terça-feira, 28 de julho de 2015

Para Eduardo Cunha, a melhor defesa é o ataque

Para Eduardo Cunha, a melhor defesa é o ataque


O presidente da Câmara se defende na Justiça. E o lobista Júlio camargo está entre os alvos da empresa de investigação contratada pela CPI da Petrobras


Eduardo Cunha na Câmara  (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)






Em 11 de março, às 18h44, a croata Snežana Gebauer, diretora-geral da empresa  de investigação Kroll no Brasil, enviou à Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras um e-mail com o título “CONFIDENCIAL – proposta”. A mensagem detalhava como a Kroll mobilizaria sua rede de  2.300 profissionais espalhada por 26 países para assessorar a CPI da Petrobras. A empresa britânica de investigação foi contratada sem licitação. O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB) – representante informal do presidente da Câmara,Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na comissão –, disse que a Kroll faria “análise financeira” e “diagnósticos e auditoria em contratos da empresa Petrobras”. Tão logo fechou o acordo, Cunha decretou o sigilo sobre o contrato até 2020. ÉPOCA obteve, com exclusividade, cópia do contrato reservado com pessoas ligadas à Kroll. E descobriu que, entre os alvos prioritários da investigação, está o lobista Júlio Camargo, que disse à Justiça Federal que o presidente da Câmara pedira propina de US$ 5 milhões. Segundo integrantes da Kroll ouvidos pela reportagem, Camargo entrou na lista de alvos prioritários da investigação quando se tornou claro que delataria Cunha.
E-mail da Kroll sobre a Lava Jato  (Foto: Reprodução)















 De acordo com o contrato 2015/072.0, redigido em português e inglês, a Câmara
desembolsou R$ 1.180.139,40, numa operação registrada com o número 0005112015. As parcelas foram pagas em libras esterlinas, com uma cotação próxima de R$ 5 – e foram calculadas de acordo com o item 6 do contrato, intitulado “honorários e despesas”, um dos motivos da decretação do sigilo. Nessa cláusula, a remuneração da Kroll varia de acordo com a experiência de seus profissionais envolvidos no caso: de diretor executivo, que custa 348 libras a hora, a analista, 64 libras a hora.

A investigação foi fatiada em seis partes. A primeira diz respeito à revisão e análise do documento. A segunda está relacionada à preparação de um plano investigatório. A terceira envolve um mapeamento do perfil de 15 alvos, chamados de “sujeitos”. A quarta, levantamento de bens nos países. Na quinta etapa, serão feitas “entrevistas de fontes”, sem detalhar como isso funcionaria na prática. Por fim, um relatório final seria elaborado. Segundo ÉPOCA apurou, foi feito um acordo com a Kroll para que ela se concentrasse em quatro ou cinco alvos prioritários, a fim de dar mais agilidade à investigação e concluí-la até meados de setembro.

Na lista da CPI da Petrobras há três nomes óbvios: o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e o ex-gerente da companhia Pedro Barusco. Além desses, entraram na lista o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o lobista Júlio Camargo, executivo que também disse que Cunha era sócio oculto do operadorFernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. Ao rastrear os bens de Camargo no exterior, sobretudo aqueles que não foram declarados para a força-tarefa da Lava Jato, a CPI poderá mostrar que o lobista mentiu – e assim colocar em xeque a sua delação.

Na semana passada, a advogada Beatriz Catta Preta, que defendia Júlio Camargo, renunciou à função. O motivo é que ela também se tornara alvo da CPI, por obra de um deputado peemedebista do Rio de Janeiro. Celso Pansera, chamado pelo doleiro e delator Alberto Youssef de “pau-mandado de Cunha”, apresentou requerimento de convocação de Catta Preta para que ela explicasse a origem dos honorários que recebeu. O juiz Sergio Moro, que conduz a Lava Jato, afirmou em despacho que não existem motivos para a convocação.

Enquanto isso, Eduardo Cunha trabalha nas férias para se defender na Justiça. Na segunda-­feira (20), o presidente da Câmara recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para travar a investigação sobre ele no âmbito da Lava Jato no Paraná. Cunha argumenta que o depoimento feito pelo lobista Camargo não poderia ter sido feito na primeira instância, porque, por ser deputado federal, tem foro privilegiado. A defesa de Cunha pediu, então, uma “decisão provisória”, para que o processo sobre corrupção em compras da Petrobras fosse remetido ao STF. Pediu também que fossem anuladas eventuais provas produzidas enquanto o processo estivesse no Paraná. O presidente do STF, Ricardo Lewandowski, decidiu que Moro não poderá julgar a ação em que Cunha é citado, antes de explicar ao STF como o depoimento de Camargo rendeu acusações contra o deputado.

Existe outro desafeto do presidente da Câmara na lista  de investigados da Kroll: o presidente do grupo Schahin, Milton Schahin, também fornecedor da Petrobras. Em entrevista ao jornal O Globo, Schahin disse que foi perseguido por Cunha e seus aliados, devido a uma disputa travada com o empresário Lúcio Bolonha Funaro. “Temos uma pendência muito grande com Funaro, e a ligação de Cunha com ele é muito conhecida”, disse Schahin.

Procurado por ÉPOCA, o deputado Eduardo Cunha disse por meio de sua assessoria que a decretação do sigilo do contrato da Kroll é uma precaução da Diretoria Geral da Câmara, porque há uma cláusula que “responsabiliza judicialmente a Casa por eventuais vazamentos”. A assessoria do parlamentar ainda disse que Cunha não participou da elaboração do acordo com a Kroll, da lista dos investigados ou mesmo da convocação de qualquer pessoa para depor na CPI, porque essas são atribuições exclusivas da comissão, que é independente. Sobre as acusações de Youssef, afirma: “Cunha não tem ‘pau-mandado’”. Por fim, a assessoria diz que Cunha já prestou depoimento à CPI e se “colocou à disposição para voltar quantas vezes forem necessárias”. A respeito das acusações feitas por Camargo, o advogado do presidente da Câmara, Antonio Fernando de Souza, diz: “Vamos demonstrar que é mentirosa a delação de Júlio Camargo e que não há nenhum elemento probatório que vincule o parlamentar a esses fatos”.

Procurada, a Kroll disse que “não comenta sobre a identidade de seus clientes ou detalhes de suas investigações”. O deputado Hugo Motta afirmou que a lista dos investigados é secreta para evitar vazamentos que prejudiquem as apurações e que a escolha dos suspeitos foi feita “com base nos indícios destacados pelas investigações”. Já o deputado Celso Pansera disse que não tem como objetivo prejudicar a Lava Jato e que a advogada Beatriz Catta Preta criou uma cortina de fumaça em torno da própria renúncia. “Ela tem o direito de sair do caso, e eu tenho o direito de dizer ‘que negócio é esse?’”, diz o parlamentar.

Além da peleja jurídica e nos bastidores da CPI, Cunha enfrenta uma luta política: angariar seguidores em sua ruptura com o governo do PT. “O partido está partido”, diz o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que participou da campanha do tucano Aécio Neves. Parte do PMDB disse, na semana passada, que o rompimento de Cunha era um ato isolado. Outras alas favoráveis à ruptura desde 2014 veem, agora, uma oportunidade. Só na volta das férias se saberá qual ala prevalecerá. 
Fonte: Época

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