Pressão para
Trump obter acordo com Kim aumenta após fracasso no G-7
Presidente americano e líder
norte-coreano chegam a Cingapura para discutir desnuclearização da península e
levantamento das sanções internacionais a Pyongyang
Cláudia Trevisan, CORRESPONDENTE
/ WASHINGTON, O Estado de S.Paulo
11 Junho 2018 | 05h00
O fiasco da atuação dos Estados Unidos na
cúpula do G-7 e o isolamento de Donald Trump entre seus aliados devem favorecer Kim Jong-un
na histórica cúpula prevista para
terça-feira, 12, entre o presidente americano e o ditador
norte-coreano, avaliaram especialistas em Relações Internacionais. Segundo
eles, o ocupante da Casa Branca não gostará de ter dois fracassos na sequência
e estará disposto a ceder na negociação com Kim para apresentar uma narrativa
de sucesso.
O presidente Donald Trump acena
em sua chegada à base aérea de Paya Lebar, em CIngapura, para o encontro
com o lídero norte-coreano Kim Jong-Un Foto: AFP PHOTO / SAUL LOEB
Trump e Kim chegaram a Cingapura no domingo, 10, para um encontro sem precedentes
entre os líderes dos dois países que se enfrentaram na Guerra da Coreia
(1950-1953). Os dois estarão frente a frente às 9 horas de terça-feira,
12 (22 horas de segunda-feira, 11, no horário de Brasília) para dar
início a conversas sobre o arsenal nuclear da Coreia do Norte.
No sábado, 9, o presidente americano
reduziu suas expectativas em relação à cúpula e disse que haverá sucesso se ele
e Kim decidirem continuar as conversas. Em declarações anteriores, Trump havia
manifestado a intenção de sair do encontro com a garantia de desnuclearização
da Coreia do Norte. “Será um
processo”, reconheceu.
Presidente
do Council on Foreign Relations, Richard Haas avaliou que o desastre do G-7
joga a favor de Kim. No Twitter, ele disse que Trump vai evitar um novo
fracasso em Cingapura, para não ser visto como o problema. “Isso aumenta o
incentivo para Kim elevar suas demandas e limitar seus compromissos e para
Trump fazer o oposto”, observou.
A
mesma avaliação foi feita em entrevista à CNN por Anthony Blinken, número dois
do Departamento de Estado durante o governo Barack Obama. No sábado, 9, em
uma decisão surpreendente e de última hora, Trump anunciou durante seu voo para
Cingapura que os EUA não assinariam a declaração final do encontro do G-7, que
reúne tradicionais aliados de Washington: Canadá, França, Reino Unido,
Alemanha, Itália e Japão.
Em
seguida, partiu para um ataque pessoal ao primeiro-ministro canadense, Justin
Trudeau, anfitrião da cúpula. A ofensiva continuou no domingo, 10, em
entrevistas de dois de seus principais assessores, em um tom que alarmou
analistas.
O líder da Coreia do Norte, Kim
Jong-un, chegou neste domingo, 10, a Cingapura, dois dias antes
da histórica cúpula prevista para terça-feira, 12, com o presidente
dos Estados Unidos, Donald Trump, na cidade-estado do sudeste
asiático. Foto: MINISTRY OF COMMUNICATIONS AND INFORMATION/via REUTERS
A
razão da agressividade foi o fato de Trudeau ter classificado como “insulto” as
tarifas sobre aço e alumínio impostas pelos EUA, sob o argumento de que elas
são necessárias para proteger a segurança nacional. As barreiras estiveram na
origem da tensão que marcou a cúpula dos sete aliados.
O
diretor do Conselho Nacional Econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, comparou
as declarações a uma “facada nas costas” e as vinculou à cúpula em Cingapura
durante entrevista à CNN. “Ele não pode colocar Trump em uma posição de
fraqueza quando o presidente está indo para as conversas com a Coreia do Norte.
E, a propósito, Trump não é fraco.”
Peter
Navarro, conselheiro comercial da Casa Branca, foi mais longe em entrevista à
Fox News. “Há um lugar especial no inferno para qualquer líder estrangeiro que
se engaja em diplomacia de má-fé com o presidente Donald J. Trump e depois
tenta esfaqueá-lo nas costas na saída”, afirmou, referindo-se a Trudeau.
O
presidente americano deixou a cúpula do G-7 quatro horas antes do seu
encerramento e as declarações do primeiro-ministro canadense foram dadas em
entrevista coletiva na conclusão do encontro.
“Esses
são os comentários mais hostis que uma autoridade dos EUA já fez sobre um
aliado americano. Isso é mais duro do que a maneira com que presidentes dos EUA
falam sobre líderes como Saddam Hussein e Bashar Assad antes de nós os
bombardearmos”, escreveu Max Boot, colunista do Washington Post especialista em
Relações Internacionais.
Antes
de Trump, outros presidentes americanos tentaram convencer a Coreia do Norte a
abrir mão de seu programa nuclear, sem sucesso. Em janeiro, Kim disse em sua
mensagem de Ano Novo que havia conseguido seu objetivo de construir um arsenal
capaz de infligir dano a seus adversários, tarefa à qual dedicou os primeiros
seis anos de seu governo.
Segundo Kim, sua meta agora é o desenvolvimento
econômico. Para implementá-la, ele precisa do alívio das sanções internacionais
impostas sob a liderança dos EUA. Em troca, os americanos exigem a total
desnuclearização do país, mas pouco analistas acreditam que Kim abandonará seu
arsenal.
Esperança e indiferença na fronteira entre as Coreias
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