A defesa de Dilma
Lauro Jardim informa que Dilma Rousseff será defendida pelo criminalista Alberto Toron no inquérito que a investiga por obstrução da Justiça ao nomear Marcelo Navarro para o STJ - com o objetivo de livrar os empreiteiros da cadeia.
José Eduardo Cardozo, também investigado, será defendido por Pierpaolo Bottini, que também fará a defesa de Aloizio Mercadante.
Cardozo vai coordenar as defesas. O resultado é certo.
RESUMÃO: Quem sobrevive aos escândalos de PT e PMDB
Blog comenta situações de Lula, Dilma, Renan, Sarney, Jucá e governo Temer
Não se pode nem tirar um feriadão de paz e descanso neste país de incessantes escândalos.
Então vamos de resumão:
1) Estratégias petistas
– Notícia de quinta-feira, 26 de maio: “PT quer reverter votos [no Senado] a favor do afastamento de Dilma sugerindo nova eleição”. Comentei em 6 de abril, quando o processo ainda estava na Câmara:
– Comentei também em 21 de maio:
Editorial do Estadão desta sexta (27) – que prega o afastamento definitivo de Dilma para “o quanto antes, melhor” – une, na prática, as tuitadas acima:
“Lula e o PT parecem dispostos a lutar pela realização antecipada de eleições presidenciais. É um movimento tático que se enquadra na habitual estratégia petista de disfarçar seus verdadeiros interesses políticos sob bandeiras de forte apelo popular.”
– Governo Temer tem de impedir que Cristovam Buarque, Reguffe e Antônio Carlos Valadares, que votaram pelo afastamento de Dilma mas defendem novas eleições, embarquem na estratégia petista de golpear a Constituição sob essa bandeira.
São necessários 54 dos 81 votos no Senado para o impeachment. O afastamento teve 55. A margem para recuos é mínima. Retroceder a Dilma, nunca; render-se ao PT, jamais.
2) Lula e Dilma implicados
– Lula gerenciou pessoalmente o esquema de corrupção da Petrobras. Foi o que disse o ex-deputado Pedro Corrêa à Lava Jato, segundo a VEJA.
Em sua delação, “Corrêa descreve situações em que Lula tratou com os caciques do PP sobre a farra nos contratos da Diretoria de Abastecimento da Petrobras, comandada por Paulo Roberto Costa, o Paulinho. Uma das passagens mais emblemáticas, segundo o delator, se deu quando parlamentares do PP se rebelaram contra o avanço do PMDB nos contratos da diretoria de Paulinho. Um grupo foi ao Palácio do Planalto reclamar com Lula da ‘invasão’. Lula, de acordo com Corrêa, passou uma descompostura nos deputados dizendo que eles ‘estavam com as burras cheias de dinheiro’ e que a diretoria era ‘muito grande’ e tinha de ‘atender os outros aliados, pois o orçamento’ era ‘muito grande’ e a diretoria era ‘capaz de atender todo mundo’. Os caciques pepistas se conformaram quando Lula garantiu que ‘a maior parte das comissões seria do PP, dono da indicação do Paulinho’. Se Corrêa estiver dizendo a verdade, é o testemunho mais contundente até aqui sobre a participação direta de Lula no esquema da Petrobras.”
Depois que o lobista Fernando Moura perdeu os benefícios da delação por mentir à Lava Jato, fica (ainda mais) difícil imaginar que Corrêa esteja mentindo.
– Pedro Corrêa também disse que Dilma, na campanha de 2010, “pediu apoio financeiro” a Paulo Roberto Costa, o operador do PP. Propina tem vários nomes no Brasil.
– José Sarney também implicou Dilma em gravação feita por Sérgio Machado ao falar da prisão do marqueteiro dela, João Santana: “E, nesse caso, ao que eu sei, é o único que ela tá envolvida diretamente. E ela foi quem falou com o pessoal da Odebrecht para dar, acompanhar e responsabilizar pelo Santana”.
– As informações da VEJA desta semana ainda permitem estabelecer o seguinte cronograma:
30 de junho de 2015 – Após prisões de Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo, Renan Calheiros reuniu em sua casa Lula, José Sarney, Romero Jucá, Edison Lobão e Delcídio do Amaral. Segundo a matéria, “os comensais trataram de um cardápio indigesto: uma estratégia para impedir o avanço das investigações do petrolão”.
6 de julho de 2015 – “Sob a mediação de Temer [então vice-presidente a serviço do governo do PT], Dilma e Cunha conversaram sobre um pacto de proteção mútua.”
7 de julho de 2015 – Dilma teve reunião secreta com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, em Portugal: “a entrada na cena do crime da Odebrecht, que pagou pelos serviços do marqueteiro da campanha pela reeleição, fez a presidente arregaçar as mangas”.
Ou seja: Dilma, Lula, Delcídio e caciques do PMDB se uniram para se salvar da Lava Jato, mas os avanços da operação acabaram jogando uns contra os outros.
– Lula sabe de 3 coisinhas: 1) tem de sacrificar Dilma para tentar resgatar popularidade do PT; 2) em 2018, poderá estar inelegível; 3) sua maior chance de escapar da cadeia é conquistar o quanto antes o Palácio do Planalto. O resto é bandeira demagógica para enganar militante bocó.
– O problema para Lula é que Michel Temer vem saindo ileso da Lava Jato, o que dificulta a sabotagem petista de seu legítimo governo.
3) Depoimentos e gravações
a) Rodrigo Janot apresentará a primeira denúncia contra Renan Calheiros na Lava Jato, como revelou o Radar de VEJA. O ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, apontou o presidente do Senado como principal beneficiário do esquema de desvio de recursos na subsidiária da Petrobras.
Machado ainda nomeou Romero Jucá (que tampouco escapará da denúncia), José Sarney e Edison Lobão como destinatários da propina.
Fica ainda mais claro, assim, o motivo do tom de ameaça de Machado nas gravações feitas por ele de conversas com Jucá, Renan e Sarney, nas quais, como mostrei em vídeo, o ex-presidente da Transpetro pedia ajuda aos peemedebistas para não “descer” para a alçada do juiz Sérgio Moro porque “aí f**** para todo mundo”.
Acusar “todo mundo” de arrecadação ilícita de recursos, pelo visto, era a cartada na manga de Machado.
b) Numa das gravações, Sarney diz a Machado que não achava “conveniente” chamar Jucá para o encontro que pretendiam marcar com Renan, pois, desse modo, “a gente não põe muita gente”.
O material em poder da PGR inclui, de fato, conversas conjuntas nas quais Renan e Sarney, sem a presença de Jucá, discutem como manter o processo de Machado no STF , o que procuradores veem – para além da corrupção apontada nos depoimentos – como graves indícios de tentativa de obstrução da Justiça.
Num dos diálogos, Renan e Sarney cogitam os nomes do ex-ministro do STJ Cesar Asfor Rocha e do advogado Eduardo Ferrão como interlocutores supostamente capazes de acessar e tentar convencer o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo, a evitar que Machado “descesse” para Moro.
Como ministros do STF vivem recebendo políticos – o que este blog considera uma vexaminosa promiscuidade entre os poderes –, não é crime algum que políticos articulem contatos com eles em prol de seus interesses. Quando a articulação visa impedir uma delação, no entanto, ela obviamente tem de ser levada em conta no procedimento investigatório.
Se há algum motivo de alívio para Jucá, ainda que mínimo, é não ter participado da conversa indecente de Renan e Sarney com Machado.
c) Em nota, Cesar Asfor Rocha “contesta terminantemente que tenha sido procurado, em qualquer tempo e por qualquer pessoa, para tratar dos assuntos aludidos” e “nega, com igual veemência, que tenha conversado sobre o tema com qualquer ministro” do STF “ou com qualquer outro Magistrado”.
Em nota similar, Eduardo Ferrão afirma que “em nenhum momento fui procurado por quem quer que seja para tratar do assunto ali mencionado” e “mesmo que o fosse, rejeitaria veementemente solicitação de tal natureza”.
d) Renan também orientou a defesa de Delcídio do Amaral no Conselho de Ética. A alegada “solidariedade” de toda essa gente com os “amigos” ultrapassa, com frequência, o limite da decência e do decoro, quando não da lei.
e) Renan chamou Janot de “mau caráter” em conversa com Machado e ainda disse que tentou evitar a recondução do PGR ao cargo: “Eu tentei… Mas eu estava só”. Não é verdade: Renan e Collor têm muita coisa em comum.
f) Sarney, ao conversar com um ministro sobre ter sido gravado, se disse “traído”, segundo a repórter Andréia Sadi, da Globonews: “Sergio Machado era como um filho”. Que dó!
4) O governo se isenta
a) O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) respondeu a Sadi se Temer esteve com Sérgio Machado:
“Tenho estado junto com Temer e posso dar o testemunho que não vi e nem tenho notícia de que estiveram. Se estiveram, não acredito que Temer tenha falado algo que possa comprometer o governo. Não acredito que do Sérgio possa sair algo que compromete Michel, até porque ele é um defensor da Lava Jato como eu.”
Padilha fez a necessária distinção entre o governo Temer e investigações contra parlamentares do PMDB:
“Não podemos misturar governo com Congresso Nacional. A circunstância do presidente do Senado ter qualquer tipo de investigação não significa que o governo está investigado. Sim, são quadros importantes do PMDB, mas no direito penal tem um princípio importante: a pena nunca ultrapassa a pessoa de quem cometeu a infração.”
O ministro também distinguiu os desgastes do partido e do governo com a população (embora essa parte seja mais a expressão de um desejo do que uma descrição objetiva):
“Politicamente, pode o PMDB ter prejuízos na opinião pública diante das declarações de peemedebistas. Mas o governo, nada.”
Padilha não vê motivos para saída de Renan e acha que ele seguirá conduzindo os trabalhos normalmente.
“Não podemos imaginar que Renan vá mudar seu comportamento como condutor do Senado por causa disso, não vai não.”
Outros integrantes do governo, segundo a repórter, acham que Renan é “imprevisível” e temem desdobramentos no Senado.
b) Este blog relembra que Renan, então aliado de Dilma, era um obstáculo ao impeachment. Agora, Renan é importante para o avanço das medidas de Temer no Congresso.
O PT jamais atacava Renan quando o tinha como aliado. Agora o inclui nos ataques ao PMDB para tentar desgastar o governo Temer por tabela.
A arte de Temer é equilibrar-se em meio a implosões e bombardeios de todos os lados.
Foi assim que ele se tornou presidente. É assim que tem de permanecer.
Felipe Moura Brasil ⎯ http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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