Serra é cotado para Itamaraty 'empoderado', com forte viés comercial
LU AIKO OTTA - O ESTADO DE S.PAULO
28 Abril 2016 | 18h 55 - Atualizado: 28 Abril 2016 | 18h 58
Avaliação na equipe de Temer é que a política comercial brasileira esteve equivocada durante a gestão petista, ao priorizar as relações Sul-Sul (com países emergentes) e dar muito peso ao Mercosul
BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer quer dar uma guinada na política externa brasileira, caso assuma a presidência da República. Para isso, planeja escalar o senador José Serra (PSDB-SP) para comandar um Ministério das Relações Exteriores “empoderado” e com forte viés nos negócios. O tucano será uma ponte entre o Planalto e o empresariado.
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O desenho sobre a mesa de Temer prevê o desmonte do que hoje é o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A parte comercial iria para o Itamaraty e outra fatia importante, o comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) iria para o Ministério do Planejamento, que deverá ser comandado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR).
A avaliação na equipe de Temer é que a política comercial brasileira esteve equivocada durante a gestão petista, ao priorizar as relações Sul-Sul (com países emergentes) e dar muito peso ao Mercosul. Isso impediu o País de avançar em acordos com os centros mais dinâmicos da economia mundial.
Serra deverá priorizar a busca de acordos com os principais mercados consumidores do mundo, como Estados Unidos, Europa e países asiáticos como Japão e Coreia do Sul. Com isso, o governo Temer pretende incrementar a exportação de produtos de maior valor agregado. Isso trará impactos positivos sobre a atividade industrial.
Barreiras. O senador é um antigo crítico da forma como o Mercosul está implantado. Hoje, existe um compromisso pelo qual o bloco não pode negociar acordos comerciais que envolvam concessões em tarifas de comércio sem a concordância de todos os sócios (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).
Formado por economias muito heterogêneas, o bloco tem dificuldade em encontrar posições comuns que permitam negociações comerciais mais ambiciosas. Essa é uma das razões pelas quais o acordo do bloco com a União Europeia está em pauta há duas décadas. Essa regra também difculta um entendimento com os Estados Unidos.
O que o senador tucano defendeu quando foi candidato à Presidência, em 2010, era fazer do Mercosul uma zona de livre comércio - um estágio anterior à união aduaneira existente hoje. Nela, os países membros têm um comércio privilegiado entre si, com a eliminação de tarifas aduaneiras. Não há, porém, uma tarifa externa comum. Isso abre o caminho para o Brasil negociar individualmente e não em bloco.
Essa redução de status do Mercosul foi defendida durante a última campanha presidencial pelos candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), por exemplo.
A mudança não significa, porém, que a Argentina será deixada num segundo plano na área comercial. Pelo contrário, a avaliação no entorno de Temer é que o novo governo, comandado por Maurício Macri, terá posições muito mais pragmáticas do que sua antecessora, Cristina Kirchner. De forma que o comércio deverá ter maior fluidez e será possível, inclusive, “levar a Argentina junto” nas negociações com outros mercados.
Neste segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, o Mercosul já deixou de ser uma prioridade na agenda comercial. O atual ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, tem procurado “relançar” as relações do Brasil com os Estados Unidos e o México. Hoje, ele assina um acordo com o Peru.
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