Entenda a recessão técnica do Brasil
País volta a registrar dois trimestres de PIB negativo.
Expectativa do mercado é que o PIB irá cair mais de 2% em 2015.
O Brasil voltou a ter dois trimestres seguidos de queda no Produto Interno Bruto (PIB): recuou 0,7% (dado revisado) de janeiro a março e 1,9%, de abril a junho. No "economês", esse fenômeno é chamado de recessão técnica.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existe a possibilidade de recuperação no curto prazo com a recessão técnica. Mas o mercado prevê que o Brasil passe por uma retração prolongada e que vai se estender até o ano que vem.
A expectativa dos economistas dos bancos é que, no ano, a economia tenha uma retração de 2,06%, seguida por uma queda de 0,24% em 2016. Será a primeira vez que o país registra dois anos seguidos de contração na economia, pela série do IBGE iniciada em 1948.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos dentro do país, e serve para medir o comportamento da atividade econômica.
O que significa quando um país entra em recessão técnica?
Na prática, ela serve como um termômetro para medir se a economia vai mal, explica o professor do departamento de economia da PUC-SP, Claudemir Galvani.
Na prática, ela serve como um termômetro para medir se a economia vai mal, explica o professor do departamento de economia da PUC-SP, Claudemir Galvani.
No entanto, nem sempre duas quedas seguidas do PIB mostram que o país está em crise ou que, necessariamente, produziu menos que nos períodos anteriores, explica o economista da LCA Investimentos, Francisco Pessoa.
O país pode ter ficado estagnado em um trimestre e encolhido 3% no seguinte, por exemplo, e estar em situação pior do que em uma recessão técnica com duas leves retrações. A recessão técnica indica que algo não vai bem, mas ela independe de haver reflexos diretos na economia.
ENTENDA O QUE É RECESSÃO
| |
---|---|
Recessão técnica
|
Quando o PIB fica negativo por 2 trimestres seguidos. Funciona como um alerta, e não significa que a economia vai piorar. É possível a recuperação no curto prazo.
|
Recessão real
|
Quando o conjunto de indicadores da economia aponta retração ao mesmo tempo. Há queda na produção, aumento do desemprego e de falência de empresas. A recuperação fica mais difícil.
|
O Brasil já esteve em recessão técnica?
Não é a primeira vez que isso ocorre. Também houve recessão técnica em 2009, 2007 e 1999, por exemplo.
Não é a primeira vez que isso ocorre. Também houve recessão técnica em 2009, 2007 e 1999, por exemplo.
Qual a diferença entre recessão real e recessão técnica?
Economistas consideram que a recessão real ou "profunda" independe de haver dois trimestres negativos. Quando a maioria dos indicadores econômicos – mercado de trabalho, atividade da indústria ou vendas no comércio, por exemplo – aponta quedas consistentes, já é possível concluir que a economia está num quadro recessivo, antes mesmo da divulgação do PIB pelo IBGE, explica o economista da FGV/IBRE Paulo Picchetti.
Economistas consideram que a recessão real ou "profunda" independe de haver dois trimestres negativos. Quando a maioria dos indicadores econômicos – mercado de trabalho, atividade da indústria ou vendas no comércio, por exemplo – aponta quedas consistentes, já é possível concluir que a economia está num quadro recessivo, antes mesmo da divulgação do PIB pelo IBGE, explica o economista da FGV/IBRE Paulo Picchetti.
“É o conjunto da obra que determina uma recessão”, complementa Adriano Gomes, professor da ESPM e sócio-diretor da Méthode Consultoria. Para ele, os níveis de confiança dos empresários e do consumidor, que atingiram baixas históricas, são um termômetro da falta de perspectiva de uma recuperação (a chamada luz no fim do túnel).
O Brasil já está em recessão?
Um grupo de economistas da FGV, do qual Picchetti faz parte, divulgou em agosto um estudo mostrando que o Brasil entrou em recessão desde o segundo trimestre de 2014 – mesmo não registrando a chamada “recessão técnica” (dois trimestres seguidos de queda da economia).
Um grupo de economistas da FGV, do qual Picchetti faz parte, divulgou em agosto um estudo mostrando que o Brasil entrou em recessão desde o segundo trimestre de 2014 – mesmo não registrando a chamada “recessão técnica” (dois trimestres seguidos de queda da economia).
Segundo o relatório, chegou ao fim, no primeiro trimestre do ano passado, um ciclo de 20 trimestres de expansão econômica, iniciado entre abril e junho de 2009. “Quando há uma queda generalizada do nível de atividade da economia, já podemos dizer que ela está em recessão”, explica o professor da FGV/IBRE.
Existe alguma diferença entre crise e recessão?
Para Picchetti, uma crise econômica não necessariamente significa que um país está em recessão, mas o contrário é sempre verdadeiro. "Crise pode ter um caráter mais temporário e menos estrutural e ser solucionada em um prazo relativamente curto. Já a recessão passa uma ideia de mudança de tendência de crescimento da economia com um caráter mais estrutural", explica.
Para Picchetti, uma crise econômica não necessariamente significa que um país está em recessão, mas o contrário é sempre verdadeiro. "Crise pode ter um caráter mais temporário e menos estrutural e ser solucionada em um prazo relativamente curto. Já a recessão passa uma ideia de mudança de tendência de crescimento da economia com um caráter mais estrutural", explica.
Como um país sai de uma recessão?
O fim de uma recessão só é constatado quando existe um movimento consistente de retomada em todos os indicadores econômicos, segundo Picchetti. Dados como taxa de desemprego, vendas no comércio, produção industrial e outros precisam mostrar de forma clara e conjunta que estão em recuperação.
O fim de uma recessão só é constatado quando existe um movimento consistente de retomada em todos os indicadores econômicos, segundo Picchetti. Dados como taxa de desemprego, vendas no comércio, produção industrial e outros precisam mostrar de forma clara e conjunta que estão em recuperação.
"Não adianta um trimestre de tímida recuperação na atividade da indústria para concluir que já reverteu essa tendência", diz o professor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário