Novo delator
detalha propina e diz que corrupção era 'decisão empresarial' da Andrade
Gutierrez
Mario
Goes, que acaba de firmar acordo de colaboração, entregou informações sobre
quinze movimentações financeiras até então desconhecidas
Por: Laryssa Borges, de Curitiba29/07/2015 às 18:27 - Atualizado
em 29/07/2015 às 18:33
O empresário Mário Góes, ligado ao ex-diretor da
Petrobras Renato Duque, em audiência na Justiça Federal(Reprodução/VEJA)
O mais novo delator da operação Lava
Jato, o operador Mario Goes, deu detalhes ao Ministério Público sobre o
esquema de distribuição de dinheiro sujo orquestrado pela construtora Andrade
Gutierrez (AG) no exterior. Logo nos primeiros depoimentos aos procuradores do
Ministério Público Federal, Goes esmiuçou pelo menos quinze operações de
lavagem de dinheiro ainda desconhecidas pelos investigadores. Por meio da
subsidiária Zagope Angola, vinculada à Andrade, a empreiteira repassou propina
de 2008 a 2012 para uma conta bancária da empresa offshore Phad Corporation
controlada pelo próprio na Suíça. De lá, o dinheiro foi enviado, por meio de
contratos falsos, ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e ao ex-gerente da petroleira Pedro Barusco.
"[Mario Goes disse] que os
serviços constantes do contrato nunca foram e não seriam prestados, que os
valores indicados no contrato foram efetivamente pagos pela Andrade Gutierrez,
que a integralidade do saldo da conta Phad à época adveio da Andrade
Gutierrez", diz a transcriação do depoimento. De acordo com Goes, o
esquema de pagamento de propina era uma "decisão empresarial" da
Andrade Gutierrez.
O fluxo do propinoduto montado entre
a Zagope e a Phad com a simulação de um contrato com a Andrade Gutierrez chegou
a 6,42 milhões de dólares. Com o auxílio de investigadores da Suíça e de outros
depoimentos de delação premiada, o Ministério Público já havia
detectado pelo menos 83
repasses de propina entre julho de 2006 e fevereiro de 2012 envolvendo contas
do operador Mario Goes para contas correntes de Pedro Barusco, usadas também
para o recolhimento de propina a Renato Duque. Nesse período, o esquema de
propina envolvendo o trio movimentou expressivos 48,2 milhões de reais.
"Com o objetivo de ocultar e
dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e
propriedade de valores que são oriundos dos diversos crimes, [os executivos da
Andrade Gutierrez] Otávio Marques de Azevedo, Elton Negrão, Flávio Machado
Filho e Antônio Pedro Campello valeram-se da empresa Zagope Angola, integrante
do Grupo Andrade Gutierrez, para efetuar repasses ao operador Mario Goes no
exterior, os quais posteriormente seriam destinados a Pedro Barusco e Renato
Duque", relatou o MP ao juiz Sergio Moro.
Para dar ares de veracidade à
contratação de Mário Goes pela construtora Andrade Gutierrez, foram simulados
contratos para a "prestação de serviços de consultoria com identificação
de oportunidades de investimento nos setores de infraestrutura industrial,
rodoviária, portuária, aeroportuária, imobiliária, de cimento na costa
atlântica da África" e para a prospecção de oportunidades de investimento
na área de óleo e gás na costa atlântica da África. Para os investigadores da
Lava Jato, os contratos são "evidentemente falsos" porque a Phad
Corporation era "uma empresa de fachada constituída no exterior apenas
para a movimentação de recursos", e porque "Mario Goes não detinha
expertise que justificasse a contratação".
Goes detalhou ainda a participação de
Antonio Pedro Campello, ex-diretor da Andrade, como distribuidor da propina
paga pela empreiteira em negociações também no Brasil. Em um dos contratos de
Goes, no valor de 5 milhões de reais, apenas 1,5 milhão de reais por serviços
prestados - o restante era propina a ser direcionada a Pedro Barusco depois de
"acertos" com a Andrade Gutierrez. Cabia a Campello, por exemplo,
fazer pagamentos em espécie para Goes. A propina era entregue pelo executivo na
própria casa de Mario Goes em dinheiro vivo ou recolhida no prédio da
empreiteira em São Paulo.
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