sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Delcídio do Amaral depõe e explica interesse na libertação de Cerveró

Delcídio do Amaral depõe e explica interesse na libertação de Cerveró

Senador disse que tinha interesse na libertação por questões humanitárias. Ele negou ter feito contato com autoridades que tinha relatado na conversa.

Jornal Nacional teve acesso ao conteúdo do primeiro depoimento do senador Delcídio do Amaral depois da prisão. Ele é acusado de tentar comprar o silêncio de Nestor Cerveró e de oferecer um plano de fuga ao ex-diretor da Petrobras. Na Polícia Federal, pra justificar o interesse na soltura de Cerveró, o senador petista alegou questões humanitárias.
Delcídio confirmou que era mesmo a voz dele na gravação feita pelo filho de Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró. Disse que tinha interesse na soltura de Nestor Cerveró, mas por motivos pessoais, por ter trabalhado com ele na Petrobras, por conhecer a família e por presumir o sofrimento a que vinha sendo submetido. Segundo o senador, por questões humanitárias.
Delcídio também disse que soube pela imprensa que Nestor Cerveró estava negociando um acordo de delação premiada e que não temia o conteúdo da delação. A suspeita de que ele estava tentando impedir um acordo surgiu em um trecho da conversa gravada por Bernardo. 
Edson Ribeiro: Só pra colocar. O que que eu combinei com o Nestor: que ele negaria tudo com relação a você e tudo com relação ao BTG. Tudo. Não é isso?
Bernardo Cerveró: Sim.
Edson Ribeiro: Tá acertado isso. Então não vai ter. Não tendo delação, ficaria acertado isso. Não tendo delação. Tá? E se houvesse delação, ele também excluiria. Não é isto?
Delcídio do Amaral: É isso.
O senador Delcídio do Amaral também negou que tivesse procurado ministros do Supremo Tribunal Federal para conseguir ajuda para Cerveró. Disse que eram, na verdade, "palavras de conforto" ao filho de Cerveró.
O senador disse que não falou nem esteve com o ministro Teori Zavascki, nem com qualquer outro ministro do STF e que não solicitou ao ministro Dias Toffoli, nem ao senador Renan Calheiros, tampouco ao vice-presidente da República, Michel Temer, que estabelecessem contato com o ministro Gilmar Mendes para tratar de assuntos relacionados a Nestor Cerveró.
Questionado sobre um trecho da conversa gravada em que cita o nome Michel, Delcídio esclareceu que se referiu ao vice-presidente da República, Michel Temer, porque "segundo informações que se tinha na época, ele mantinha relação próxima com Jorge Zelada", ex-diretor da Petrobras preso na Operação Lava Jato. No entanto, quando foi perguntado em que consistia essa proximidade, preferiu não responder. 
O vice-presidente respondeu em nota que já foi apresentado a Jorge Zelada, mas não o indicou para o cargo nem trabalhou para sua manutenção. Portanto, nega qualquer relação de proximidade com Jorge Zelada e repudia veementemente as declarações do senador Delcídio do Amaral.
Delcídio do Amaral contou ainda que, em 2003 ou 2004, época em que Nestor Cerveró assumiu a diretoria internacional da Petrobras, foi consultado pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, sobre a possível nomeação de Cerveró. Delcídio disse que a presidente conhecia Cerveró desde a época em que era secretária de Energia do Rio Grande do Sul, durante o governo de Olívio Dutra.
O senador também foi perguntado sobre as suas relações com André Esteves, dono do bancoBTG Pactual, que foi preso na quarta (25), mesmo dia em que ele. Segundo as investigações, o senador e o banqueiro temiam que Cerveró revelasse o envolvimento deles em irregularidades que estão sendo investigadas na Lava Jato. Questionado se, num determinado trecho da conversa, se referia a André Esteves, Delcídio primeiro disse que não se via em condições de confirmar. A polícia então mostrou para ele outro trecho do diálogo.
Delcídio do Amaral: Ele disse “não Delcídio, não tem problema nenhum, olha, eu estou interessado, eu preciso resolver isso, o meu banco é enorme se eu tiver problema com o meu banco eu estou f..., só para te historiar, vai que você não conhece essa história. Oh, eu quero ajudar, quero atender o advogado, quero atender a família, ajudo, sou companheiro, pá, pá”. E a conversa fluiu bem.
Só aí Delcídio confirmou que se referia ao banqueiro, mas depois disso se recusou a esclarecer o episódio.
Depois de quase quatro horas de depoimento, Delcídio do Amaral alegou cansaço e pediu para continuar em outro dia. Por isso, vai ser ouvido mais uma vez na semana que vem, quando os investigadores vão fazer perguntas sobre o plano de fuga que ele teria oferecido a Cerveró e também sobre a suposta mesada de R$ 50 mil prometida à família do ex-diretor da Petrobras.
A assessoria do senador disse que, nessa sexta-feira (27), ele está abatido, mas sereno, e concentrado em sua defesa. Vai passar o fim de semana estudando o processo.
Ele continuará na mesma sala em que está desde quarta-feira (25). Ela tem quase 11 m² e fica no térreo da Superintendência, em Brasília, tem uma cama e uma mesa no canto. O banheiro é do lado de fora.
A assessoria do Palácio do Planalto negou que a presidente Dilma tenha consultado o senador Delcídio do Amaral ou qualquer outra pessoa sobre a nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria da Petrobras. Declarou ainda que Dilma nunca manteve relações pessoais com Nestor Cerveró, nem antes, nem depois da nomeação dele para a diretoria da Petrobras.

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