Operador
do mensalão pode esclarecer a participação do PT em caso de chantagem que envolve
a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel
Por: Robson Bonin16/12/2015 às 18:39 - Atualizado em 16/12/2015
às 20:25
Marcos Valério, operador do mensalão(Paulo Filgueiras/D.A.Press/VEJA)
Condenado
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 38 anos de prisão por ser o operador
financeiro do mensalão, o empresário Marcos Valério está disposto a se tornar o
mais novo delator da Operação Lava Jato. Preso em Minas Gerais, Valério
acompanha pela televisão os desdobramentos do petrolão e já sabe que o
pecuarista José Carlos Bumlai, preso em Curitiba, confirmou aos investigadores
uma das histórias narradas por ele em 2012, quando tentou fechar um acordo com
a Procuradoria Geral da República. Em depoimento prestado nesta segunda-feira,
Bumlai confessou aos investigadores ter servido de testa de ferro do PT para
tomar um empréstimo de 12 milhões de reais no Banco Schahin e honrar
compromissos financeiros do partido durante o primeiro governo Lula. A história
em torno do empréstimo envolvendo o Banco da família Schahin, o pecuarista
amigo de Lula e o PT é um dos episódios mais nebulosos da Era Lula no poder. É
também um mistério que Valério pode ajudar os investigadores a desvendar.
"Meu cliente quer colaborar, desde que haja algum benefício. Se for
proposto um acordo de delação premiada, ele está disposto, com certeza",
diz o advogado Marcelo Leonardo, que defende o mensaleiro.
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O
nome de Marcos Valério ressurgiu nas investigações no ano passado, depois que
os investigadores da Lava Jato encontraram no escritório de Meire Poza,
ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, um contrato de empréstimo de 6 milhões
de reais entre a 2S Participações, de Marcos Valério, e a Expresso Nova Santo
André, de Ronan Maria Pinto. Quando depôs ao Ministério Público, em 2012, pouco
antes de ser condenado, Valério contou que, no primeiro mandato de Lula, foi
procurado pelo então secretário do PT, Silvio Pereira, com um pedido de ajuda.
Na época, segundo ele, o governo estava sendo chantageado por Ronan Maria
Pinto, que ameaçava implicar Lula, Gilberto Carvalho e José Dirceu na morte do
ex-prefeito de Santo André Celso Daniel. Ronan confirmaria a tese, jamais
provada pela polícia, de que Celso Daniel foi assassinado ao tentar acabar com
um esquema de cobrança de propina pelo PT em Santo André.
O
valor do contrato - os 6 milhões de reais - era exatamente a quantia que
Valério dissera ao MP que o chantagista cobrou do PT para abafar o escândalo em
Santo André. Valério e amigos poderosos do governo foram convocados para
organizar a engenharia financeira da operação. Nessa parte da história surge
Bumlai, o amigo de Lula encarregado de levantar o dinheiro junto ao Banco
Schahin. O empresário disse aos investigadores que Bumlai contraiu o empréstimo
e, simultaneamente, usou sua influência para conseguir que a construtora
Schahin, ligada ao mesmo grupo empresarial, ampliasse seus contratos com a
Petrobras. Ao Ministério Público, Valério disse que Bumlai articulou a tramoia
diretamente com a direção da Petrobras, cujos cargos-chave eram comandados por
petistas.
Confrontado
hoje com as revelações da Lava Jato, o depoimento de Marcos Valério é de uma
precisão devastadora. Bumlai confessou que tomou o empréstimo milionário no
Banco Schahin a mando do PT. Bumlai foi acusado por diferentes delatores da
Lava Jato de ter usado sua influência política junto ao petismo para conseguir
que a Schahin conquistasse contratos bilionários na Petrobras, dentre eles o de
operação do navio-sonda Vitória 10.000, dado aos Schahin por ordem direta do
petista José Sérgio Gabrielli. O negócio, portanto, aconteceu exatamente como o
empresário dissera.
Com
todos esses pontos esclarecidos, resta saber se o empréstimo contraído por
Bumlai junto ao Banco Schahin foi mesmo usado para comprar o silêncio do
empresário Ronan Maria Pinto. Os investigadores da Lava Jato já sabem que o
contrato de empréstimo entre a empresa de Valério e Ronan pode ser a resposta.
No ano passado, VEJA revelou que Enivaldo Quadrado, um dos comparsas de Valério
no mensalão, também investigado na Lava Jato, usava o contrato para chantagear
o PT. Era a chantagem da chantagem. Enivaldo recebia do ex-tesoureiro petista
João Vaccari Neto uma mesada de 15.000 reais, paga inclusive com dólares, para
manter o documento escondido. Os pagamentos foram confirmados por Meire Poza, a
contadora de Youssef, que revelou à CPI da Petrobras ter ido três vezes à casa
do jornalista Breno Altman, petista ligado a José Dirceu, para receber o
dinheiro em nome de Enivaldo Quadrado.
Em
delação premiada, o doleiro Alberto Youssef confirmou a mesada do PT para
Enivaldo Quadrado e revelou que foi Breno Altman que encomendou a Enivaldo a
confecção do contrato envolvendo a empresa de Marcos Valério e a empresa de
Ronan Maria Pinto. "Quem pediu para que Enivaldo Quadrado fizesse o
documento era uma pessoa ligada ao Partido dos Trabalhadores chamada Breno
Altman. Por meio de tal operação, Enivaldo receberia dinheiro ou algum outro
favor", disse Youssef. O doleiro ainda afirmou que Enivaldo guardava o
contrato "a sete chaves", como "resguardo pessoal", porque
o documento comprometeria o PT na morte de Celso Daniel. "Indagado sobre o
que motivou Breno Altman a realizar tal operação (pedir para Enivaldo fazer o
contrato), foi o fato de que o PT estaria sendo ameaçado por conta do caso
'Celso Daniel', de maneira que a documentação foi preparada para atender a
determinada pessoa, que seria o proprietário de uma empresa de ônibus. A
chantagem, no entanto, objetivava que tal pessoa 'ficasse quieta' em relação ao
caso Celso Daniel", disse Youssef aos investigadores.
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