Operação Lava Jato
‘Objetivo maior era manter os mandatos e o poder’, diz Pedro Corrêa
30/05/2016, 05h00
Ex-deputado do PP de Pernambuco, condenado no mensalão e na Lava Jato, confessou em delação premiada que arrecadou propina em troca de favores a empresários nos sete mandatos como parlamentar, desde 1978; além de implicar Lula como mandante no esquema da Petrobrás, o delator revelou que a 'arrecadação beneficiava, inclusive, deputados estaduais, prefeitos e vereadores'
No dia 10 de abril de 2015, quando Pedro Corrêa foi preso na 11ª fase da Operação Lava Jato denominada “A Origem”, seu primo e advogado Clóvis Corrêa Filho afirmou ter orientado o ex-deputado federal do PP de Pernambuco a fazer delação premiada. “Vai passar a República a limpo, se ele contar tudinho.”
“Os valores (de propina) arrecadados eram utilizados para manutenção do poderio do partido, em nível federal, estadual e municipal. A arrecadação beneficiava, inclusive, deputados estaduais, prefeitos e vereadores. O objetivo maior era manter os mandatos e o poder”, revelou Corrêa, um ano depois de sua prisão em delação premiada fechada com a força-tarefa da Lava Jato, na Procuradoria Geral da República (PGR) – responsável pelos processos contra políticos com foro privilegiado. “Os indicados pelos partidos eram responsáveis por conseguir a propina dos empresários e repassar aos parlamentares.”
Apontado como um “profissional” nos crimes de corrupção pelo juiz Sérgio Moro, Corrêa passou quase um ano nas negociações de delação premiada com a Lava Jato – nesse tempo, o ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado Delcídio Amaral (ex-PT-MS, hoje sem partido) foi preso e fechou o primeiro acordo de colaboração da Lava Jato de um político. Nesse período de negociações, Corrêa foi condenado por Moro, em outubro, pelo recebimento de propina de R$ 11,7 milhões, 72 crimes de corrupção passiva e 328 operações de lavagem de dinheiro no escândalo Petrobrás.
Condenado no Mensalão, Pedro Corrêa cumpria pena na penitenciária de Canhotinho, a 210 quilômetros de Recife (PE), ao ter a prisão preventiva decretada pelo juiz federal Sérgio Moro. No dia seguinte, ele foi transferido para Curitiba, sede da Lava Jato. Aos 68 anos de idade, diabético e hipertenso, o ex-deputado não teve alternativa. “O caminho que ele tem é o de colaborar com a Justiça”, profetizou em 2015 o primo e jurista.
Com o acordo fechado, Corrêa confessou que nos sete mandatos de deputado federal – carreira iniciada em 1978 pelo extinto Arena – indicou pessoas a cargos no governo federal, para negociar interesses de empresários e ser “recompensado” com propinas, contou a “regra geral” da política brasileira de transformar órgão públicos em balcões de negócios para angariar fundos para os partidos e campanhas. E entregou o envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros medalhões da política no esquema de corrupção sistêmica na Petrobrás atacado pela Lava Jato.
“Durante todos os seus mandatos de deputado federal, atuou através de expedientes ilícitos, para indicar pessoas a cargos no governo federal de forma a atender aos interesses de empresários e setores relacionados aos cargos, a fim de ser recompensado por propinas pagas pelos empresários beneficiados. Atuou desta forma desde o governo do General (João) Figueiredo (último presidente do regime militar, 1979 a 1985)”, conta Corrêa no “Anexo 1″ de seu termo de colaboração. Nele, o primeiro político a iniciar negociações de delação com a força-tarefa da Lava Jato resume seu “histórico político”.
Ficha corrida. Corrêa é velho conhecido das páginas de escândalos políticos criminais. Corrêa e a filha foram indiciados na CPI do Roubo de Cargas. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), anexado aos autos da Lava Jato, registra que em dezembro de 2012 a filha Aline Corrêa foi indiciada pela CPI do Roubo de Cargas “por falsidade ideológica, falsidade material, sonegação fiscal e evasão de divisas por ter sido ‘laranja’ do cônjuge José Atonio Neuwald. O marido da ex-deputada era sócio do dono do grupo de postos Petroforte, Ari Natalino da Silva.
Por suas relações suspeitas com Natalino, o nome dos Corrêa voltou a cair no radar das autoridades em 2004. O então presidente do PP foi incluído no relatório final da CPI da Pirataria – que levou para atrás das grades o contrabandista Law Kin Chong. Relatório do Coaf, analisando conta de Aline Corrêa, diz que o pai foi citado como “integrante de uma suposta quadrilha de contrabando de cigarros”.
Em 2005, Corrêa voltou para as páginas de escândalos políticos criminais. Seu nome foi apontado como um dos recebedores de propina do mensalão – primeiro escândalo de propinas do governo Lula, em que parlamentares recebiam valores em troca de apoio no Congresso.
Cassado em 2006 na Câmara dos Deputados, a quarentena imposta a Corrêa pela cassação terminou no ano em que foi deflagrada a Lava Jato. Ele foi condenado em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e preso em 2013. Cumpria pena em regime semi-aberto, em Pernambuco, quando foi preso novamente pela Lava Jato.
Para Sérgio Moro, “a prova do recebimento de propina mesmo durante o processamento da Ação Penal 470 reforça os indícios de profissionalismo e habitualidade na prática do crime, recomendando, mais uma vez, a prisão para prevenir risco à ordem pública”.
“(Corrêa) é recorrente em escândalos políticos criminais e traiu seu mandato parlamentar e a confiança que a sociedade brasileira nele depositou”, escreveu Moro. “Nem o julgamento condenatório pela mais Alta Corte do País representou fator inibidor da reiteração criminosa, embora em outro esquema ilícito.”
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