O homem que revelou o temor dos políticos
Mais duradouro presidente da Transpetro, influente na era FH, Machado agora é o delator que ameaça implodir PMDB
por Thiago Herdy
SÃO PAULO - Mais longevo presidente da Transpetro até hoje, Sérgio Machado tornou-se, na última semana, o delator que mostrou à opinião pública o tamanho do pavor da classe política diante da Operação Lava-Jato e que está prestes a implodir o PMDB, com depoimentos detalhando o esquema de propina em favor do partido e a divulgação de ousadas gravações da cúpula da legenda. Cearense de 69 anos, Machado foi figura influente do governo Fernando Henrique quando era senador pelo PSDB (1995-2002). Após migrar para o PMDB e apoiar a eleição de Lula, em 2003, foi para a presidência da Transpetro, maior processadora brasileira de gás natural e braço da Petrobras. No início deste ano, procurou o Ministério Público oferecendo acordo de colaboração premiada depois de ser citado por três delatores da Lava-Jato como operador de desvios na estatal. (VEJA O INFOGRÁFICO DOS POLÍTICOS EXPOSTOS POR MACHADO)
Ex-diretor de Abastecimento na Petrobras, Paulo Roberto Costa tinha registros de encontros com Machado em sua agenda e confessou ter recebido das mãos do então presidente da Transpetro, em seu apartamento no Rio, R$ 500 mil, entre 2009 e 2010. “(O pagamento) Foi devido à contratação de alguns navios pela Transpetro, e essa contratação depois tinha que passar pela Diretoria de Abastecimento”, disse Costa à Justiça. Em relato anterior, Costa já dizia ter conhecimento de que “um percentual dos valores envolvidos nos contratos da Transpetro eram canalizados para o senador Renan Calheiros (PMDB-AL)”, com quem Machado “se reunia periodicamente em Brasília”. O senador nega.
Em outra delação, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, contou ter pago, em dinheiro vivo, cerca de R$ 1 milhão a Machado “para que não houvesse dificuldade no pagamento/andamento” de contratos com a estatal. Pessoa também citou Machado como um indicado de Renan na Transpetro. E mencionou o nome de Felipe Parente como o responsável por recolher a propina destinada a Machado, mencionando, inclusive, seu telefone. O GLOBO apurou que as linhas telefônicas citadas pertencem a empresa de familiares de Machado.
Também em delação, o ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró disse ter prometido, em reunião com a presença de Machado, pagar US$ 6 milhões ao PMDB para que fosse mantido no cargo, em 2006. Os valores teriam sido pagos em um jantar na casa de Jader Barbalho (PMDB-PA), realizado dias depois.
Ex-empresário, Machado entrou na política pelas mãos do então governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), no fim dos anos 1980. Deputado federal pelo PSDB entre 1991 e 1994, e senador a partir de 1995, é citado pelo ex-presidente Fernando Henrique como um dos interlocutores mais influentes de seu governo, nos dois volumes dos “Diários da Presidência” (1995 a 1998).
Como líder do PSDB no Senado, participava de reuniões de cúpula e de decisões sobre como reagir às frequentes ameaças de rompimento de Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA) e evitar a instalação de CPIs sobre assuntos delicados, como a que tratou do sistema financeiro, motivada por escândalos nos bancos Nacional e Econômico. Machado atualizava FH sobre bastidores da votação da emenda da reeleição no Senado. Com os tucanos Teotônio Vilela Filho (AL) e Aécio Neves (MG), procurava FH para pedir mais atenção ao partido, segundo relato do ex-presidente.
Na primeira edição dos diários, FH lançou suspeição sobre o aliado: “O (Israel) Vargas (ministro da Ciência e Tecnologia) me trouxe uma informação sobre o Sérgio Machado, que está apresentando uma emenda à Lei de Patentes contrária aos interesses do governo. Ao que dizem, parece que ele está ligado, não sei se é verdade, à Itautec. Então quer permitir as importações paralelas. Confusão”, registrou o ex-presidente em setembro de 1995. Um mês antes, FH reclamou do comportamento de Machado em um jantar com a bancada no Senado: “um pouco reiterativo, falando muito alto, perturbando a conversa dos outros”.
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