A carne é vermelha! Ou: Por que tanto sigilo com a JBS?
O BNDES adotou a política de seleção dos “campeões nacionais” durante a gestão de Luciano Coutinho, o mesmo que, na década de 1980, aplaudia a Lei da Informática. Os dois maiores beneficiados por tal visão nacionalista foram Eike Batista e o grupo JBS, cujos controladores são os irmãos Wesley e Joesley Batista.
Por isso brincam que é preciso ter Batista no sobrenome para conseguir bilhões de empréstimo a 4% ao ano, taxa nominal (ou seja, abaixo da inflação). Ambos receberam bilhões e bilhões subsidiados do governo, e até aporte de capital para sociedade direta.
O BNDESPar e a Caixa Econômica possuem, juntos, mais de um terço do capital votante da JBS. Além disso, o BNDES emprestou bilhões para a empresa, que saiu de um faturamento de poucos bilhões anos atrás para um conglomerado que fatura dezenas de bilhões hoje e possui ativos de quase R$ 80 bilhões.
Todos conhecem a empresa por meio de seu garoto-propaganda, o ator Tony Ramos, e sua marca mais famosa, a Friboi. Mas por trás dos panos há grande sigilo nesses empréstimos. O Tribunal de Contas da União (TCU) está, por isso mesmo, cobrando mais transparência, mas o presidente do BNDES resiste, e diz que isso seria quebra de sigilo bancário.
O relator do processo, ministro José Jorge, discorda: “Os recursos aplicados são públicos, a empresa aplicadora é pública, e a política orientadora é pública”. O BNDES talvez vá ao Supremo Tribunal Federal tentar se esquivar da cobrança do TCU. Por que esse sigilo todo? Resta saber o motivo disso. Por que tanto mistério ronda a empresa?
Tudo fica mais bizarro quando lembramos que a JBS foi simplesmente a maior doadora de campanha para o PT e seus aliados, tendo distribuído quase R$ 200 milhões para vários candidatos da coligação. O quid pro quo salta aos olhos, não? É o retrato de nosso “capitalismo de laços” ou de compadres, em que o “amigo do rei” acaba se dando bem. As ações, à contramão do restante do mercado, espelham o relativo sucesso dos camaradas do poder:
Após tanta proximidade com o governo e tanta regalia, bem recompensada na montanha de recursos doada para as campanhas, circulam pelas redes sociais rumores de que Lulinha seria sócio oculto da empresa.
O filho do ex-presidente Lula saiu de monitor de zoológico para empresário milionário do ramo de tecnologia da noite para o dia, quando a Oi comprou sua empresa Gamecorp por R$ 5 milhões. Pouco depois o governo mudou a Lei Geral de Telecomunicações para que a mesma Oi pudesse comprar a Brasil Telecom. São muitas coincidências!
Se os boatos são verdadeiros, eu não sei. Só sei que tudo é muito suspeito quando se trata dessa simbiose absurda entre grandes empresas e governo. Ainda mais com esse manto todo de sigilo cobrindo dados importantes da empresa e sua ligação com o BNDES. O TCU está mais do que certo em cobrar mais transparência. E a reação do BNDES torna tudo mais suspeito ainda.
A carne é mesmo vermelha. Rubro, escarlate, da cor do PT. E pode ser que esteja podre ainda por cima…
Rodrigo Constantino
Fonte: VEJA - Rodrigo Constantino
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