terça-feira, 31 de julho de 2018

Bolsonaro diz que Janaína é “não é mais uma opção, ela é a opção”

Bolsonaro diz que Janaína é “não é mais uma opção, ela é a opção”




Brasil 31.07.18 10:00

Lauro Jardim diz que Luiz Philippe de Orléans e Bragança deve ser o vice de Jair Bolsonaro.
Já a Veja afirma que, antes do Roda Viva, o candidato e Janaína Paschoal se reuniram durante duas horas e que a conversa avançou para ela ser vice.
“Ela não é mais uma opção, ela é a opção, está excelente. É a melhor opção que nós temos no momento”, disse o deputado à revista.
Janaína só não será vice de Bolsonaro se não quiser, segundo a Veja.

Audiência de entrevista com Bolsonaro bate recorde

Audiência de entrevista com Bolsonaro bate recorde

Brasil 31.07.18 09:46 



A entrevista de Jair Bolsonaro no Roda Viva terminou com 228 mil pessoas assistindo ao programa no Youtube, um recorde absoluto.
Na TV tradicional, foi a maior audiência entre todos os candidatos a presidente entrevistados.
Agora só falta a Wikipedia registrar.

Com Bolsonaro, “Roda Viva” tem melhor audiência desde a entrevista com Sérgio Moro

O “Roda Viva” desta segunda feira (30), recebeu o candidato ao Palácio do Planalto, Jair Messias Bolsonaro (PSL), que foi sabatinado pelos jornalistas convidados. A entrevista, como sempre polêmica, foi o principal assunto nas redes sociais, tanto favoráveis aos argumentos do ex-militar, quanto contrários, a hashtag do programa chegou a ficar entre os assuntos mais comentados do Mundo no Twitter, assim como o nome de Bolsonaro, que também entrou no top 10 dos assuntos.
Na audiência, após o fiasco com a entrevista de Geraldo Alckmin (PSDB), na semana, o programa recuperou sua média e acabou batendo seu segundo melhor resultado no ano, deixando a emissora na quarta colocação isolada, à frente da Band e RedeTV!, que normalmente pontuam melhor neste horário. 
O programa, exibido entre 22h15 e 23h45, marcou segundo dados preliminares do Kantar Ibope 2,4 pontos de média e chegou a picos de 2,9 pontos na Grande São Paulo, somando 3,8% de participação total em share. O índice só não supera a entrevista do Juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, que em março fez o programa registrar recorde de audiência. 
Bolsonaro é atualmente líder nas pesquisas de intenção de votos, chamado de ‘mito’ por seus seguidores, o ultra conversador sempre ficou marcado e conhecido mais por suas falas que atitudes de fato. 
Por meio das redes sociais, alguns militantes de Bolsonaro criticaram a TV Cultura pelo modo em que a entrevista estava sendo conduzida, segundo eles: uma cilada para um suicídio político.

Bolsonaro segue na liderança sem Lula, segundo Paraná Pesquisas

Bolsonaro segue na liderança sem Lula, segundo Paraná Pesquisas

Brasil 31.07.18 09:23


Jair Bolsonaro tem 23,6% das intenções de voto, de acordo com nova sondagem do Instituto Paraná Pesquisas. Ele aparece isolado, seguido de longe por Marina Silva, com 14,4%.
Geraldo Alckmin surge com 7,8%, atrás de Ciro Gomes, que tem 10,7% dos eleitores. Poste de Lula, Fernando Haddad tem apenas 2,8%, atrás de Álvaro Dias, com 5%.



sábado, 28 de julho de 2018

Bolsonaro se isola em primeira semana como candidato oficial

Bolsonaro se isola em primeira semana como candidato oficial

Campanha do PSL ao Planalto enfrenta conflitos internos e impasse sobre vice

Talita Fernandes
Depois de sair da convenção que formalizou sua candidatura sem definição de seu vice, Jair Bolsonaro passou sua primeira semana como candidato oficial do PSL à Presidência da República sem agendas de campanha.
O único evento do qual o deputado participou foi a palestra “Projeto Brasil” no Clube Militar do Rio, na segunda (23), um dia após a convenção de seu partido.
O deputado federal Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência - Adriano Machado/Reuters
Desde então, ele ficou em casa na maior parte do tempo, de onde conversa sobre definições da estrutura de sua campanha com alguns aliados por telefone. Na quarta (25), foi ao Maracanã para assistir ao jogo de seu time, o Palmeiras, contra o Fluminense.
De acordo com pessoas próximas ao deputado, ele se irritou com as disputas no PSL por causa de indefinições da campanha, como a escolha do vice.
A semana foi marcada por divergências de opinião entre pessoas ligadas à antiga estrutura de comando do partido, e ao atual ocupante do cargo, Gustavo Bebianno, homem de confiança de Bolsonaro, conforme revelou o Painel.
O primeiro desconforto veio com a decisão de Bebianno de aconselhar o presidenciável a cancelar sua participação na Cúpula Conservadora das Américas, do qual seria o principal convidado. O evento estava previsto para este semana, em Foz do Iguaçu (PR).
Depois de uma tarde de longas discussões, a organização resolveu na quarta (25), dois dias antes do início do evento, anunciar seu adiamento para dezembro, depois das eleições. “A transferência foi motivada pela posição do presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, no sentido de que o evento poderia gerar questionamentos perante a Justiça Eleitoral”, diz nota publicada no site da organização do evento.

O vice-presidente do PSL, Julian Lemos, reconhece que a decisão desagradou alguns quadros do partido, mas nega que haja divergência dentro da sigla. “É feito casamento, vai ter gente que vai gostar, tem que gente que não vai gostar.”
Outro problema que tem permeado a semana do presidenciável é a indefinição sobre quem será seu vice. O PSL busca solução interna depois de ter sofrido a negativa de três legendas para formação de alianças, PR, PRP e PRTB.
Uma pessoa próxima a Bolsonaro disse que ele reclamara do fato de que muitos querem emplacar um candidato a vice.
Sem fazer menções diretas a ninguém, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável, deixou transparecer o desconforto nas redes sociais.
“Determinados assuntos têm que ser resolvidos internamente e divulgados apenas quando há certeza.
Mas a vontade de aparecer fala mais alto e muitos tentam ser o pai da criança. Conselho: faça as coisas por satisfação própria e será recompensado, buscar holofote só atrapalha”, escreveu o parlamentar na sexta (27).
Lemos, contudo, nega que haja qualquer problema com a escolha do vice ou de conflitos. Segundo ele, não faltam candidatos a vice, mas sim uma decisão de Bolsonaro.
Até a convenção de domingo, o nome da advogada Janaína Paschoal, coautora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, era uma das favoritas para ocupar o posto.
Integrantes da campanha, contudo, veem como muito baixas as chances de ela aceitar a função. Janaína e Bolsonaro, que se conheceram pessoalmente há menos de uma semana, devem ter novo encontro na segunda (30), em SP, para bater o martelo sobre a participação da advogada.
Além de Janaína, há uma lista de possíveis vices que passa por deputados, o astronauta Marcos Pontes e o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, todos filiados ao PSL.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Temer antecipa retorno da África do Sul para não deixar Eunício inelegível

Temer antecipa retorno da África do Sul para não deixar Eunício inelegível

Viagens dos presidentes do Senado e da Câmara nos últimos três meses que custaram pelo menos R$ 250 mil aos cofres públicos


Felipe Frazão e Célia Froufe, enviados especiais, O Estado de S.Paulo
27 Julho 2018 | 11h57
Chefes de Estado dos Brics se reúnem na África do Sul durante cúpula do bloco  Foto: Cesar Itiberê/PR
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, que substituiu Temer após o presidente deixar a mesa de chefes de Estado e governo do Brics na última reunião da 10ª Cúpula, Eunício vai à convenção do MDB do Ceará neste sábado e precisa retornar a tempo ao País. 
"O presidente tem que estar no Brasil a tempo de o presidente do Senado pode entrar no território nacional, sem correr o risco de ficar inelegível. O presidente do Senado tem uma reunião amanhã, a convenção do MDB no seu Estado, e precisa estar lá a tempo", disse o ministro. Aloysio Nunes negou que a antecipação tenha prejudicado a participação de Temer nos Brics.
Como Temer não tem vice-presidente da República, os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, nesta ordem, teriam assumir o governo na ausência do presidente da República. Eles, no entanto, disputarão a reeleição. Por isso,viajaram ao exterior  durante a passagem de Temer pela África. Saiba mais:
No período pré-eleitoral, os substitutos imediatos de Temer têm de se ausentar do País quando o presidente também viajar ao exterior, caso desejem disputar um novo mandato, sob o risco de não estarem desincompatibilizados a tempo.
 A Justiça Eleitoral exige prazo de seis meses antes do pleito, sob pena de inelegibilidade. Se substituíssem Temer temporariamente na Presidência, eles só poderiam disputar o cargo de presidente da República em outubro.
Na prática, que acaba assumindo o Planalto é a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, terceira na atual linha sucessória.  

Por que está tão difícil escolher um vice e por que ele é importante

Por que está tão difícil escolher um vice e por que ele é importante

Fernanda Odilla - Da BBC News Brasil em Londres
27/07/2018 07h48 Atualizada 27/07/2018 07h52
  • Nilson Bastian/Câmara dos Deputados; Alice Vergueiro/Estadão Conteúdo; Alex Silva/Estadão Conteúdo; Marcelo Chello/Estadão Conteúdo
O Brasil guarda, em sua história, um capítulo especial para vice-presidentes. Num período de 57 anos, o país foi comandado por quatro vices. João Goulart, José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer assumiram em circunstâncias distintas, mas, juntos, governaram como vices por mais de uma década
E, a poucas semanas da data limite para registrar candidaturas para as eleições de 2018, os pré-candidatos ainda tentam firmar coligações e escolher o nome de seus vices.
Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSB), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), por exemplo, ainda não definiram ao lado de quem vão disputar as eleições marcadas para 7 de outubro.

Mas, afinal, qual é a importância de um vice?

A Constituição de 1988 determina em seu artigo 79 que o vice-presidente deve substituir ou suceder o Presidente da República. O vice tem, segundo o texto constitucional, a atribuição de auxiliar o presidente "sempre que por ele convocado para missões especiais".
No Brasil, mesmo sem uma missão especial, o vice-presidente eleito possui residência oficial no Palácio do Jaburu e despacha num anexo do Palácio do Planalto.
O professor Anthony Pereira, diretor do Brazil Institute do King's College London, observa que, num sistema presidencialista no qual o chefe do Executivo é escolhido pela maioria dos eleitores, a figura do vice representa, em tese, a continuidade e estabilidade democrática.
"Em teoria, na ausência do titular, o vice representa a chapa eleita pela maioria e tem legitimidade para continuar o governo. O papel dele seria garantir a continuidade democrática, uma vez que a chapa representa uma conexão direta entre eleitores e candidatos", diz Pereira, lembrando que em 1993 o país escolheu esse modelo por meio do plebiscito realizado para escolher a forma e o sistema de governo.
A figura do vice também tem se mostrado importante na composição de alianças. Oferecer a vaga de vice numa chapa a um integrante de outro partido pode significar tempo adicional de propaganda no rádio e na televisão, e pode ainda atrair para a coligação outras legendas aliadas do partido ao qual o vice pertence. Nesse cenário, pode também representar problemas em caso de uma coligação com muitas legendas e postulantes à vaga de vice.
Pereira lembra que em 2003, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva abriu mão de integrantes de partidos tradicionalmente aliados como o PCdoB e o PSB e escolheu o empresário José Alencar do PL. "O vice também serve para atrair outro tipo de eleitor", diz o professor.
Nem sempre foi assim, contudo. Em 1960, o Brasil votou separadamente para presidente e para vice.
Mas Jânio Quadros renunciou à Presidência em agosto de 1961 e substituído pelo vice João Goulart, que ficou no cargo até 1964 quando foi deposto pelo golpe militar sob alegação de que teria abandonado o cargo.
Já nas eleições indiretas de 1985, que marcaram o fim da ditadura militar, o Congresso elegeu a chapa encabeçada por Tancredo Neves e com José Sarney como vice. Com a morte de Tancredo antes da posse, Sarney assumiu o posto máximo do Executivo e comandou o Brasil por todo o mandato de 5 anos, de 1985 a 1990.
Nas eleições seguintes, Fernando Collor foi eleito, mas deixou a Presidência em dezembro de 1992 (Collor renunciou ao cargo antes de o Senado votar o impeachment dele) e seu vice Itamar Franco, que havia sido eleito na mesma chapa, governou o Brasil até janeiro de 1995.
Michel Temer, por sua vez, ocupa a Presidência desde 2016. Eleito duas vezes como vice de Dilma Rousseff, ele assumiu a principal cadeira do Palácio do Planalto em maio de 2016 com o afastamento temporário da presidente e, em agosto, foi efetivado no cargo depois que o Senado votou pelo impeachment de Rousseff.

Por que está tão difícil encontrar um vice nas eleições de 2018?

Para as eleições de outubro, a data limite para registro dos candidatos é 15 de agosto. Mas, a cerca de três semanas do prazo limite, os principais pré-candidatos ainda não anunciaram quem serão seus respectivos vices.
Jair Bolsonaro (PSL) ainda espera uma resposta da professora universitária Janaína Paschoal, quarto nome cotado para compor a chapa com ele. Bolsonaro viu outros três nomes desistirem de concorrer ao seu lado: Eliana Calmon, ex-corregedora do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e ex-ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça), o senador Magno Malta e o general da reserva Augusto Heleno.
Mas não é só Bolsonaro que enfrenta dificuldades para encontrar um nome para compor a chapa.
Apesar de o "centrão", nome do bloco composto por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade, ter sinalizado que apoiará Geraldo Alckmin (PSDB), ainda não há definição sobre quem será indicado ao posto de vice.
Marina Silva (Rede), que começou a campanha de 2014 como vice e foi alçada à titular da chapa com a morte de Eduardo Campos, tem mantido conversas com representantes do PV, PHS, PPS e PMN, mas não descarta uma solução interna com um nome da própria Rede.
Ciro Gomes (PDT), por sua vez, flerta com o PSB e o PCdoB, mas não bateu o martelo sobre quem será seu companheiro de chapa.
Segundo Anthony Pereira, a escolha de um vice está mais demorada nas eleições de 2018 por causa do cenário eleitoral incerto. "Partidos e candidatos ainda não sabem exatamente quem estará nas urnas e por isso estão esperando mais tempo para definir quem apoiar", avalia, assinalando que as dúvidas em relação à candidatura de Lula é o principal fator de muita gente estar em compasso de espera.
"Não se sabe com certeza se o PT vai registrar o nome de Lula ou de outra pessoa, nem quando a Justiça Eleitoral vai se posicionar em relação à possibilidade de Lula disputar a eleição. Por isso os políticos e partidos estão demorando mais tempo para definir alianças", avalia o diretor do Brasil Institute.

Dá para viver sem vice?

O professor Anthony Pereira diz que atualmente é plenamente possível governar estando fora do país. "Manter um vice sem função, apenas esperando a morte do titular, parece algo antiquado", observa.
Mas, afinal, é possível ser chefe do Executivo sem um vice? Dois vizinhos do Brasil na América Latina provam que sim.
O México aboliu a figura do vice-presidente em 1917. No Chile, é um ministro quem ocupa o cargo de vice e, na impossibilidade definitiva do titular continuar no cargo, novas eleições devem ser convocadas em 10 dias se faltar dois anos ou mais de mandato.
No caso do Brasil, para abolir a figura do vice-presidente seria necessário mudar a Constituição.

Um vice pode ocupar outra função no governo?

Anthony Pereira lembra que no Brasil, apesar de vices terem escrito parte da história recente do país ao ocuparem a principal cadeira do Executivo, muitos deles parecem não ter muita função além de esperar que o titular se ausente. "Marco Maciel, vice de Fernando Henrique Cardoso, era praticamente invisível. José Alencar, por um bom tempo, também foi", diz o professor.
Mas é possível dar uma função - e até mesmo um ministério - para manter o vice ocupado.
José Alencar, em novembro 2004, foi escolhido por Lula para comandar o Ministério da Defesa, acumulando a função com a de vice. Alencar renunciou ao Ministério da Defesa em março de 2006 para poder se candidatar à reeleição, novamente como vice de Lula.
Anos depois, em 2015, Dilma Rousseff deu ao vice Michel Temer a Secretaria de Relações Internacionais (SRI), que tinha status de ministério, para que ele comandasse as funções de articulação política com o Congresso. Temer ocupou a função por poucos meses e pediu para sair, o que agravou ainda mais a crise no governo Dilma-Temer.

"Vice só serve para tramar"

O petista Jaques Wagner, ex-ministro de Dilma e ex-governador da Bahia, foi um dos responsáveis pela indicação do então vice para as articulações políticas do governo Dilma Rousseff.
"Se alguém tem culpa, eu tenho porque fui um dos que sugeriu [o nome de Temer para a SRI]. A gente precisava dividir o poder. Ela era a presidente e não dava para manter um grupo de coligação com poder absoluto", disse à BBC News Brasil em 2017, quando participada de um seminário em Oxford.
O próprio petista é um político crítico à figura do vice.
Diante de uma plateia lotada em Oxford, Wagner arrancou risos ao dizer que vice só serve "para tramar e gerar despesa".
"Para que vice? Vice só serve para tramar, gastar dinheiro. Só gera despesa", declarou o petista na ocasião, dizendo que nem mesmo em caso de viagem é preciso de substituto. Para ele, com a tecnologia disponível hoje, é possível dar ordens e assinar documentos à distância.
Questionado pela BBC News Brasil sobre a relação que manteve com os dois vices durante o período em que governou a Bahia, Wagner disse: "Tive dois vices fantásticos". Ele afirma ter tentado dar funções aos substitutos diretos. O primeiro, do PMDB, tinha 90 anos e não aceitou comandar nenhuma secretaria. O segundo, hoje no PSD, ficou responsável pela infraestrutura da Bahia. "Cabeça vazia é morada do diabo", diz o petista.

A mesada de Toffoli

A mesada de Toffoli

O próximo presidente do Supremo Tribunal Federal recebe 100 mil reais todo mês em uma conta mantida no Banco Mercantil. O dinheiro é repassado pela mulher dele. Roberta Rangel é dona de um escritório de advocacia que alcançou o sucesso em Brasília depois que Dias Toffoli ascendeu na carreira. As transações foram consideradas suspeitas por técnicos do próprio banco

José Antonio Dias Toffoli tinha um currículo tímido quando, de advogado do PT, começou a ascender na estrutura do governo Lula até ser nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal pelo então presidente petista. De bon vivant, passou a ter um cotidiano discreto. 
Casou-se com Roberta Maria Rangel, sua ex-sócia na advocacia eleitoral. A vida sossegada de homem casado se transformou em prosperidade. Com um salário de 33 mil reais no Supremo, o ministro que no próximo mês de setembro assume a cadeira de presidente da corte recebe da mulher uma mesada na casa dos 100 mil reais por mês. 
De um lado, Roberta Rangel atua em causas multimilionárias e, de outro, banca o marido com um valor mensal que equivale a mais que o triplo do salário que ele recebe no serviço público. O ministro tem a conta bancária de um advogado de sucesso. 
A história que Crusoé conta nesta reportagem mostra indícios de irregularidades nas transações do casal e a omissão de um banco - Banco Mercantil - onde tudo acontece sem que as autoridades financeiras tomem conhecimento. A conta em que os depósitos são feitos mês a mês é administrada por um funcionário do gabinete do ministro – um bancário que, lotado na assessoria de Toffoli, recebe salário dos cofres públicos para cuidar de suas finanças pessoais.
A sociedade de Toffoli e Roberta Rangel em um modesto escritório de Brasília que estava bem longe da ribalta antes de ele subir na carreira virou casamento em 2013. Os dois se uniram em regime de comunhão parcial de bens. O matrimônio, formalizado por um cartório de Taguatinga, cidade-satélite do Distrito Federal, logo se transformaria em uma sólida relação financeira cujas movimentações passam por uma conta no pouco conhecido Banco Mercantil do Brasil. 
Sediado em Belo Horizonte, o Mercantil do Brasil mantém uma discretíssima agência em Brasília, escondida no segundo andar de um prédio comercial da região central da cidade, para atender clientes como Toffoli. Pelo menos desde 2015, a conta aberta cinco anos antes na agência 0092 do banco mineiro recebe, mensalmente, 100 mil reais. Na ponta do lápis, os créditos somam mais de 4,5 milhões de reais desde então. Os detalhes das transações tornam a história ainda mais interessante.
Crusoé
A agência do Mercantil em Brasília: escondida no segundo andar de um prédio comercial da região central da cidade

A conta é conjunta. Está em nome de Toffoli e Roberta. Mas as transferências realizadas todo mês vêm sempre de uma conta da mulher do ministro no banco Itaú. Ou seja: Roberta transfere os valores de uma conta pessoal sua para uma conta conjunta que divide com o marido. Em tese, poderia ser apenas questão de organização financeira do casal. Mas há elementos que mostram que a conta no Mercantil serve, na verdade, ao ministro Toffoli. O primeiro sinal é que a conta tem um procurador autorizado a movimentá-la, e esse procurador é ninguém menos que um assessor do gabinete de Toffoli no Supremo. O segundo sinal, ainda mais eloquente, é que o dinheiro que entra na conta sai para bancar despesas que são, claramente, do próprio ministro. Como, por exemplo, a transferência também mensal de 50 mil reais para Mônica Ortega, ex-mulher de Toffoli. Explicando em miúdos: dos 100 mil que entram na conta, vindos da atual esposa do ministro, dona de uma banca de advocacia que foi alcançando o sucesso à medida que o próprio Toffoli ascendia na carreira, metade sai para pagar uma espécie de pensão do ministro à sua ex-mulher. E o restante do valor é usado para bancar despesas também atribuídas a ele. Ou seja: todos os caminhos levam a crer que os 100 mil transferidos todo mês por Roberta Rangel servem para que Toffoli cubra despesas próprias.
Mônica Ortega, a ex-mulher do ministro que acaba recebendo a metade da mesada, foi funcionária da Casa Civil do Palácio do Planalto no governo Lula, quando Toffoli também trabalhava por lá. Eles se casaram em 1997, mas romperam em uma situação incomum. Em 2003, Toffoli costumava dizer que já estava separado. Mas a formalização da separação só se deu três anos depois, quando a Justiça homologou um acordo entre os dois. Estava efetivada a separação consensual, portanto. Mas as coisas não deram certo e, um ano depois, o casal voltou à Justiça para desfazer o acordo por meio de uma ação de divórcio. 
O que era consensual virou, por razões que são mantidas em segredo no processo, motivo de litígio
Oito anos depois de sair a sentença no processo de divórcio e dois anos após Toffoli casar com sua nova esposa, a advogada Roberta Rangel, a ex começou a receber os repasses mensais. A pensão, curiosamente, é maior do que o próprio salário do ministro. Mas essa ainda não é a parte mais estranha da história.
Adriano Machado/Crusoé
O prédio onde a mulher do ministro trabalha e, no detalhe, a entrada do escritório: nome só no tapete

Crusoé descobriu que, ao menos em 2015, a área técnica do Banco Mercantil do Brasil viu indícios de lavagem de dinheiro nas transações envolvendo a conta do ministro. A conclusão dos técnicos do banco, por si só, não é um atestado de ilegalidade. 
A regra manda que, nessas situações, as transações tidas como suspeitas sejam reportadas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf, o órgão de inteligência do Ministério da Fazenda que registra as operações num banco de dados e, a depender do caso, encaminha os indícios para as autoridades competentes, como a polícia ou o Ministério Público. 
Todos os dias, os bancos em geral reportam milhares de transações ao Coaf, desde grandes transferências a saques vultosos em dinheiro vivo. Em casos como o de Toffoli, as normas do Banco Central mandam que sejam consideradas atípicas movimentações habituais de valores sem justificativa clara e, ao mesmo tempo, incompatíveis com a renda do cliente. Para não falar, obviamente, do fato de o ministro se enquadrar no perfil de “pessoa exposta politicamente”, o que ao menos no papel obriga os bancos a acenderem o sinal amarelo sempre que houver qualquer indicação de movimentação fora dos padrões. 
Acontece que, apesar da sugestão da área técnica de encaminhar os dados ao Coaf em 2015, houve uma ordem explícita da diretoria do Mercantil para que a comunicação não seguisse adiante. O caso, que deveria ser despachado para a sede do Coaf, em Brasília, foi simplesmente engavetado. Os diretores do banco disseram que a renda do casal estava desatualizada e que, por isso, o alerta não deveria ser disparado. Tudo ficou como estava. E as transações seguiram ocorrendo.

As outras encrencas do ministro

No pente-fino que fizeram sobre as operações financeiras de Toffoli, os técnicos do Banco Mercantil levantaram todos os sinais atípicos em torno da conta do ministro. Inclusive o fato de ela ser movimentada por um procurador, o tal funcionário do gabinete. Ricardo Newman de Oliveira, servidor de carreira do Banco do Brasil, trabalha com Toffoli há pelo menos dez anos. Antes, ele era gerente de agências em Brasília. 
Quando Toffoli foi nomeado advogado-geral da União, Newman recebeu o convite para ser seu “assessor externo”. Deu liga. Já no Supremo, primeiro o ministro o nomeou como assistente de gabinete. Depois, o promoveu para assessor direto, um dos cargos mais cobiçados na burocracia da corte. 
Newman aparece nos registros da área técnica do Banco Mercantil justamente por acumular o papel de assessor no STF com o de administrador da conta de Toffoli. Na prática, é ele quem cuida pessoalmente das despesas custeadas com a mesada repassada por Roberta Rangel. O bancário que Toffoli mantém no gabinete aparece ainda nos registros por outra razão: ele próprio figurou, por vezes, como destinatário de parte do dinheiro que entra na conta do ministro. Ao todo, Newman recebeu mais de 150 mil reais em transferências feitas com autorização de Toffoli.
Adriano Machado/Crusoé
Newman, o gerente que virou assessor de Toffoli, chega à casa do ministro na manhã da última quarta-feira: autorização para movimentar a conta

O Banco Mercantil foi criado em Curvelo, cidade do interior mineiro, a 160 km de Belo Horizonte. Desde a década de 1950, é controlado pela família Araújo, tradicional no estado. O foco principal de suas operações está em Minas e no interior de São Paulo. Atualmente, o Mercantil diz ter cerca de um milhão de correntistas. A relação do ministro Toffoli com o banco é um capítulo à parte. Além de figurar como relator de processos de interesse do Mercantil no Supremo, o ministro aparece como beneficiário de generosas operações autorizadas pela cúpula do banco
Desde 2009, quando Toffoli passou a integrar a corte, chegaram por lá cerca de 270 processos que tinham o Mercantil como uma das partes – seja no polo passivo ou ativo. Toffoli foi relator de 13 dessas ações e não se declarou impedido. Em outra frente, na relação banco-cliente, os caminhos de Toffoli e do Mercantil também se cruzaram. Documentos internos do banco obtidos por Crusoé mostram que, em 2011, Toffoli pediu um empréstimo de 900 mil reais ao Mercantil. As parcelas ficaram em 13.806 reais, a serem pagas ao longo de 15 anos. A prestação representava quase 75% dos 18 mil reais líquidos que Toffoli recebia oficialmente àquela altura. Mesmo assim, o banco considerou que a prestação era compatível com os seus rendimentos e liberou o financiamento. E a taxa de juros foi generosa: 1,35% ao mês. Naquela época, o setor de financiamentos do Mercantil operava com uma média de 2,6% de juros ao mês para o crédito pessoal. Ou seja, Toffoli teve uma taxa de praticamente a metade da que era oferecida aos demais clientes.
O documento que registra o empréstimo do Mercantil para Toffoli a uma taxa camarada

Graças ao Mercantil, o ministro também apareceu em uma investigação do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro. Os procuradores descobriram que o banco foi usado para repassar 350 mil reais para Toffoli dar aulas na Universidade Gama Filho. Em uma decisão temerária e repleta de suspeitas, o enrolado Postalis, o fundo de pensão dos funcionários dos Correios, havia escolhido a instituição para investir parte de seu dinheiro. Enquanto não recebia os aportes, era com dinheiro do Banco Mercantil que a Gama Filho pagava alguns de seus prestadores de serviço. Um deles era Toffoli, que dava aulas na universidade. O dinheiro era repassado pelo Mercantil e, em seguida, transferido para o ministro. Quando a Gama Filho recebia os recursos do Postalis, ressarcia o banco. Ocorria uma espécie de triangulação. 
Um dos citados na investigação do Ministério Público é Ronald Guimarães. Empresário, ele tinha um processo que chegou ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, em 2014, envolvendo uma imobiliária registrada em seu nome. Era uma causa de incríveis 250 milhões de reais e o empresário já tinha uma estrela em sua defesa. Era Cezar Peluso, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. Mesmo assim, Ronaldo Guimarães não titubeou e contratou uma advogada de Brasília: Roberta Maria Rangel. O caso segue em aberto, agora no Supremo e com outros advogados, no gabinete da ministra Cármen Lúcia.
Roberta Rangel, a mulher do ministro que é responsável por repassar a mesada de 100 mil reais para a conta no Mercantil, é um daqueles exemplos raros de sucesso repentino nas bancas de Brasília. Discreta, ela despacha em um escritório localizado em um prédio moderno conhecido por abrigar os famosos lobistas que circulam pela capital. A sala é tão discreta como ela. À diferença das grandes bancas que gostam de exibir suas marcas, o nome do escritório de Roberta aparece apenas no tapete. Sua carteira de processos salta aos olhos. São centenas deles, que tramitam ou tramitaram principalmente no Superior Tribunal de Justiça e no Tribunal Superior Eleitoral. Algumas das causas são milionárias. Entre seus clientes há uma infinidade de políticos desconhecidos (muitos prefeitos de cidades pequenas e médias, por exemplo), um “banqueiro” de jogo de bicho e empresas. No STJ, por sinal, ela atuou recentemente em um caso interessante. Era um processo vindo do estado de Mato Grosso e envolvia disputa de terras. O que estava em jogo não eram as propriedades em si, mas o que havia nelas: plantações de soja. Ao chegar em Brasília, uma das partes contratou o escritório do advogado Sérgio Bermudes, que tem como sócia Guiomar Mendes, mulher do ministro Gilmar Mendes. A outra parte não ficou atrás e contratou a mulher de Toffoli. Quem ganhou a ação? Os dois escritórios. O embate foi encerrado porque, no fim do ano passado, as partes fizeram um acordo. Os honorários não são discriminados. Mas o documento, obtido por Crusoé, deixa claro que Roberta Rangel se deu bem com o acerto.
Escritórios de sucesso: mulheres de Toffoli e Gilmar fazem acordo em processo milionário

A prosperidade de Roberta no STJ não se reproduz com a mesma ênfase no Supremo, onde ela evita atuar. 
Mas um caso, em especial, ajuda a entender como funciona a engrenagem dos tribunais superiores em Brasília nessas situações em que é preciso lidar com os impedimentos. Era dezembro de 2014. Roberta deixou de atuar em um processo sob a relatoria do marido, mas repassou a tarefa para o colega Daniane Mangia Furtado. 
Daniane trabalhou com o próprio Toffoli nos tempos em que o ministro ainda estava na advocacia. Toffoli acabou não decidindo. Declarou-se impedido. Mas a relação com Daniane segue firme e forte. Hoje ele é sócio de Roberta Rangel. 
O sócio da mulher do Toffoli, portanto, é um ex-parceiro do próprio ministro. Por sinal, logo no início do governo Lula, Toffoli foi indagado sobre a razão pela qual ele, mesmo estando no governo, seguia como advogado em um processo do PT contra a Petrobras. 
Respondeu que não havia problemas formais em seguir no caso. Quem tocava o processo diretamente era Daniane. Sobre ele, Toffoli admitiu na ocasião: “É a pessoa que cuida do escritório para mim”.
Roberta Rangel evita processos no STF, mas coloca seu sócio, que já foi funcionário de Toffoli, para atuar


Não faz muito tempo, uma causa de Roberta deu dor de cabeça ao ministro. 

Uma reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que o escritório dela recebeu 300 mil reais entre 2008 e 2011 do consórcio Queiroz Galvão-Iesa, que tinha contratos com a Petrobras e foi citado no esquema de propinas que assaltou a estatal. Eles negaram qualquer irregularidade. Além da advocacia, Roberta Rangel acumula outros dois empregos. É procuradora da Câmara Legislativa do Distrito Federal, um cargo público que lhe rende salário com a flexibilidade de poder advogar, e é dona do Instituto Brasiliense de Estudos Tributários. 

Esse instituto foi criado em março deste ano e tem como sede o próprio escritório de advocacia que Roberta mantém em Brasília. Procurado por Crusoé, Toffoli não quis falar. “O ministro não irá se manifestar”, respondeu sua chefe de gabinete. Roberta Rangel também não quis se pronunciar.

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