na exportação de matérias primas, e, em segundo lugar, sejam honestas o suficiente para desenvolver programas decentes sem roubar o público ao mesmo tempo".
Quando é que a intelectualidade que se acha de esquerda vai ter a decência básica de dizer o que seu ícone maior está dizendo agora? Até um cardeal petista já admitiu que seu partido "lambuzou-se" (pena que ele próprio esteja na lista dos suspeitos de se ter lambuzado).
Não adianta nada elaborar manifestos com projetos para o país se não se disser que, com a corrupção que corroeu o principal partido da esquerda, não há desenvolvimento possível e, portanto, são necessárias "forças mais honestas".
Ed Betz - 20.set.2006/Associated Press
Hugo Chavez. President of Venezuela, holds up a book by Noam Chomsky as he addresses the 61st session of the U.N. General Assembly at UN headquarters, Wednesday, Sept. 20, 2006
Então líder da Venezuela, Hugo Chávez exibe livro de Chomsky na assembleia-geral da ONU em 2006
Por fim, a Venezuela, sobre a qual a esquerda toda silencia: Chomsky não hesita em descobrir o óbvio, ou seja que está em "situação realmente desastrosa".
Além da economia continuar dependente do petróleo, "certamente mais do que no passado", há "a corrupção, a roubalheira, que tem sido extrema, sob e especialmente depois da morte de Chávez".
Termina dizendo que as promessas dos primeiros dias do chavismo "têm sido significativamente perdidas".
Até quando a esquerda brasileira vai continuar sócia do imenso fracasso que é o socialismo do século 21 e da promiscuidade com uma empreiteira que confessou, de público, um lote impressionante de maracutaias? 

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