Na crise dos áudios contra a Lava Jato, políticos silenciam nas redes
28/05/2016, 10h15
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Na semana que Brasília entrou em polvorosa, caciques tucanos e peemedebistas adotaram a cautela e não comentaram os áudios que pegaram Renan Calheiros, José Sarney, Romero Jucá e Sérgio Machado, ex-Transpetro, todos tramando contra a Lava Jato
Na semana em que as conversas do ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado com integrantes da cúpula do PMDB para tentar obstruir os avanços da maior operação de combate à corrupção no País abalaram o partido do governo interino de Michel Temer (PMDB), algumas da principais lideranças políticas do País silenciaram nas redes sociais.
Até o final da tarde desta sexta-feira, 27, os perfis oficiais de Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, Michel Temer e Lula não falaram sobre o caso e se limitaram a divulgar “notas” de suas defesas ou mesmo dos próprios partidos em repúdio às acusações e citações que aparecem nos diálogos bombásticos de Machado com Romero Jucá, José Sarney e Renan Calheiros.
O presidente em exercício Michel Temer (PMDB), de perfil mais discreto em seu Facebook oficial, fez a última postagem em 13 de maio, logo após tomar posse interinamente. Seu perfil no Twitter é mais ativo, e postou dezenas de mensagens ao longo da semana, todas relacionadas às atividades de governo, seus discursos e agendas de sua gestão e seus ministros.
Não há nenhum comentário sobre os diálogos que atingem em cheio graduados do seu partido e tampouco qualquer menção a Romero Jucá, que aparece nas conversas discutindo sobre como “estancar” a Lava Jato – o que acabou provocando sua queda do Ministério do Planejamento, após a repercussão.
FHC. Desde segunda-feira, 23, quando foi divulgado o primeiro áudio da conversa entre Machado e Romero Jucá (PMDB), que acabou derrubando o peemedebista do Ministério do Planejamento ainda nos primeiros 12 dias do governo interino de Temer, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não fez nenhum comentário sobre o episódio em seu perfil oficial no Facebook. Suas únicas postagens foram uma na própria segunda-feira, 23, compartilhando a entrevista que deu ao Estadão na qual afirmou que “se o governo (Temer) for para o lado errado, o PSDB sai”.
Na quinta-feira, 26, ele fez sua segunda postagem da semana, na qual mencionou o título de “Doctor of Law” que recebeu da Universidade de Harvard, uma das mais importantes dos Estados Unidos.
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, também evitou comentar o teor dos áudios, divulgando apenas notas oficiais de seu partido em resposta às citações a ele. Em um dos diálogos com Renan, Machado chega a afirmar que Aécio é “o cara mais vulnerável do mundo”. Em outra ocasião, na conversa com Jucá, o ex-presidente da Transpetro indaga “quem não conhece o esquema do Aécio”.
No Facebook e no Twitter, o tucano divulgou notas de seu partido em repúdio às citações e afirmando que a sigla acionará Sérgio Machado judicialmente, além de que as gravações não apontam provas contra ele. Em meio à grande repercussão das conversas, o tucano publicou fotos suas com apoiadores no Congresso e até uma mensagem sobre um projeto de lei que prevê mudanças na gestão dos fundos de pensão.
O comportamento contrasta com a postura de Aécio quando vieram à tona, em março, as conversas grampeadas do ex-presidente Lula com a então presidente Dilma Rousseff nas quais ela afirma que vai encaminhar o termo de posse para ele assumir a Casa Civil. “Essas gravações que vieram agora a público não apenas contaminam a nomeação do ex-presidente Lula. Contaminam todo esse governo. A presidente Dilma perdeu definitivamente as condições de continuar governando o Brasil”, afirmou o tucano na época.
Em relação aos diálogos de Jucá, Renan e Sarney, que sugerem desde um “pacto nacional” com o Judiciário para evitar que a Lava Jato avance sobre novos políticos, até mesmo a tentativa dos caciques peemedebistas de tentarem contatar pessoas “próximas” ao ministro Teori Zavascki, relator da operação no STF, o tucano preferiu o silêncio.
PT. No espectro petista, a situação não foi muito diferente. À exceção de Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula se limitou a divulgar uma nota na quinta-feira, 26, afirmando que o diálogo de Renan Calheiros com Machado não traz nada de ilegal contra ele, que foi vazado de forma ilegal e que ‘confirma o clima de perseguição contra o ex-presidente’.
Com as revelações bombásticas dos diálogos ao longo da semana, o petista divulgou mensagens em repúdio ao estupro de uma jovem no Rio, sobre atividades do Memorial da Democracia, sobre avanços sociais dos governos petistas, dentre outros assuntos.
No dia em que a primeira gravação entre Machado e Jucá foi divulgada, Dilma divulgou uma mensagem afirmando que os diálogos reforçam que houve um ‘golpe’ contra sua gestão. “A revelação do diálogo entre Romero Jucá e Sérgio Machado demonstra a verdadeira razão do golpe contra a democracia e o mandato de Dilma Rousseff. O objetivo é frear a Lava Jato e empurrar para baixo do tapete as investigações. O povo brasileiro tem o direito de saber tudo sobre essas gravações. Não podemos admitir que um diálogo como esse não seja investigado a fundo”, disse.
Ao longo da semana, porém com novas conversas, inclusive do ex-presidente José Sarney afirmando que a delação da Odebrecht vai “pegar a Dilma”, em relação aos pagamentos ao marqueteiro João Santana – preso na Lava Jato -, que atuou na campanha presidencial da petista, a presidente afastada divulgou uma nota sobre os pagamentos ao publicitário e depois não fez mais nenhum comentário sobre as gravações.
Na tarde de ontem ela ainda divulgou uma nota negando as supostas acusações contra ela no depoimento do ex-depoutado Pedro Corrêa, cuja delação premiada está sob análise do Supremo.
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