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Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue e da zika
 AEDES AEGYPTI, MOSQUITO TRANSMISSOR DA DENGUE E DA ZIKA
O Brasil vive uma epidemia de microcefalia, segundo o Ministério da Saúde. Já está confirmada a suspeita de que o vírus zika, transmitido pelo Aedes aegypti, é o causador da má-formação no cérebro de bebês.  Não há vacina nem tratamento para o zika. A única maneira de evitá-lo é atacar seu transmissor. Por isso, o governo anunciou nesta segunda-feira, 30 de novembro, uma nova frente de combate ao mosquito.
O Aedes aegypti transmite zika, dengue e chikungunya, outra virose que tem sintomas parecidos (febre e dores no corpo). No passado, ele também esteve na mira das autoridades por ser o responsável por outra doença grave: a febre amarela, duramente combatida e erradicada no século 20. E foi com uma operação de guerra, nas décadas de 1940 e 1950, que o país conseguiu erradicar completamente o mosquito de seu território.

Entenda como foi a operação:

AS BRIGADAS SANITÁRIAS
O epidemiologista brasileiro Oswaldo Cruz foi o responsável por liderar uma campanha intensa contra a febre amarela no início do século 20. As brigadas eram responsáveis por detectar casos da doença e eliminar focos do mosquito.
O APOIO DOS EUA
Nas décadas de 1930 e 1940, a doença permaneceu endêmica no Nordeste. A Fundação Rockfeller, dos Estados Unidos, começou uma campanha pela erradicação do mosquito em países latino-americanos, inclusive no Brasil.
O DDT
A principal arma contra o mosquito era o DDT, pesticida barato e eficiente que se popularizou a partir dos anos 1940. Quando aplicado, ele aderia às paredes, matando os mosquitos que pousassem ali. O pesticida foi um dos responsáveis pela erradicação de doenças como a malária, mas não sem efeitos colaterais: ele está relacionado ao câncer em seres humanos e com a mortalidade de outros animais, como pássaros. Além disso, perde a eficácia em longo prazo. Por isso, deixou de ser usado e foi banido de muitos países.
A LÓGICA DE COMBATE
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, táticas de guerra passaram a ser usadas contra um novo inimigo: os mosquitos. ‘Quarteis’ pelo país, com agentes fardados e comboios de viaturas, espalhavam os inseticidas com bombas de aspersão. As operações eram verticais e vinham de um poder central: as autoridades de saúde.
As operações de guerra deram certo. O país viu o mosquito ser erradicado: o último foco foi eliminado em abril de 1955, e a Organização Mundial da Saúde reconheceu o país livre do Aedes aegypti em 1958.
Aos poucos, porém, nos países que adotaram a estratégia, a guerra ficou insustentável. O combate começou a ficar mais caro e mais rentável para os fabricantes de pesticidas, que passaram a desenvolver novos produtos cada vez mais fortes. A febre amarela urbana, a maior preocupação, já estava erradicada (o último caso no Brasil havia sido em 1942) e não fazia mais sentido gastar tantos recursos no combate ao mosquito. Os países latino-americanos relaxaram.
Quando a infestação voltou, o temor já era outro: a dengue
Então, o mosquito voltou a infestar o Brasil - focos foram detectados nos anos 1960. Em 1973, o país declarou novamente sua erradicação, mas logo depois, em 1976, o Aedes voltou a causar preocupação. Na ocasião, o temor já não era mais a febre amarela. Era a dengue.
Desde então, o país adota uma estratégia não de erradicação, mas de tolerância: a luta é química só em situações específicas e a prioridade é adotar medidas de saneamento e de conscientização (a fim de obter ajuda da população na eliminação de focos dos vírus, como as águas limpas e paradas).
A Fundação Oswaldo Cruz não recomenda o uso indiscriminado de inseticidas porque, como a história já mostrou, a tendência é que o mosquito fique cada vez mais tolerante ao veneno. Os Aedes resistentes à aplicação sobrevivem e transmitem essa característica às larvas, criando novas gerações de mosquitos mais fortes.
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Soldado americano demonstra aplicação de DDT
 SOLDADO AMERICANO DEMONSTRA APLICAÇÃO DE DDT
O Ministério da Saúde anunciou em 1996 um plano de erradicação do mosquito, com verba de R$ 1 bilhão transferida aos municípios. Mas ele  não foi devidamente implementado - as falhas vão de medidas para saneamento básico à legislação de suporte. 
Além de falhas operacionais e falta de políticas públicas, não há um consenso científico sobre as melhores estratégias para acabar com o mosquito. A Organização Pan-Americana de Saúde ofereceu, em 1985, aos países latino-americanos duas opções: a erradicação ou o controle. O Brasil optou pela última.
Mas controlar a incidência do mosquito é difícil. Aqui no Brasil, o Aedes aegypti encontra um clima tropical úmido e quente favorável para sua proliferação.

Segundo um estudo do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, recursos que não foquem na completa eliminação do mosquito podem ser desperdiçados, pois há “rápida elevação dos índices de infestação”. Outro problema é a falta de continuidade das políticas públicas - se elas não erradicam completamente o mosquito, ele pode voltar um tempo depois.
Fonte:http://www.nexojornal.com.br/expresso/2015/12/01/Como-o-pa%C3%ADs-erradicou-o-Aedes-aegypti-nos-anos-50-e-por-que-ele-voltou?utm_campaign=nl2dez&utm_medium=email&utm_source=RD+Station