‘Vaccari era o homem do Lula para cuidar dos interesses das
empresas na Petrobrás’, afirma Duque
Ex-diretor
de Serviços da Petrobrás revela que o então tesoureiro do PT 'foi apresentado
como homem do presidente' na estatal
Ricardo Brandt, Luiz Vassallo e Fausto Macedo
05 Maio 2017 | 17h39
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto era ‘o homem’ do ex-presidente Lula no esquema instalado na Petrobrás. A afirmação é do ex-diretor de Serviços da petrolífera Renato Duque, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, nesta sexta-feira, 5. “Vaccari é da criação do PT, salvo engano. Vaccari foi apresentado como homem do presidente Lula, que iria cuidar dos interesses das empresas que atuavam junto à Petrobrás, interesses do presidente Lula, interesses políticos.”
A Lava Jato descobriu a ação de um poderoso cartel de empreiteiras na Petrobrás entre 2004 e 2014 – período que pegou os dois governos de Lula e o primeiro de Dilma. O cartel distribuiu propinas a partidos, políticos e ex-dirigentes da estatal, inclusive para o próprio Duque, condenado a 30 anos e 8 meses de prisão em duas ações penais da Lava Jato.
As revelações de Duque indicam que o ex-presidente escalou Vaccari para ‘cuidar dos interesses’ dessas empreiteiras na petrolífera. Vaccari também está na prisão da Lava Jato, desde abril de 2015, já condenado por Moro.
A Diretoria de Serviços, que Duque comandou, era cota do PT na Petrobrás, afirmam os investigadores.
Preso em Curitiba, foi o próprio Duque que pediu ao juiz Moro que tomasse seu depoimento – anteriormente, em outras audiências, o ex-diretor adotou o silêncio como estratégia de defesa.
Agora, resolveu confessar. Apontou para Lula, a quem atribuiu o papel de ‘comandante’ do esquema Petrobrás.
Preso em Curitiba, foi o próprio Duque que pediu ao juiz Moro que tomasse seu depoimento – anteriormente, em outras audiências, o ex-diretor adotou o silêncio como estratégia de defesa.
Agora, resolveu confessar. Apontou para Lula, a quem atribuiu o papel de ‘comandante’ do esquema Petrobrás.
Indagado sobre se a arrecadação de dinheiro ilícito era destinada ao PT e como esse dinheiro chegava ao partido, Renato Duque declarou. “Sempre através do tesoureiro, com Delúbio Soares, depois Paulo Ferreira e depois o Vaccari. Todos sabiam. Ninguém desconhecia.”
Duque contou a Moro que se reuniu três vezes com Lula. “Eu tive, após a saída da Petrobrás, três encontros com Lula, um em 2012, um em 2013 e o último em 2014. No encontro de 2012 prá mim ficou muito evidente, fiquei surpreendido com o conhecimento que ele tinha sobre esse projeto de sondas. Ele me questionou, só relembrando, eu já estava fora da Petrobrás desde abril, esse primeiro encontro se deu em julho de 2012 a meu pedido, eu conversei com o Vaccari que eu queria agradecer pelo período que eu passei na Petrobrás. Ele (Lula) começou a fazer algumas perguntas sobre a questão das sondas, uma delas porque não tinha sido aprovado ainda. ‘Presidente, eu não sei responder, eu estou fora da empresa’.”
“Fiquei surpreendido porque naquela hora o presidente Lula e o Vaccari, ficou claro prá mim, que o nível de informação ele conhecia tudo e falando esse tipo de coisa na frente do Vaccari, na minha frente, eu falei poxa ele tá comandando tudo.”
“Fiquei surpreendido porque naquela hora o presidente Lula e o Vaccari, ficou claro prá mim, que o nível de informação ele conhecia tudo e falando esse tipo de coisa na frente do Vaccari, na minha frente, eu falei poxa ele tá comandando tudo.”
“Vaccari realmente era um braço que atuava pro Lula.”
Duque falou sobre o segundo encontro. “Aí teve um segundo encontro que, da mesma maneira, ele fez perguntas sobre sondas, poque não estava recebendo até então, em 2013. Perguntou se eu sabia porque as empresas não estavam pagando, eu não soube responder, ‘também não acompanho isso’.
O terceiro encontro com Lula, disse Duque, foi no hangar da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
COM A PALAVRA, O INSTITUTO LULA
“O depoimento do ex-diretor da Petrobras Renato Duque é mais uma tentativa de fabricar acusações ao ex-presidente Lula nas negociações entre os procuradores da Lava Jato e réus condenados, em troca de redução de pena. Como não conseguiram produzir nenhuma prova das denúncias levianas contra o ex-presidente, depois de dois anos de investigações, quebra de sigilos e violação de telefonemas, restou aos acusadores de Lula apelar para a fabricação de depoimentos mentirosos.
“O desespero dos procuradores aumentou com a aproximação da audiência em que Lula vai, finalmente, apresentar ao juízo a verdade dos fatos. A audiência de Lula foi adiada em uma semana sob o falso pretexto de garantir a segurança pública. Na verdade, como vinha alertando a defesa de Lula, o adiamento serviu unicamente para encaixar nos autos depoimentos fabricados de ex-diretores da OAS (Leo Pinheiro e Agenor Medeiros) e, agora, o de Renato Duque”.
“Os três depoentes, que nunca haviam mencionado o ex-presidente Lula ao longo do processo, são pessoas condenadas a penas de mais de 20 anos de prisão, encontrando-se objetivamente coagidas a negociar benefícios penais. Estranhamente, veículos da imprensa e da blogosfera vinham antecipando o suposto teor dos depoimentos, sempre com o sentido de comprometer Lula”.
O que assistimos nos últimos dias foi mais uma etapa dessa desesperada gincana, nos tribunais e na mídia, em busca de uma prova contra Lula, prova que não existe na realidade e muito menos nos autos.”
COM A PALAVRA, O ADVOGADO CRISTIANO ZANIN MARTINS, DEFENSOR DE LULA
“O depoimento de hoje (5/5) do ex-diretor da área de serviços da Petrobras Renato Duque segue o padrão já identificado nas declarações dos novos candidatos a delatores que o antecederam, caso de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e de seu subordinado Agenor Medeiros. Eles citam Lula, falam de encontros e de conversas com o ex-Presidente, mas não têm qualquer prova do que afirmam. Ao dizer que Lula tinha “pleno conhecimento de tudo, tinha o comando”, Duque busca por em pé perante o Juízo da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba a falaciosa tese do procurador Deltan Dallagnol explorada no seu famoso power-point e que foi negada por 73 testemunhas já ouvidas sob o compromisso de dizer a verdade. Depoimentos cruzados – e certamente combinados – não substituem provas.
Nos três casos, chama a atenção que os advogados dos réus tenham feito questionamentos não para defesa dos clientes, mas com o objetivo de envolver o nome de Lula, inclusive em processos em que ele sequer é parte – caso do depoimento de hoje. O ex-Presidente foi submetido a uma devassa com a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, além de buscas e apreensões em sua casa e na de seus familiares e nenhum ato ilegal foi identificado. Até mesmo pessoas referidas por Duque, como Pedro Barusco, quando ouvidas com o compromisso de dizer a verdade, negaram a participação de Lula.
Foram 24 audiências realizadas só na ação que trata do triplex do Guarujá e nenhuma prova foi produzida contra o ex-Presidente. Não pode ser coincidência que, nos últimos 15 dias, depois de anunciado o adiamento do depoimento de Lula, três pessoas que há muito tentam destravar uma delação para reduzir suas penas e até mesmo sair da cadeia – caso de Pinheiro e Duque – tenham resolvido falar, especialmente considerando que o processo de Duque já estava em fase de alegações finais. Merece repúdio que se aceite negociar futuras vantagens em troca de acusações frívolas, confirmando o caráter ilegítimo das denúncias contra Lula.”
Cristiano Zanin Martins
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