Cardozo cobra PF sobre pedido de R$ 172 mil a Moro
06/01/2016, 20h09
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Ministro diz que 'quer entender' por que corporação no Paraná solicitou quantia a juiz da Lava Jato para pagar contas, mas depois devolveu R$ 3 milhões do orçamento
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, cobrou nesta quarta-feira, 6, esclarecimentos sobre os motivos que levaram a superintendência da Polícia Federal no Paraná a solicitar ao juiz Sérgio Moro a liberação de R$ 172 mil para pagar contas se a corporação devolveu R$ 3 milhões do orçamento, no fim de 2015. Cardozo pediu explicações ao diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello.
“Se devolveram R$ 3 milhões e pediram para usar uma outra sobra, não é porque estava faltando dinheiro. Ou então há um problema de gestão. Eu quero entender o que está acontecendo”, disse Cardozo ao Estado. “Agora, não me venham dizer que não havia dinheiro para pagar a conta de luz e nem que a Polícia Federal está sendo sucateada.”
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Irritado com críticas de delegados federais, que reclamaram da previsão de corte de R$ 133 milhões no orçamento da categoria, Cardozo disse já ter assegurado, desde o fim do ano passado, que tudo será recomposto com remanejamento de verbas. “Ninguém vai parar a Polícia Federal por causa de R$ 100 milhões ou um pouco mais”, comentou o ministro. “Agora, é preciso entender que a Polícia Federal não é uma ilha, assim como o Ministério da Justiça também não é. Precisamos conviver com a realidade orçamentária que temos.”
Na terça-feira, delegados ouvidos pelo Estado disseram acreditar que a Polícia Federal é alvo de retaliação dos políticos por causa da Operação Lava Jato, que, ao investigar um esquema de corrupção na Petrobrás, alvejou empresários, deputados e senadores, incluindo pesos-pesados do PT.
“Chega a ser um absurdo isso. Retaliação do quê?”, perguntou Cardozo. “É só olhar o que temos tirado do orçamento de outras unidades do Ministério da Justiça, para dar à Polícia Federal, e perguntar se isso é retaliação.”
A polêmica relativa ao dinheiro devolvido pela Superintendência da Polícia Federal no Paraná, responsável pela Lava Jato, começou em março de 2014, uma semana antes do início daquelas investigações. Na época, a PF pediu ao juiz Moro autorização para usar R$ 1 milhão apreendido em outra operação. Com a verba liberada, a corporação comprou equipamentos para circuito interno de câmeras. Segundo dados obtidos no Ministério da Justiça, sobraram R$ 172 mil.
A PF no Paraná solicitou então a Moro a liberação dessa sobra para o pagamento de despesas de custeio, no ano passado, como luz, água, telefone e gasolina. O Ministério da Justiça observou, porém, que dos R$ 21,9 milhões disponíveis para esses gastos, a Superintendência no Paraná — a segunda no País a receber mais recursos, só perdendo para a de São Paulo – usou apenas R$ 18,9 milhões. No fim do ano passado, devolveu R$ 3 milhões.
“Tinha esse dinheiro disponível e a Superintendência no Paraná devolveu para a direção da PF poder gastar em outras coisas. Então qual é a lógica? Por que fizeram isso? É curioso que, no momento em que se discute um acordo salarial com a categoria, apareça essa crítica de sucateamento da Polícia Federal”, argumentou Cardozo.
Munido de gráficos e tabelas com a evolução do orçamento e dos salários dos delegados federais — que começam em R$ 16.830,85 e vão a R$ 22.805,00 –, o titular da Justiça afirmou que cortou cargos de confiança de todas as unidades do Ministério, mas não mexeu na Polícia Federal nem na Polícia Rodoviária Federal. “Os outros estão pagando ônus maior porque acho fundamental fortalecer as polícias por causa da realidade da segurança pública. Fiquei espantado ao ver as críticas de entidades sindicais de que há sucateamento da Polícia Federal”, reagiu o ministro.
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