Duque detalha a Moro três encontros com Lula
Ex-diretor
de Serviço, preso há dois anos pela Lava Jato, diz a juiz da Lava Jato que quer
passar história à limpo e que não é nem 'diretor nem protagonista' nessa peça
Fausto Macedo, Luiz Vassallo, Julia Affonso e Ricardo Brandt
05 Maio 2017 | 16h45
O ex-diretor de Serviços da Petrobrás afirmou nesta sexta-feira, 5, em juízo, que se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por três vezes após ele deixar a Petrobrás, em 2012. Foram encontros em 2012, 2013 e 2014 – o último, depois de deflagrada as investigações de corrupção na estatal.
“Nesse encontro de 2012, para mim ficou muito evidente, fiquei surpreendido com o conhecimento que ele tinha com esse projeto de sondas”, afirmou Duque.
Condenado e candidato a delator, Duque foi ouvido pelo juiz federal Sérgio Moro, dos processos de primeira instância da Operação Lava Jato, em Curitiba.
Duque, que pediu para ser novamente ouvido por Moro.
O último encontro com Lula foi em julho de 2014. “Foi no aeroporto Congonhas, no hangar da TAM. Eu tenho passagem. acredito que tinha Infraero, porque teve passagem para ir ao hangar.”
Seguindo ele, foi um encontro por intermédio de João Vaccari, ex-tesoureiro do PT.
O candidato a delator assumiu que cometeu “ilegalidades”.
“Mas quero pagar pelas ilegalidades que eu cometi. Se for fazer uma comparação com o teatro, da situação que a gente vive, sou um ator, tenho papel de destaque nessa peça, mas não sou nem o diretor, nem o protagonista dessa história.”
O réu afirmou que quer “passar essa história a limpo”.
COM A PALAVRA, O INSTITUTO LULA
“O depoimento do ex-diretor da Petrobras Renato Duque é mais uma tentativa de fabricar acusações ao ex-presidente Lula nas negociações entre os procuradores da Lava Jato e réus condenados, em troca de redução de pena. Como não conseguiram produzir nenhuma prova das denúncias levianas contra o ex-presidente, depois de dois anos de investigações, quebra de sigilos e violação de telefonemas, restou aos acusadores de Lula apelar para a fabricação de depoimentos mentirosos.
“O desespero dos procuradores aumentou com a aproximação da audiência em que Lula vai, finalmente, apresentar ao juízo a verdade dos fatos. A audiência de Lula foi adiada em uma semana sob o falso pretexto de garantir a segurança pública. Na verdade, como vinha alertando a defesa de Lula, o adiamento serviu unicamente para encaixar nos autos depoimentos fabricados de ex-diretores da OAS (Leo Pinheiro e Agenor Medeiros) e, agora, o de Renato Duque”.
“Os três depoentes, que nunca haviam mencionado o ex-presidente Lula ao longo do processo, são pessoas condenadas a penas de mais de 20 anos de prisão, encontrando-se objetivamente coagidas a negociar benefícios penais. Estranhamente, veículos da imprensa e da blogosfera vinham antecipando o suposto teor dos depoimentos, sempre com o sentido de comprometer Lula”.
O que assistimos nos últimos dias foi mais uma etapa dessa desesperada gincana, nos tribunais e na mídia, em busca de uma prova contra Lula, prova que não existe na realidade e muito menos nos autos.”
COM A PALAVRA, O ADVOGADO CRISTIANO ZANIN MARTINS, DEFENSOR DE LULA
“O depoimento de hoje (5/5) do ex-diretor da área de serviços da Petrobras Renato Duque segue o padrão já identificado nas declarações dos novos candidatos a delatores que o antecederam, caso de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e de seu subordinado Agenor Medeiros. Eles citam Lula, falam de encontros e de conversas com o ex-Presidente, mas não têm qualquer prova do que afirmam. Ao dizer que Lula tinha “pleno conhecimento de tudo, tinha o comando”, Duque busca por em pé perante o Juízo da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba a falaciosa tese do procurador Deltan Dallagnol explorada no seu famoso power-point e que foi negada por 73 testemunhas já ouvidas sob o compromisso de dizer a verdade. Depoimentos cruzados – e certamente combinados – não substituem provas.
Nos três casos, chama a atenção que os advogados dos réus tenham feito questionamentos não para defesa dos clientes, mas com o objetivo de envolver o nome de Lula, inclusive em processos em que ele sequer é parte – caso do depoimento de hoje. O ex-Presidente foi submetido a uma devassa com a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, além de buscas e apreensões em sua casa e na de seus familiares e nenhum ato ilegal foi identificado. Até mesmo pessoas referidas por Duque, como Pedro Barusco, quando ouvidas com o compromisso de dizer a verdade, negaram a participação de Lula.
Foram 24 audiências realizadas só na ação que trata do triplex do Guarujá e nenhuma prova foi produzida contra o ex-Presidente. Não pode ser coincidência que, nos últimos 15 dias, depois de anunciado o adiamento do depoimento de Lula, três pessoas que há muito tentam destravar uma delação para reduzir suas penas e até mesmo sair da cadeia – caso de Pinheiro e Duque – tenham resolvido falar, especialmente considerando que o processo de Duque já estava em fase de alegações finais. Merece repúdio que se aceite negociar futuras vantagens em troca de acusações frívolas, confirmando o caráter ilegítimo das denúncias contra Lula.”
Cristiano Zanin Martins
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