NEGÓCIOS | Quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004 | |
de subornos no passado, foi contratado pela multinacional | ||
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Christian Carvalho Cruz e Carla Spegiorin
O EMPRESÁRIO APS: Contrato de R$ 20 mil por m�s e a concorrente Dolly como alvo no mercado |
pela Coca-Cola para cuidar do caso no ambiente que lhe é mais familiar – os altos corredores da corte.
APS já foi considerado o lobista mais poderoso de Brasília. Chegou a ter 55 clientes (Carrefour, Pirelli, Johnson & Johnson, McDonald’s...), 60 funcionários e R$ 3 milhões de faturamento mensal, segundo as suas próprias contas. Tinha trânsito livre no plenário da Câmara Federal, por onde entabulava conversas de pé de ouvido brandindo uma credencial fornecida pelo deputado Arnaldo Faria de Sá. Há dois anos, no entanto, ele sofreu um revés e refugiou-se na parte mais escura das sombras brasilienses. Em outubro de 2001, vazou a informação de que APS teria uma fita em que funcionários do Ministério da Saúde tentavam extorquir um de seus clientes, o laboratório suíço Novartis. A história respingou no então ministro José Serra, que ordenou rigorosa investigação. A tal fita nunca apareceu. Mas os métodos de trabalho de APS vieram à tona quando a Polícia Federal apreendeu a agenda do lobista. No caderninho, figuravam nomes de autoridades e funcionários de alto escalão sucedidos de números e a letra K. Por exemplo: Fulano 26K, Sicrano 50K. Suspeitava-se que o K significava “mil reais”. APS alegou que era apenas o seu método de classificar níveis de relacionamento.
Nada ficou comprovado, mas a sigla APS virou sinônimo de problemas e o lobista viu seu negócio minguar. Dos clientes restaram três. Dos funcionários, meia dúzia. O contrato com a Coca-Cola, que lhe renderá R$ 20 mil mensais, é encarado como a volta por cima. Na quarta-feira 4, à beira da piscina do Hotel Nacional, em Brasília, APS contou à DINHEIRO como está reconquistando o poder. O primeiro passo foi convidar três dos seus antigos funcionários para fundar o Instituto de Pesquisas Avançadas (IPA). Segundo ele, era a maneira mais acertada de usar o seu prestígio sem oferecer ao mercado a estigmatizada marca APS. Contando com a Coca-Cola, o IPA tem oito clientes, 18 empregados e receita de R$ 130 mil por mês. “Minha idéia é jogar cada vez mais os contratos para o IPA e ficar por trás como consultor”, revela APS.
Contratar um lobista não é crime. O Brasil nem sequer tem legislação sobre o assunto. Um projeto de lei para regulamentar a atividade encontra-se engavetado há 13 anos no Congresso Nacional. Independente disso, é perfeitamente legítimo que empresas e associações defendam suas idéias e interesses nos círculos do poder. Faz parte da democracia. Mas APS é tão controverso que a primeira reação da Coca-Cola foi negar que o tivesse contratado. “Contratamos o IPA, que subcontratou o Alexandre Paes dos Santos”, disse à DINHEIRO Maurício Bacellar, gerente de comunicação da empresa, na segunda-feira 2. Para, dois dias depois, esclarecer que na primeira oportunidade não tinha informações completas sobre o assunto. “Ele (APS) não tem autorização da companhia para fazer corpo-a-corpo com parlamentares”, completou Eduardo Simbalista, diretor de comunicação da Coca-Cola.
DINHEIRO teve acesso a supostos e-mails trocados entre funcionários da Coca-Cola, que explicitariam quais “os resultados esperados do consultor”. Nos papéis, em inglês, Rodrigo Caracas, diretor jurídico da empresa, e Daniel Mendonça, funcionário da vice-presidência de re-
lações governamentais, supostamente explicam à matriz o porquê da necessidade da contratação de um lobista. Ali, fica clara a missão de APS: “Minimizar e se possível eliminar o risco de ter a Coca-Cola e/ou Femsa (engarrafadora de São Paulo) convocados para uma audiência pública na Câmara dos Deputados com relação ao caso Dolly para preservar a imagem do sistema Coca-Cola”. Mais: “As habilidades do consultor foram desenvolvidas ao longo de 20 anos trabalhando em Brasília, acompanhando o Governo, especialmente o Poder Legislativo, onde o risco político é sempre iminente”. O nome de APS não é citado, e a Coca-Cola não reconhece a autenticidade das mensagens.
lações governamentais, supostamente explicam à matriz o porquê da necessidade da contratação de um lobista. Ali, fica clara a missão de APS: “Minimizar e se possível eliminar o risco de ter a Coca-Cola e/ou Femsa (engarrafadora de São Paulo) convocados para uma audiência pública na Câmara dos Deputados com relação ao caso Dolly para preservar a imagem do sistema Coca-Cola”. Mais: “As habilidades do consultor foram desenvolvidas ao longo de 20 anos trabalhando em Brasília, acompanhando o Governo, especialmente o Poder Legislativo, onde o risco político é sempre iminente”. O nome de APS não é citado, e a Coca-Cola não reconhece a autenticidade das mensagens.
Simbalista explica por que a Coca-Cola não quer a audiência pública na Câmara: “Achamos que o foro apropriado para a discussão de assuntos anticoncorrenciais é a Secretaria de Direito Econômico”. No dia 14 de novembro, o deputado federal Celso Russomano apresentou um requerimento de audiência pública do caso Dolly x Coca-Cola à Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara. O pedido foi retirado da pauta cinco dias depois. Russomano voltou à carga com um novo requerimento, que foi rejeitado – sem a sua presença na Casa, o que é proibido pelo regimento interno. “Pela primeira vez na história da Comissão um requerimento para apurar concorrência é rejeitado”, afirma o deputado. Russomano não estava lá para defender a convocação, mas o deputado Arnaldo Faria de Sá, que nem sequer é membro da Comissão, estava. Só arredou pé depois de ter certeza que o pedido fora rejeitado. “Sou vice-líder do partido e fui dar orientação a um colega que integra a Comissão a pedido dele”, disse à DINHEIRO Faria de Sá referindo-se ao deputado Ricarte de Freitas.
A briga vai longe. Melhor para APS, que apesar do sumiço de dois anos não desaprendeu a apreciar as boas coisas da vida. Namorado de Carla Paes de Andrade (filha do embaixador em Portugal, Paes
de Andrade, e cunhada do ministro das Comunicações Eunício Oliveira), o lobista vive sozinho numa mansão de 14 suítes em Bra-
sília. Ele e suas garrafas de champanhe francês, do qual é o maior colecionador da capital federal.
de Andrade, e cunhada do ministro das Comunicações Eunício Oliveira), o lobista vive sozinho numa mansão de 14 suítes em Bra-
sília. Ele e suas garrafas de champanhe francês, do qual é o maior colecionador da capital federal.
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