Prisão corrói retaguarda de Dirceu no PT
PEDRO VENCESLAU, RICARDO GALHARDO - O ESTADO DE S. PAULO
09 Agosto 2015 | 03h 00
Suspeita de enriquecimento pessoal de ex-ministro que surgiu como líder estudantil na ditadura praticamente extingue sua base política
Dos 14 dirigentes petistas que participaram da última reunião da Executiva Nacional do partido, terça-feira, em Brasília, apenas dois defenderam que a sigla manifestasse publicamente apoio ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso na véspera pela Operação Lava Jato.
A secretária de Relações Internacionais, Mônica Valente, e o secretário de Organização, Florisvaldo Souza, chegaram a sugerir à cúpula petista que o nome de Dirceu fosse incluído na resolução política aprovada anteontem, mas foram barrados pelo presidente do PT, Rui Falcão. Mônica é mulher o ex-tesoureiro Delúbio Soares, condenado no mensalão.
O número dimensiona o isolamento do ex-ministro dentro do partido sob o qual teve controle absoluto por quase uma década e sepulta qualquer ambição dele voltar à cena política.
Um amigo próximo conta que pouco antes de ser preso, em 2013, depois de ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão, Dirceu se mostrava ainda disposto a travar o combate pela sua sobrevivência política, apesar da situação adversa. “Agora ele só quer ser esquecido”, diz o aliado.
Os petistas que antes se mobilizavam em mutirão para pagar a multa imposta pelo Supremo e fazer a defesa política de Dirceu, hoje se mostram constrangidos ao falar sobre aquele que um dia chamaram de “herói do povo brasileiro”.
Para o PT, a diferença entre a prisão de 2013 e a da segunda-feira passada é que, no mensalão, Dirceu era uma espécie de mártir que se sacrificou em nome de um projeto coletivo abastecido com dinheiro público para garantir o apoio ao governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Agora, Dirceu é visto apenas como mais um político que usou verbas públicas para bancar uma vida luxuosa, já que, segundo as delações que o levaram de volta à cadeia, empreiteiras investigadas pela Lava Jato pagaram aluguéis de jatinhos, reformas e compra de imóveis do ex-ministro. A falta de apoio de Dirceu depois da segunda prisão por acusações de corrupção não se restringe ao ambiente partidário. O ex-ministro já não conta com uma estrutura profissional para defendê-lo.
Antes cercado de assessores, funcionários e recursos para criar uma ampla rede de defesa política, Dirceu volta à carceragem da Polícia Federal com pouca retaguarda fora da prisão.
Desmantelado. Ao contrário do que aconteceu na primeira prisão, em novembro de 2013, desta vez o ex-ministro foi para a carceragem da PF, em Curitiba, sem a garantia de uma estrutura política e de comunicação para fazer sua defesa. A historiadora Maria Alice Vieira, que era responsável pela articulação política de apoios a Dirceu, foi uma das últimas funcionárias demitidas da empresa do ex-ministro, a J.D Assessoria, no fim do ano passado. Sua rescisão trabalhista só foi paga recentemente.
O assessor de imprensa Ednilson Machado foi dispensado depois da prisão na segunda-feira e o blog do ex-ministro deixou de funcionar. Alguns amigos avaliam a ideia de reativá-lo, mas relatam que estão com dificuldade de encontrar gente disposta para atuar de forma militante pela “causa”.
Dirceu também não conta mais com um grupo de militantes voluntários atuando na linha da frente em sua defesa no PT e nos movimentos sociais. Dentro da sigla, os nomes que antes o defendiam abertamente no diretório nacional hoje preferem manter distância.
Amigos da “velha-guarda” dizem que não há perspectiva, desta vez, de serem organizados atos de desagravo ou manifestos como os que marcaram o período posterior à primeira prisão. Um aliado próximo se diz “perplexo” com as novas denúncias e avalia que, diante delas, “não há mais clima” para fazer o debate político sobre a “politização do processo” e os “excessos” que marcaram o julgamento do mensalão.
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