Deputados do PT
que pediram Lula solto chegaram à PF na mesma hora que saiu decisão de
plantonista
Desembargador Rogério Favreto decidiu colocar
ex-presidente na rua às 9h05 do domingo; no mesmo momento Wadih Damous e Paulo
Pimenta avisaram polícia sobre decisão
Ricardo Brandt, Julia Affonso, Fausto
Macedo e Luiz Vassallo
12
Julho 2018 | 05h00
Damous, Pimenta e
Teixeira, autores do HC. Foto: Everson Bressan/Futura Pressa/Estadão Conteúdo
Dois dos três
deputados federais que apresentaram o habeas corpus com pedido de liberdade
para Luiz Inácio Lula da Silva, Wadih Damous (PT-RJ) e Paulo Pimenta (PT-RS),
chegaram à sede da Polícia Federal em Curitiba – o berço da Operação Lava Jato
– no mesmo momento em que o desembargador do plantão do Tribunal Regional
Federal (TRF-4) Rogério Favreto expedia a decisão acatando os argumentos de que
havia “fato novo” no processo.
Lula está condenado
em segundo grau a 12 anos e um mês de prisão no caso do triplex e cumpre pena
em uma cela especial para ele no prédio da Superintendência da PF, desde o dia
7 de abril. Eram 9 horas e 5 minutos quando o despacho de Favreto foi assinado
eletronicamente e as partes envolvidas no pedido puderam tomar conhecimento.
Damous e Pimenta já
estavam na sede da PF, no aprazível bairro do Jardim Santa Cândida, num dos
extremos da capital paranaense. Da área central da cidade, onde estão a maioria
dos hotéis, são pelo menos 15 minutos para chegar até o local.
Em três declarações feitas pelos deputados e
registradas no perfil do Facebook de Lula no domingo, 8, para
os manifestantes pró-Lula e para jornalistas, na frente da PF, eles afirmam e
repetem que os dois chegaram às 8h30 à sede da PF.
Os dois afirmam ainda
que o despacho do desembargador do plantão do TRF-4 com a decisão de decretar a
soltura do ex-presidente já havia sido dado e comunicado à polícia. O despacho
entrou no sistema eletrônico de processos do tribunal às 9h05 exatamente.
Os dois autores do
habeas corpus pediram para falar com os policiais logo depois das 9 horas,
segundo apurou o Estadão.
Ao longo do dia, os
dois reiteraram que estavam na PF desde as 8h30 e também que o juiz federal
Sérgio Moro – titular da Lava Jato na primeira instância – estaria de férias em
Portugal, o que não foi confirmado. E que a decisão dele de não liberar Lula e
pedir o posicionamento do relator do processo no TRF-4, João Pedro Gebran Neto,
seria ilegal.
A intervenção de Moro apontando a ilegalidade do ato de Favreto foi referendada depois por Gebran, pelo presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores, e pela presidente do STJ, ministra Laurita Vaz.
Em um vídeo gravado por volta das 15h30, quando o relator da Lava Jato no TRF-4 já havia cancelado a ordem de soltura de Lula, Pimenta afirmou que ele e Damous estavam na PF desde as 8h30.
“Chegamos aqui hoje por volta das 8 horas e 30 minutos e já estava publicado e a Polícia Federal já tinha aqui o alvará de soltura do presidente Lula.”
Mais tarde, ele
voltou a afirmar que estava na PF desde as 8h30 e que a decisão do TRF-4 já
havia sido dada. “Às 8h30 da manhã de hoje esse alvará de soltura chega
até a Polícia Federal e, de lá para cá, se inicia uma guerra absurda, ilegal,
criminosa que envolve infelizmente pessoas aqui da Polícia Federal, integrantes
do Ministério Público, que envolve diretamente o juiz Sérgio Moro, que envolve
o desembargador (João Pedro, relator da Lava Jato no TRF-4) Gebran, que tenta
de todas as formas, de maneira desesperada, como disse o ministro Marco
Aurélio, impedir que a lei seja cumprida”, afirmou Pimenta, por volta das
19h30 – quando as chances de Lula ser solto já estavam enterradas.
Pedido. O
pedido de habeas corpus em favor de Lula foi protocolado às 19h32 da última
sexta-feira, 6, pelos deputados que são advogados, Damous e Pimenta, e Paulo
Teixeira (PT-SP) – que não estava na frente da PF em Curitiba no dia.
Endereçado ao
desembargador plantonista, posto ocupado por Favreto pela primeira vez em 2018
– ele cumprirá a função do dia 4 ao dia 18 deste mês -, o documento alegava
ilegalidade nas decisões do juiz Sérgio Moro
- de prender Lula e
- fatos novos no processo, relacionados à pré-candidatura do ex-presidente, para pedir a sua soltura.
Por volta das 12 horas, Moro determinou que a ordem
de soltura não fosse cumprida e que o relator da Lava Jato no TRF-4 fosse
consultado. Moro afirmou que o desembargador é ‘absolutamente
incompetente’ para contrariar decisões colegiadas do Supremo e do TRF-4.
Em novo despacho, Favreto insiste em sua decisão. O plantonista
foi filiado ao PT por quase 20 anos e prestou serviços a governos petistas,
antes de ser indicado desembargador do TRF-4 em 2011 pela então presidente,
Dilma Rousseff.
No início da tarde, Gebran Neto revogou a ordem de soltura de Lula expedida por
Favreto. Em sua decisão, afirmou que “chama a
atenção a excepcionalidade da distribuição em plantão” do pedido de HC feito
pelos petistas em favor de Lula. “Haja vista que o paciente encontra-se em
cumprimento de pena em face de Execução Provisória nos autos da Apelação
Criminal nº 50465129420164047000/PR, determinada pelo Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (evento 171 – em 05/04/2018), sem que fato novo
verdadeiro houvesse.”
Após
10 horas e meia de impasse jurídico, o presidente do TRF-4 decidiu manter Lula preso,
ao endossar despacho do relator da Lava Jato na Corte, que havia suspendido o
habeas corpus
Nenhum comentário:
Postar um comentário