Com o presentão
que Janot deu a Dilma, Renan percebeu que está prestes a entrar na mira.
Operação busca desmoralizar PMDB como alternativa a petista
É
claro que é preciso investigar quem tem de ser investigado. Ignorar, no
entanto, o timing da operação é fazer papel de bobo
Por: Reinaldo Azevedo 16/12/2015 às 5:14
Bem, bem, bem… Quem acompanha o jogo político de
Brasília de muito perto, lá de dentro mesmo, assegura que Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), presidente da Câmara, estava, sim, irritado com o que considerou
estardalhaço da dita fase “Catilinárias” da Operação Lava Jato (um nome
infeliz, já expliquei por quê), mas não estava nem surpreso nem perplexo. Até,
ao menos, que a corda não arrebente, Cunha trata cada investida de que é alvo
como a prova dos noves de que estava certo e de que sempre houve uma
conspiração contra ele a unir Palácio do Planalto e Rodrigo Janot.
Perplexo de verdade, surpreso pra valer e, mais do
que irritado, furioso, aí quem estava era Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente
do Senado. Desde que fechou um acordão com o Planalto, ainda na reta final da
avaliação que fez o TCU das contas do governo, Renan vinha se julgando imune às
investidas da Lava Jato. Quando teve as suas conversas de cúpula no Palácio do
Planalto, saiu com a certeza de que era um aliado.
E vinha se comportando com uma subserviência altiva
realmente encantadora. Altivez subserviente, leitores, é um estilo que demanda
alguma dificuldade. Pede do ator algum preparo, certo treino. Todos vimos, no
fim de semana passado, Renan a sugerir que uma comissão do Senado poderia
simplesmente recusar o processo contra Dilma. Tratava-se, obviamente, de uma
invenção. É claro que não pode. O caput do Artigo 86 da Constituição não deixa.
Lá fica evidente que o Senado, nessa matéria, não tem “querer”.
Renan também fez eco à gritaria do governo e
prometeu manobrar com a Lei de Diretrizes Orçamentárias para impedir o recesso
do Congresso. Apresentava-se como a âncora de Dilma…
Nesta terça, viu-se tragado pela tal fase
“Catilinárias”. Parece que a Lava Jato o meteu entre os aliados de Catilina, o
Cunha dessa história, contra a destruição da República, não é? Justo ele! Tão
bonzinho com o governo! Tão compreensivo! Tão altivamente subserviente. Renan
concluiu, com o poeta, que, dada a forma como trabalha a petezada, a única
firmeza está na inconstância. O ministro Teori Zavascki não autorizou busca e
apreensão na casa e no escritório de Renan, mas três aliados seus e um agregado
passaram por constrangimentos. Contra Renan, há nada menos de seis inquéritos.
Caiu a ficha! O senador descobriu que não está blindado. Tão logo Cunha se
encontre com o seu destino, ele entra na fila.
Coincidências não existem
É claro que, nesse universo, coincidências não existem. Na lista dos políticos engolfados pela fase Catilinárias, há até um ex-ministro do PSB (Fernando Bezerra) e um deputado do Solidariedade (Áurio Lídio, RJ), mas não é preciso ser muito sagaz para concluir que o alvo é o PMDB. E que a coisa estoura um dia antes de o Supremo decidir o rito do impeachment e de as esquerdas irem às ruas em defesa de Dilma. O nome da operação poderia ser mais extenso, assim: “Vocês acham que o país pode ser governado pelo PMDB? Então vejam aí”.
É claro que, nesse universo, coincidências não existem. Na lista dos políticos engolfados pela fase Catilinárias, há até um ex-ministro do PSB (Fernando Bezerra) e um deputado do Solidariedade (Áurio Lídio, RJ), mas não é preciso ser muito sagaz para concluir que o alvo é o PMDB. E que a coisa estoura um dia antes de o Supremo decidir o rito do impeachment e de as esquerdas irem às ruas em defesa de Dilma. O nome da operação poderia ser mais extenso, assim: “Vocês acham que o país pode ser governado pelo PMDB? Então vejam aí”.
Rodrigo Janot é, sem dúvida, o mais esperto dos
procuradores-gerais que passaram pelo cargo em muitos anos. Também ele, com
mais discrição do que Renan, consegue exercitar a subserviência altiva. Esse
homem é um prodígio e merece um estudo de caso. Pensem na natureza do petrolão
e vejam a que partido pertencem os políticos mais enrolados. Pensem na natureza
do petrolão e depois olhem a razia que o MPF produziu nesta terça no…
PMDB! Ora, o que se tem aí é uma advertência: “Ah, vocês querem Michel
Temer? Esse é o PMDB, ó… Vocês vão ver”.
Um tonto logo indagaria se estou sugerindo que MPF
e PF deixem de fazer o seu trabalho para não dificultar a transição do governo
Dilma para o governo Temer. Eu não! Como sempre, só estou sugerindo que a
medida da eficiência que tem o MPF com Eduardo Cunha seja empregada também nos
outros casos. Ora, contra Lula, reitero, não há nem um inquérito. Tenham
paciência! Essa foi, sem dúvida, pelo timing, a mais vistosa colaboração de
Janot contra o impeachment.
Nesta quarta, os manifestantes do MCTO — Movimento
dos Com-Tetas Oficiais — poderão bradar todo o seu ódio contra os peemedebistas,
enquanto assegurarão a inocência de Dilma, a lisura de sua administração, as
múltiplias conspirações que estariam em curso contra um governo operário…
Ocorre que as coisas são um pouco mais complicadas
do que parecem à primeira vista. Se a investida contra o PMDB busca
desmoralizar o partido como alternativa de poder, é evidente que também
contribui para unir correntes que haviam se distanciado em função, justamente,
da interferência do governo. Já afirmei e estou convicto disto: Dilma estaria
melhor sem esse presentão de aniversário de Janot. É o tipo de mimo que sai
pela culatra.
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