TÓQUIO - O presidente Michel Temer afirmou a líderes empresariais do Japão na manhã desta quarta-feira, 19 (horário local), que o Brasil vive um momento de estabilidade institucional e a segurança jurídica - um discurso talhado para tentar atrair mais investimentos japoneses no País. O encontro aconteceu em Tóquio e foi o segundo compromisso oficial do dia, após um encontro bilateral com o imperador Akihito, que o recebeu na residência imperial. Depois disso, o presidente se reuniu com o primeiro-ministro do País, Shinzo Abe. "Nós apoiamos a política econômica promovida pelo seu governo", afirmou o chanceler.
O encontro entre Temer e Abe, também líder do Partido Liberal-Democrata (PLD, direita conservadora japonesa), era o mais importante da agenda oficial da viagem do presidente brasileiro ao Japão. Foi a primeira vez que um chefe de Estado do Brasil realizou uma visita oficial a Tóquio em 11 anos, e a oportunidade foi encarada pelos dois lados como uma chance de apagar a má impressão diplomática deixada pelas duas viagens canceladas de última hora pela ex-presidente Dilma Rousseff, em 2013 e 2015.
Demonstrando grande abertura ao novo presidente, Abe abriu a reunião bilateral com a presença de ministros dos dois países afirmando a Temer: "Nós apoiamos a política econômica promovida pelo seu governo".
Cerca de uma hora depois, em uma declaração à imprensa, o primeiro-ministro repetiu a avaliação, que pode ser considerada inusual em termos de diplomacia, já que de praxe os governos evitam avaliações sobre temas internos de países parceiros. "O Japão apoia a política de reformas regulatórias, a criação de novas infraestruturas e o fortalecimento de oportunidades que o presidente Temer está adotando", disse o premiê japonês.
Segundo Abe, "para as empresas japonesas o Brasil significa oportunidades". "Nessa ocasião firmamos um acordo para uma agenda na área de infraestrutura", informou, referindo-se ao "Memorando de cooperação para promoção de investimentos e cooperação econômica no setor de infraestrutura", assinado por ambos os lados. "Pretendemos que essa relação econômica se fortaleça ainda mais", reiterou.
Temer disse ter identificado entre os empresários japoneses "um forte interesse em vários projetos do nosso Programa de Parcerias de Investimentos (PPI)", que inclui 34 projetos de privatizações ou de concessões de infraestrutura em transportes e energia. "Estamos consolidando no Brasil um ambiente de segurança jurídica e de previsibilidade regulatória", argumentou. "São quase 700 empresas japonesas operando no Brasil. Nós queremos que os investimentos japoneses continuem a trazer aportes para o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro."
Negócios. A reunião com empresários aconteceu na sede da Keidaren, uma espécie de Confederação Nacional da Indústria (CNI) local. Temer foi recebido pelo diretor da entidade, Sadayuki Sakibara, e por dezenas de dirigentes corporativos. Do encontro também participaram ministros e empresários brasileiros que integram a delegação. Estão em Tóquio os ministros das Minas e Energia, Fernando Bezerra, e de Esportes, Leonardo Picciani, de Transportes, Maurício Quintela, de Agricultura, Blairo Maggi, e o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco.
Além deles, participaram do encontro dirigentes de empresas como a Vale, Murilo Ferreira, e de entidades empresariais como a CNI, Robson Braga de Andrade.
Em seu discurso, Sakibara lembrou que a organização dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, evento sucederá Rio 2016, reforça os vínculos históricos entre os dois países. "Ainda existe um grande potencial para uma maior colaboração entre o Brasil e o Japão", afirmou. O dirigente lembrou que fevereiro deste ano foi assinado o Tratado Transpacífico, que estabelece uma área de livre-comércio entre a Ásia e a América, vendo um potencial também para a economia brasileira em caso de mais abertura ao comércio exterior. "O Japão deseja que o Brasil possa preparar um ambiente de comércio e investimento mais aberto."
Sakibara pediu a melhoria da infraestrutura e uma reforma tributária que facilite o acesso ao mercado brasileiro. "Sobretudo no Programa de Parcerias em Investimento (PPI), existe uma grande expectativa de colaboração entre os dois países", reiterou o dirigente. "O potencial de seu país é de extrema grandeza, com rico potencial natural, humano e tecnológico." Sakibara disse ter certeza de que Temer saberá colocar o Brasil no trilho do crescimento. "Nós vamos contribuir para o desenvolvimento de ambos os países."
Um dos principais objetivos do governo brasileiro em Tóquio é atrair investimentos ao Brasil, em especial ao programa de 34 concessões e privatizações previstas pelo governo em áreas como portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e energia. Em seu pronunciamento, Temer enfatizou a estabilidade e o ambiente de negócios no País. "Uma parte fundamental de nossa viagem é aquela que faz o encontro do empresariado brasileiro com o japonês. Porque isso significa desenvolvimento e crescimento para ambas as partes", afirmou.
Temer definiu o Brasil como "um grande centro de oportunidades" pronto para receber mais investimentos. "Ser simplesmente grande não basta. É preciso ser grande com estabilidade institucional e segurança jurídica. É precisamente o que nós estamos vivendo de dois meses para cá", afirmou, em referência indireta ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Temer destacou ainda o "ambiente previsível, seguro e racional" dos negócios que teria se estabelecido no País desde então.
Dilma Rousseff. Ainda em seu pronunciamento, o presidente voltou a desferir críticas indiretas à gestão de Dilma Rousseff, que teria exigido do novo governo um "recomeço" para o Brasil. "O Japão tem longa história de envolvimento com o nosso País. E nós estamos aqui para revelar a presença de um novo Brasil. Nós até usamos a expressão 'recomeço', porque é o que exige a situação em que encontramos o governo", disse.
Outro ponto de interesse brasileiro, segundo Temer, é ampliar o comércio entre o Japão e o Brasil, que vem em trajetória descendente nos últimos seis anos, com exportações e importações em queda. Em 2011, as exportações brasileiras chegavam a R$ 9,5 bilhões, e as importações a R$ 7,9 bilhões. Em 2015, as trocas se limitaram a R$ 4,8 bilhões em exportações brasileiras, e a R$ 4,9 bilhões em importações.
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