O verdadeiro interesse dos maiores banqueiros do Brasil na permanência de Dilma no poder
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Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo no último domingo (23), o banqueiro Roberto Setubal, presidente do Itaú, disse que não há condições para um impeachment da presidente Dilma Rousseff, pois "não há nenhum sinal de envolvimento dela com esquemas de corrupção."
Ao jornal, Setubal defendeu o governo, dizendo que "Dilma permitiu uma investigação total" no caso de corrupção na Petrobras e que até mesmo as denúncias de pedaladas fiscais não seriam motivo para tirar a presidente do poder. "Até porque presidentes anteriores a ela passaram por situações semelhantes", disse.
O tom defensivo ao governo também pôde ser percebido na entrevista da Folha com o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, publicada no jornal duas semanas atrás.
Na reportagem, Trabuco disse que "a crise política é mais forte que a própria crise econômica" e que é preciso "consertar este avião [crise política] em pleno voo", pois "não dá para esperar a aterrissagem".
"Precisamos sair desse ciclo do quanto pior, melhor. Melhor para quem? Para o Brasil, não é. As pessoas precisam ter a grandeza de separar o ego pessoal do que é o melhor para o país."
O discurso de Trabuco, crítico ao "quanto pior, melhor", é o mesmo encampado por Dilma, desde antes da campanha eleitoral do ano passado.
Mas, por que os presidentes dos dois maiores bancos brasileiros estariam a favor do governo?
Num ano de retração econômica, inflação e desemprego crescentes, parece que a crise não assusta os bancos no País. Muito pelo contrário — o lucro dos bancos bateu recordes no segundo trimestre deste ano.
Itaú e Bradesco apresentaram os maiores lucros entre os principais bancos no País. Com R$ 5,98 bilhões, o Itaú conseguiu superar o resultado do trimestre anterior, que foi de R$ 5,73 bilhões.
Segundo a consultoria Economatica, o resultado é o melhor na história do banco para o 2º trimestre e o segundo maior da história em valores nominais entre os bancos brasileiros de capital aberto para o período, atrás apenas do Banco do Brasil, que lucrou R$ 7,4 bilhões em 2013.
Já o Bradesco atingiu R$ 4,47 bilhões de lucro entre abril e junho deste ano — um aumento de 5,4% sobre o resultado do primeiro trimestre. O montante também é omaior já registrado na história do banco, também conforme a Economatica.
O curioso é que os lucros astronômicos vêm em um momento de desaceleração do crédito, a principal fonte de lucro dos bancos.
No primeiro semestre deste ano, o crédito expandiu 2,8%, ante o crescimento de 4,2% nos seis primeiros meses de 2014. Para este ano, o Banco Central projeta uma expansão de 9% no crédito, contra uma alta de 11,2% em 2014.
Segundo o BC, a desaceleração está relacionada ao aumento da taxa básica de juros, a Selic, que subiu pela 7ª vez consecutiva em julho e foi para 14,25% ao ano.
Mesmo com o crédito mais caro e escasso, os bancos têm mantido seus lucros investindo em outras frentes, como os títulos do tesouro direto, redução de custos com pessoal e aumento dos preços de tarifas.
Segundo o Dieese, as receitas com títulos e valores imobiliários (TVM) representaram a segunda maior fonte de ganhos dos bancos em 2014. As receitas com o TVM dos cinco bancos subiram, em média, 45,9% em relação a 2013.
Na opinião do economista do Conselho Federal de Economia, Roberto Luis Troster, é de interesse do setor bancário sair da crise e continuar a expansão do crédito. "Quanto mais cresce a economia, mais cresce a demanda por crédito. Agora, o que interessa é sair da crise e o que pode ser feito para o Brasil passar por ela da melhor forma."
Segundo Troster, não é possível prever um cenário econômico se a presidente deixasse o cargo.
"Tem gente que ganha e gente que perde. De maneira geral, quanto maior for a estabilidade política, melhor será para o País. Seria algo tumultuado [a possibilidade de um impeachment], mas o Brasil se recuperaria."
O temor da instabilidade gerada por um impeachment e a manutenção dos lucros recordes alimentam o interesse dos bancos em manter Dilma no poder.
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