terça-feira, 26 de maio de 2015

Cesar Benjamin: Lula e Dirceu comandavam esquema em Santo André que resultou no assassinato de Celso Daniel

26/05/2015
 às 10:40 \ BrasilCultura

Cesar Benjamin: Lula e Dirceu comandavam esquema em Santo André que resultou no assassinato de Celso Daniel

cesar-benjamin-lula-motagem-fotorO sociólogo e editor Cesar Benjamin foi militante do PT de 1980 a 1995.
Foi ele que revelou na Folha, em 2009, o caso do “menino do MEP”, o preso que Lula se gabou de ter tentado subjugar sexualmente nos 30 dias em que ficara detido e “que frustrara a investida com cotoveladas e socos”.
Cesar Benjamin conhece bem as violações lulopetistas.
Em 2005, durante o escândalo do mensalão, ele já denunciava ao Estadão que “tinha havido uma série de financiamentos que desconhecíamos”, “de bancos e empreiteiras, para a campanha do Lula” de 1994(!) e que o processo de corrupção “talvez tenha começado antes”.
“Quando vejo essa situação atual, tenho consciência de que não começou agora e é a expressão de uma prática continuada e sistêmica, que foi introduzida através do Lula e do Zé Dirceu”.
Naquele ano, quase uma década antes de explodir o petrolão, Benjamin também disse à Época:
“Isso foi vivido como ascensão social para um grande número de quadros, de lideranças do PT, que mudaram individualmente de classe social. Passaram a ter um nível de vida que não tinham e viveram isso muito alegremente.”
Questionado se este processo gerou o cadáver de Celso Daniel, prefeito de Santo André assassinado em 2002, o ex-militante petista respondeu:
“Eu não acho, tenho certeza. E houve muitos cadáveres morais. Este foi o físico.”
Não só este, diga-se. Sete outras pessoas ligadas ao caso morreram, inclusive o legista que atestara que o prefeito fora barbaramente torturado antes de ser assassinado.
Agora, Cesar Benjamin voltou a tratar do assunto no Facebook, por ocasião da morte no domingo (24) de um dos fundadores do PT.
Reproduzo seu post na íntegra, grifando os trechos sobre Lula e Dirceu:
Captura de Tela 2015-05-26 às 10.31.56“Acabo de saber da morte de Antônio Neiva. Muito teria a dizer sobre ele: seu companheirismo, seu humor, sua lealdade, sua honestidade. Velho militante da época da ditadura, permaneceu no PT até o fim. Escolho apenas um momento das nossas vidas.
Eu era da direção do PT quando percebi que o processo de corrupção se alastrava no partido. Tentei debater isso na direção, sem sucesso, pois àquela altura todos já temiam os dois comandantes da desagregação, Lula e José Dirceu.
Restou-me levar a questão ao Encontro Nacional do PT realizado em 1995 em Guarapari, no Espírito Santo. Fui à tribuna, que ficava numa quina do grande salão, de onde era possível ver, simultaneamente, o plenário e a mesa.
Logo depois de começar meu pronunciamento, vi José Dirceu se levantar, se colocar de frente para o plenário, de lado para mim, e fazer sinais na direção de um grupo que – depois eu soube – era a delegação de Santo André.
Pelo tom da minha fala, Dirceu achou que eu trataria do esquema de corrupção nesse município, que ele e Lula comandavam e que resultaria depois no assassinato de Celso Daniel.
Ele estava enganado. Eu não falaria disso, simplesmente porque desconhecia esse esquema. Minha crítica era à perda geral de referência ética e moral no partido, que nessa fala eu denominei de ‘ovo da serpente’.
Mobilizados por Dirceu, os bandidos de Santo André saltaram sobre mim, para interromper meu pronunciamento na base da porrada.
Foi Antônio Neiva quem se interpôs entre mim e eles, distribuindo safanões e impedindo a continuidade do massacre. Foi minha última participação no PT, que agora agoniza, engolido pela serpente que cultivou.
Descanse em paz Antônio Neiva, irmão, homem honrado.
Cesar Benjamin.”
Uma comentarista do post escreveu:
Captura de Tela 2015-05-26 às 10.32.12
Na verdade, eu achei que o espaço ainda era público, público de menos, e resolvi dar uma mãozinha para que se tornasse público, público demais.
O motivo é simples: os bandidos de Santo André também saltaram sobre o Brasil.
Felipe Moura Brasil ⎯ http://www.veja.com/felipemourabrasil

César Benjamin

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
César de Queiroz Benjamin (Rio de Janeiro5 de maio de 1954) é um cientista políticojornalistaeditor e político brasileiro. Durante a Ditadura Militar Brasileira, participou da luta armada contra o regime, foi perseguido e exilado. Co-fundador do Partido dos Trabalhadores, foi também filiado ao PSOL, tendo se desligado dos dois partidos. Atualmente, César Benjamin é o editor da Contraponto Editora1 e colunista da Folha de São Paulo.
É irmão do também jornalista e ex-deputado Cid Benjamin.

Trajetória política

Militante do movimento estudantil secundarista em 1968, passa à clandestinidade depois da decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro desse ano. Junta-se, então, à luta armada contra o regime militar, ligando-se ao MR-8. Preso em meados de 1971, aos 17 anos, sofre tortura em interrogatórios.2 Em consequência, sofreu perda unilateral da audição. É expulso do país no final de 1976, exilando-se na Suécia.
César Benjamin voltou ao Brasil em 1978. Com a Lei da Anistia, pôde retomar a atividade política, sendo um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores.
Coordena a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 1989, quando Lula é derrotado por Fernando Collor.
Em 1995, César Benjamin deixa o PT por divergências de opinião, que já se vinham avolumando desde 1989. No final dos anos 1990, funda a Editora Contraponto
Em 2004, filia-se ao recém criado Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) - constituído por dissidentes do Partido dos Trabalhadores -, pelo qual será candidato a vice-presidente da República nas eleições de 2006, na chapa da senadora Heloisa Helena.3 Ainda no fim de 2006, em desacordo com decisões internas do partido, desfilia-se do PSOL.

Caso "Menino do MEP"

Em 2009, César Benjamin descreveu em sua coluna na Folha um episódio em que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que teria tentado violar um companheiro de cela no período em que esteve preso.4 Segundo ele, Lula explicou que, quando foi preso, nos anos 70, havia um jovem em sua cela, conhecido como "menino do MEP", que resistiu violentamente às suas investidas.5 Segundo a Folha e a revista Veja, o "menino" seria João Batista dos Santos, e a sigla MEP é uma referência ao Movimento de Emancipação do Proletariado.5
O chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, respondeu, qualificando o artigo de Benjamin como ato de um "psicopata".5 Para Silvio Tendler, que presenciou a conversa entre Benjamin e Lula, tudo não passou de uma piada.6

28/11 - Quem é o "Menininho" que deixou Lula, triste e abatido ?
Pela editoria do site www.averdadesufocada.com
  Quem é Cesar Benjamin ou melhor César de Queiroz Benjamin que, em 27/11/2009, com seu artigo " Os filhos do Brasil", publicado na  Folha de São Paulo, deixou Lula triste e abatido, seus assessores enlouquecidos , jornais e  Internet em polvorosa e o Brasil escandalizado?
A biografia  de César Benjamin, como ele assina seus artigos é resumida mais ou menos nesses termos:
César Benjamin, 55anos , militou no movimento estudantil secundarista em 1968 e passou para a clandestinidade depois da decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro desse ano, juntando-se à resistência armada ao regime militar. Foi preso, por suas opiniões políticas, em meados de 1971, com 17 anos quando alfabetizava camponeses no interior da Bahia. No final de1976 foi expulso do país.
 Retornou com a Anistia. Ajudou a fundar o PT, do qual se desfiliou em 1995. Em 2006 foi candidato a vice-presidente na chapa liderada pela senadora Heloísa Helena, do PSOL, do qual também se desfiliou. Trabalhou na Fundação Getulio Vargas, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Prefeitura do Rio de Janeiro e na Editora Nova Fronteira. É editor da Editora Contraponto e colunista da Folha.

Quem lê sua biografia imagina um jovem estudante que militava  no movimento estudantil  e que as armas que  usava eram lápis e papel para alfabetizar camponeses no interior da Bahia.
Tremendo engano !... Pesquisando dados no  Projeto Orvil verificamos que  Cesar Benjamin era conhecido na luta armada por 16 codinomes - "Cesinha" ; "Fidelis" ; "Eduardo" ; "Gilberto" ; "Gil" ; "Domingos" ; "Ribamar" ; "Julinho" ; "Cabral" ; "Floriano" ; "Flo"; "Paraiba" ; "Paraibinha" ; "Laerte Abreu Junior" ; "Laerte- e, entre eles, "Menininho", o mais conhecido.
Suas atividades eram bem mais violentas do que se imagina... 
." Menininho", aos 16 anos, em 1969, era integrante do Grupo de Fogo - GF - do MR-8 ( Movimento Revolucionário 8 de  Outubro ).Organização altamente violenta, que, entre outros atos terroristas sequestrou o embaixador dos Estados Unidos. Mesma organização a qual pertencia o ministro Franklin  Martins.  
Nas suas peripécias terroristas conseguiu fugir da polícia por três vezes. 
- No dia 13 de novembro de 1970, César de Queiroz Benjamin, o "Menininho", quando "cobria um ponto"  com Sônia Eliana Lafoz e Caio Salomé Souza de Oliveira, na Rua Visconde de Itamarati, junto à Igreja Divino Salvador, no Encantado/ Guanabara, hoje Rio de Janeiro, foi cercado por policiais.Os três, ao  notarem a presença da polícia,  reagiram   à bala ,  ferindo os detetives José Evaristo da Silva e Valter Modesto Dias e fugiram sob os olhares de dezenas de populares. Os três militantes conseguiram fugir, com Caio baleado na mão e Sônia ferida de raspão na cabeça e na perna.
No local deixaram um bornal com uma pistola e um cano de chumbo cheio de dinamite.   Foi a 1ª fuga.
  - No dia  20 de novembro de 1970, sob o comando de Mário Prata, o MR-8 assaltou o Banco Nacional de Minas Gerais, agência Ramos. No banco entraram Mario Prata , Sérgio Landulfo Furtado, Alexandre Lyra de Oliveira, José Carlos Avelino da Silva e Dirceu Grecco Monteiro. Na cobertura, junto à porta, ficaram Zaqueu José Bento e Manoel Henrique Ferreira. Na rua, como cobertura externa, estavam Stuart Edgard Angel Jones, Cesar de Queiróz Benjamin, Nelson Rodrigues Filho, Marilena Villas-Boas Pinto e José Mauríci Gradel. Enquanto se processava o assalto, chegou um  carro-forte do banco e seus integrantes, imediatamente, entraram em.intenso tiroteio com os  terroristas, saindo feridos dois guardas e um transeunte, além de Stuart Edgard Angel Jones, baleado no joelho. Os militantes, levando mais de 55 mil cruzeiros novos e um  revólver Taurus calibre .38, fugiram em três carros, depois de picharem o muro em frente ao banco, com a frase "Comando Joaquim Câmara Ferreira - homenagem do MR-8 a "Toledo", da ALN, falecido em 23/10/1970. 
 Na Avenida Brasil, na aItura de Bonsucesso, quando faziam o transbordo de Stuart, os militantes foram atacados por um guarda que os havia seguido. Alexandre Lyra de Oliveira foi baleado no ombro e nas costas, enquanto que o guarda caía, atingido por um tiro de espingarda desfechado por César de Queiroz Benjamin "Menininho".
 Em 27 de novembro, Mario Prata, "Menininho", Marilena, Roberto das Chagas, Manoel Henrique Gradel e José Carlos Avelino assaltaram os dois policiais militares que davam guarda no Mirante Dona Marta, ponto turístico em Botafogo, levando-lhes dois revólveres e suas fardas. Na ocasião, feriram a coronhadas o tenente do Exército, Flávio Amarante Ribeiro, que passeava no local com a família.
Para encerrar o ano de 1970, em 29 de dezembro, o MR-8 assaltou a Kornbi de transporte de valores do Moinho Inglês, em São Cristóvão, o que lhe proporcionou cerca de 33 mil cruzeiros novos.
Quase  duas dezenas de carros roubados e 14 assaltos foi o saldo da organização nesse ano. Em compensação, teve dezenas de quadros presos e um  membro da Direção Geral morto. No ano seguinte, a linha militarista do MR-8 continuaria a prevalecer, com a realização de dezenas de ações armadas.
Na Bahia, o MR-8 contava, também,  com a estreita colaboração do Padre Paulo, da Paróquia do Peru, em N.S. de Guadalupe, um dos representantes da "Organização Sem Nome", integrada por padres e religiosos que editavam o.jornal "O Círculo" e mantinham um Curso de Alfabetização de Adultos, utilizado, pelo MR-8, para proselitismo e recrutamento.  Independente do CR/BA, João Lopes Salgado dirigia o trabalho  de campo na Bahia, em duas áreas: na região de Cangula, em· Alagoinhas, e na região do médio São Francisco, entre os municipios de Brotas de Macaúbas e Ibotirarna.
Nesse inicio de ano, fruto das intensas atividades de roubo praticadas no ano anterior, não faltava dinheiro ao MR-8. Assim, foram destinados Cr$ 27.000,00  à Bahia, sendo Cr$ 10.000,00 à CR e Cr$ 17.000,00 enviados para apoio ao trabalho de campo
Um fato  novo  para o MR-8: Carlos Lamarca rompeu com a VPR e, alguns dias depois, ingressou no MR-8 junto com sua amante, Iara Iavelberg. A primeira vista, parecia que o MR-8 se fortalecia com a adesão de Lamarca, aumentando  o seu prestígio junto às esquerdas. Na realidade a organizacão recebia um "elefante branco" e a responsabilidade de  mantê-lo  na.absoluta clandestinidade
No dia 18 de fevereiro, aconteceu a primeira "queda" do ano para o MR-8, com a prisão de .Alexandre Lyra.de Oliveira, quando  "cobria um ponto" com Edmilson Borges de Souza., do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário - PCBR -. Alexandre falou tanto em seus interrogatórios que seria acusado, mais tarde, de ter "passado para a repressão" e  falsamente fugido em novembro de 1975. (Entrevista com César Queiroz Benjamin, o " Menininho", publicada no " Caderno de Campanha ", nº 9, de 1979).
Também em abril, César Queiroz Benjamin, o "Menininho", assumiu o CR/BA, esfacelado com as sucessivas quedas de quadros e militantes. Unificou o trabalho realizado em Alagoinhas ao CR, estabeleceu rígidas normas de segurança e determinou que fossem feitos diversos levantamentos para futuros assaltos.
- 06 Ago 71, à tarde cobriu ponto com José Carlos de Souza ( ROCHA ) no centro de Salvador/BA ; policiais deram voz de prisão aos dois . "Menininho" atracou-se com os agentes, chegou a atirar e fugiu. Foi a 2ª fuga.  José Carlos foi preso e começou a denunciar diversos companheiros.
- 21 Ago 71, às 19:00 H, logo depois de passar um telegrama do Rio de Janeiro para Iara Iavelberg ( sem saber que ela já estava morta ), "Menininho", num Volks, com Ney Roitman, Alberto Jak Schprejer ("SOUZA" ; "BETO") e Teresa Cristina de Moura Peixoto ( TETÊ ), é detido por uma operação de rotina , na Avenida Vieira Souto, na altura do Jardim de Alá. Ao serem solicitados os documentos, "Menininho" saiu rapidamente do carro, fugindo correndo entre os transeuntes. Foi a 3ª fuga.
 No veículo, o diário de Lamarca e cartas para Iara Iavelberg forneceram, aos orgãos de segurança, a certeza de onde deveriam procurar e concentrar esforços. Sem saber do acontecido e sentindo-se "queimado" no Rio de Janeiro," Menininho" retornou a Salvador, sendo preso em 30 de agosto, num "ponto" delatado por Jaileno, no Rio Vermelho.

- Após longa série de assaltos e ter escapado de três choques com a polícia, o "terrível Menininho", com apenas 17 anos, mostrou-se extremamente dócil nos interrogatórios. Suas extensas declarações, todas de próprio punho, desvendaram a linha política e as ações do MR-8. Muitos militantes foram, então, identificados. Chegou, inclusive, a fazer uma análise dos métodos de interrogatório aplicados, declarando-se surpreso com o bom tratamento recebido e com o nível de seus interlocutores.Com essa nova e importante fonte, os orgãos de segurança, que já haviam retirado boa parte de seus efetivos da região de Brotas de Macaúba, retornaram ao local, iniciando-se nova caçada a Lamarca e a Zequinha, que  localizados foram  mortos.

São Paulo, sexta-feira, 27 de novembro de 2009 
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ANÁLISE

Os filhos do Brasil
Divulgação
Cena do filme "Lula, o Filho do Brasil", do diretor Fábio Barreto, que narra a trajetória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

CÉSAR BENJAMIN
ESPECIAL PARA A FOLHA 

A PRISÃO na Polícia do Exército da Vila Militar, em setembro de 1971, era especialmente ruim: eu ficava nu em uma cela tão pequena que só conseguia me recostar no chão de ladrilhos usando a diagonal. A cela era nua também, sem nada, a menos de um buraco no chão que os militares chamavam de "boi"; a única água disponível era a da descarga do "boi". Permanecia em pé durante as noites, em inúteis tentativas de espantar o frio. Comia com as mãos. Tinha 17 anos de idade.
Um dia a equipe de plantão abriu a porta de bom humor. Conduziram-me por dois corredores e colocaram-me em uma cela maior onde estavam três criminosos comuns, Caveirinha, Português e Nelson, incentivados ali mesmo a me usar como bem entendessem. Os três, porém, foram gentis e solidários comigo. Ofereceram-me logo um lençol, com o qual me cobri, passando a usá-lo nos dias seguintes como uma toga troncha de senador romano.
Oriundos de São Paulo, Caveirinha e Português disseram-me que "estavam pedidos" pelo delegado Sérgio Fleury, que provavelmente iria matá-los. Nelson, um mulato escuro, passava o tempo cantando Beatles, fingindo que sabia inglês e pedindo nossa opinião sobre suas caprichadas interpretações. Repetia uma ideia, pensando alto: "O Brasil não dá mais. Aqui só tem gente esperta. Quando sair dessa, vou para o Senegal. Vou ser rei do Senegal".
Voltei para a solitária alguns dias depois. Ainda não sabia que começava então um longo período que me levou ao limite.
Vegetei em silêncio, sem contato humano, vendo só quatro paredes -"sobrevivendo a mim mesmo como um fósforo frio", para lembrar Fernando Pessoa- durante três anos e meio, em diferentes quartéis, sem saber o que acontecia fora das celas. Até que, num fim de tarde, abriram a porta e colocaram-me em um camburão. Eu estava sendo transferido para fora da Vila Militar. A caçamba do carro era dividida ao meio por uma chapa de ferro, de modo que duas pessoas podiam ser conduzidas sem que conseguissem se ver. A vedação, porém, não era completa. Por uma fresta de alguns centímetros, no canto inferior à minha direita, apareceram dedos que, pelo tato, percebi serem femininos.
Fiquei muito perturbado (preso vive de coisas pequenas). Há anos eu não via, muito menos tocava, uma mulher. Fui desembarcado em um dos presídios do complexo penitenciário de Bangu, para presos comuns, e colocado na galeria F, "de alta periculosia", como se dizia por lá. Havia 30 a 40 homens, sem superlotação, e três eram travestis, a Monique, a Neguinha e a Eva. Revivi o pesadelo de sofrer uma curra, mas, mais uma vez, nada ocorreu. Era Carnaval, e a direção do presídio, excepcionalmente, permitira a entrada de uma televisão para que os detentos pudessem assistir ao desfile.
Estavam todos ocupados, torcendo por suas escolas. Pude então, nessa noite, ter uma longa conversa com as lideranças do novo lugar: Sapo Lee, Sabichão, Neguinho Dois, Formigão, Ari dos Macacos (ou Ari Navalhada, por causa de uma imensa cicatriz que trazia no rosto) e Chinês. Quando o dia amanheceu éramos quase amigos, o que não impediu que, durante algum tempo, eu fosse submetido à tradicional série de "provas de fogo", situações armadas para testar a firmeza de cada novato.
Quando fui rebatizado, estava aceito. Passei a ser o Devagar. Aos poucos, aprendi a "língua de congo", o dialeto que os presos usam entre si para não serem entendidos pelos estranhos ao grupo.
Com a entrada de um novo diretor, mais liberal, consegui reativar as salas de aula do presídio para turmas de primeiro e de segundo grau. Além de dezenas de presos, de todas as galerias, guardas penitenciários e até o chefe de segurança se inscreveram para tentar um diploma do supletivo. Era o que eu faria, também: clandestino desde os 14 anos, preso desde os 17, já estava com 22 e não tinha o segundo grau. Tornei-me o professor de todas as matérias, mas faria as provas junto com eles.
Passei assim a maior parte dos quase dois anos que fiquei em Bangu. Nos intervalos das aulas, traduzia livros para mim mesmo, para aprender línguas, e escrevia petições para advogados dos presos ou cartas de amor que eles enviavam para namoradas reais, supostas ou apenas desejadas, algumas das quais presas no Talavera Bruce, ali ao lado. Quanto mais melosas, melhor.
Como não havia sido levado a julgamento, por causa da menoridade na época da prisão, não cumpria nenhuma pena específica. Por isso era mantido nesse confinamento semiclandestino, segregado dos demais presos políticos. Ignorava quanto tempo ainda permaneceria nessa situação.
Lembro-me com emoção -toda essa trajetória me emociona, a ponto de eu nunca tê-la compartilhado- do dia em que circulou a notícia de que eu seria transferido. Recebi dezenas de catataus, de todas as galerias, trazidos pelos próprios guardas. Catatau, em língua de congo, é uma espécie de bilhete de apresentação em que o signatário afiança a seus conhecidos que o portador é "sujeito-homem" e deve ser ajudado nos outros presídios por onde passar.
Alguns presos propuseram-se a organizar uma rebelião, temendo que a transferência fosse parte de um plano contra a minha vida. A essa altura, já haviam compreendido há muito quem eu era e o que era uma ditadura.
Eu os tranquilizei: na Frei Caneca, para onde iria, estavam os meus antigos companheiros de militância, que reencontraria tantos anos depois. Descumprindo o regulamento, os guardas permitiram que eu entrasse em todas as galerias para me despedir afetuosamente de alunos e amigos. O Devagar ia embora.

 


São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.
Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.
Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço.
Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".
Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.
Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram.
O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu.

 


Dias depois de ter retornado para a solitária, ainda na PE da Vila Militar, alguém empurrou por baixo da porta um exemplar do jornal "O Dia". A matéria da primeira página, com direito a manchete principal, anunciava que Caveirinha e Português haviam sido localizados no bairro do Rio Comprido por uma equipe do delegado Fleury e mortos depois de intensa perseguição e tiroteio. Consumara-se o assassinato que eles haviam antevisto.
Nelson, que amava os Beatles, não conseguiu ser o rei do Senegal: transferido para o presídio de Água Santa, liderou uma greve de fome contra os espancamentos de presos e perseverou nela até morrer de inanição, cerca de 60 dias depois. Seu pai, guarda penitenciário, servia naquela unidade.
Neguinho Dois também morreu na prisão. Sapo Lee foi transferido para a Ilha Grande; perdi sua pista quando o presídio de lá foi desativado. Chinês foi solto e conseguiu ser contratado por uma empreiteira que o enviaria para trabalhar em uma obra na Arábia, mas a empresa mudou os planos e o mandou para o Alasca. Na última vez que falei com ele, há mais de 20 anos, estava animado com a perspectiva do embarque: "Arábia ou Alasca, Devagar, é tudo as mesmas Alemanhas!" Ele quis ir embora para escapar do destino de seu melhor amigo, o Sabichão, que também havia sido solto, novamente preso e dessa vez assassinado. Não sei o que aconteceu com o Formigão e o Ari Navalhada.
A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o "menino do MEP". Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos.
O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.
Mesmo assim, não pretendo assistir a "O Filho do Brasil", que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.

CÉSAR BENJAMIN, 55, militou no movimento estudantil secundarista em 1968 e passou para a clandestinidade depois da decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro desse ano, juntando-se à resistência armada ao regime militar. Foi preso em meados de 1971, com 17 anos, e expulso do país no final de 1976. Retornou em 1978. Ajudou a fundar o PT, do qual se desfiliou em 1995. Em 2006 foi candidato a vice-presidente na chapa liderada pela senadora Heloísa Helena, do PSOL, do qual também se desfiliou. Trabalhou na Fundação Getulio Vargas, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Prefeitura do Rio de Janeiro e na Editora Nova Fronteira. É editor da Editora Contraponto e colunista da Folha.

sábado, 28 de novembro de 2009

Lula não vai processar Cesar Benjamin por escrever que “filho do Brasil” tentou estuprar colega de cela na dita-dura

Edição do Alerta Total - www.alertatotal.net
Leia também o Fique Alerta – www.fiquealerta.net

Por Jorge Serrão

Versões da História – pouco abonadoras do seu mal contado passado – voltam a tirar do sério Luiz Inácio Lula da Silva. A mais recente foi contada ontem em um artigo “Os filhos do Brasil” - do jornalista César Benjamin um dos fundadores do PT, agora ligado ao PSOL – na página A8 do jornal Folha de S. Paulo. Benjamin relatou uma conversa com Lula, durante a campanha de 1994, na qual o sindicalista lhe narrou um fato bizarro: a tentativa de estuprar um companheiro de cela, durante os 31 dias em que ficou preso no DOPS, em 1980.

Lula teria ficado “triste, abatido e sem entender” o motivo do ataque de Cesar Benjamin. Pelo menos esta foi a versão apresentada ontem pelo chefe de gabinete de Lula. O ex-seminarista Gilberto Carvalho justificou que Lula classificou de “loucura” a versão de Bejnamin de que tentara violentar um colega de cela. Apesar de tudo ser chamado de loucura, Gilberto Carvalho ponderou que Lula não pretende processar Benjamin pelo que escreveu.

A desculpa de Gilberto Carvalho – não se sabe se falando por si mesmo ou por Lula – foi: "Não vamos dar a mínima importância (ao episódio). Vamos nos sujar se fizermos isso. Quando a coisa é séria a gente reage. Quando não é (ignoramos)". Mesmo assim, o sempre comedido Gilberto não poupou Benjamin de um violento ataque verbal: “Isso é uma coisa de psicopata. Para nós é uma coisa que só pode ser explicada pela psicopatia. O presidente está triste e falou que isso é uma loucura".

No artigo, Benjamin narrou uma conversa com o então candidato do PT à Presidência da República, em 1994. Benjamin contou que Lula lhe perguntou quanto tempo teria ficado preso durante a ditadura militar. Na versão de Benjamin, surpreendido com a resposta de que passara "alguns anos na prisão", Lula teria dito: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta...".

Benjamin escreveu na Folha de S.Paulo: “Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de menino do MEP, em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do menino, que frustrara a investida com cotoveladas e socos”.
Traduzindo o ditadurês
MEP era a sigla do Movimento de Emancipação do Proletariado, dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que optou pela luta armada para tentar implantar o comunismo no Brasil.

Lula foi detido pela polícia política, cuja inteligência era comandada pelo hoje senador Romeu Tuma, no dia 19 de abril de 1980 e libertado no dia 20 de maio.

Nesses 31 dias chegou a dividir a cela com até 18 pessoas.

Testemunhas
Cesar Benjamin, o Cesinha, revelou que a conversa foi acompanhada por pelo menos quatro testemunhas:

Um marketeiro norte-americano (que não sabia português, e não entendeu nada que Lula falou, para sorte dele);

O publicitário Paulo de Tarso – que ontem teria negado tal versão a Gilberto Carvalho, alegando que “não entendeu o que deu na cabeça desse menino (Cezinha)”.

O segurança de Lula, chamado Espinosa – que também não botaria o chefão numa gelada...

E um quatro elemento, um publicitário brasileiro, cujo nome Benjamin escreveu ter esquecido...

O duro é se o tal publicitário misterioso vier a público confirma a historinha bizarra escrita por Cesar Benjamin – que é editor da Editora Contraponto e colunista da Folha de S. Paulo.

Viagem na maionese?
Um dos mais jovens companheiros de cela de Lula foi atual presidente do PSTU.

Na época com 23 anos de idade, José Maria de Almeida - então militante da Convergência Socialista – pôs em cheque a versão de Benjamin:

"Tenho motivos para atacar o Lula. O seu governo é uma tragédia para a classe trabalhadora. Mas isso que está escrito não aconteceu. O Benjamim viajou na maionese."

E o nome do rapaz?
O vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Enilson Simões de Moura, o Alemão, também estava na cela e Lula no DOPS.

Alemão classificou de "absurdo" o texto de Benjamin, e recordou:

"O que eu lembro é que, brincando com uma bola de basquete, Lula acertou sem querer a cara do rapaz do MEP".

Alemão só não lembra o nome do tal rapaz que foi “encestado” pela bola de Lula...

A Veja deste final de semana sugere que o nome do rapaz é João Batista dos Santos.

Referência ao “BOI”
No artigo “Os filhos do Brasil”, logo no primeiro parágrafo, Cesar Benjamin dá destaque, entre aspas, duas vezes, a uma palavra: “BOI”:

“A PRISÃO na Polícia do Exército da Vila Militar, em setembro de 1971, era especialmente ruim: eu ficava nu em uma cela tão pequena que só conseguia me recostar no chão de ladrilhos usando a diagonal. A cela era nua também, sem nada, a menos de um buraco no chão que os militares chamavam de “boi”; a única água disponível era a da descarga do “boi”. Permanecia em pé durante as noites, em inúteis tentativas de espantar o frio. Comia com as mãos. Tinha 17 anos de idade”.

Na versão pouco conhecida de policiais que atuaram no DOPS (Departamento da Ordem Política e Social), na época sob o comando do hoje senador Romeu Tuma, “Boi” era o codinome pelo qual era conhecido um famoso sindicalista que dedurava adversários no sindicato ao sistema de repressão da época.

Como o então delegado e hoje senador Romeu Tuma não fala sobre tal passado, toda a história fica no dito pelo não-dito.

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