Temer critica 'golpe' de eleição antecipada e Lula discute plano com Renan
VERA ROSA, LU AIKO OTTA, RICARDO BRITO - O ESTADO DE S.PAULO
26 Abril 2016 | 21h 51 - Atualizado: 26 Abril 2016 | 21h 51
Vice considerou que antecipação de pleito é 'casuísmo'; ideia conta com apoio de ex-presidente e de Dilma, que nos bastidores, já admite possibilidade de enviar ao Congresso PEC para encurtar em dois anos o seu mandato
BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer criticou nesta terça-feira, 26, a proposta de antecipação das eleições presidenciais, que ganha força no PT e no governo. Em reunião com um grupo de sindicalistas, Temer chamou a iniciativa de “golpe”, recorrendo ao mesmo termo usado pela presidente Dilma Rousseff contra o processo de impeachment.
“Se essa iniciativa fosse tomada nos Estados Unidos, as pessoas ficariam coradas porque não há uma linha na Constituição sobre isso”, afirmou Temer, de acordo com relato de dirigentes de quatro centrais sindicais que estiveram com ele, no Palácio do Jaburu.
Na conversa, Temer disse que o impeachment está previsto na Constituição, mas considerou um “casuísmo” o plano de antecipar as eleições. Dilma já admite, nos bastidores, a possibilidade de enviar ao Congresso uma proposta de emenda constitucional (PEC) para encurtar em dois anos o seu mandato.
A ideia conta com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tratou do assunto nesta terça com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com senadores do PT. À noite, Renan também se reuniu com Dilma, no Palácio do Planalto, e nesta quarta-feira, 27, vai conversar com Temer. “Conversar não arranca pedaço”, afirmou Renan. “Vou trabalhar para construir convergências com todos os atores dessa crise política.”
O presidente do Senado disse que Lula está muito preocupado com os “desdobramentos” do processo de impeachment. “Ele falou que acredita muito no Brasil, que o Brasil é maior do que as suas crises, e que quer colaborar com saídas”, afirmou.
Renan negou que o tema da antecipação das eleições tenha sido objeto do encontro, mas o Estado apurou que o assunto foi, sim, abordado. Desafeto de Temer, com quem trava uma disputa pelos rumos do PMDB, o presidente do Senado é favorável à proposta e expressou sua opinião a Dilma.
Ministros do PT e a maior parte dos dirigentes do partido também consideram que Dilma precisa empunhar logo essa bandeira para “emparedar'' Temer. Nos bastidores, a proposta é vista como "única saída" para desembaraçar o nó político e constranger o vice, tentando, de quebra, atrair o PSDB do senador Aécio Neves (MG), hoje dividido sobre eventual participação em um novo governo.
A ideia é que antes da primeira votação no plenário do Senado, em 11 de maio, Dilma apresente uma PEC, sugerindo novas eleições em outubro, quando serão realizadas as disputas para as Prefeituras. Atualmente, há uma PEC sobre esse tema no Senado, mas auxiliares da presidente avaliam que a iniciativa de propor o encurtamento do mandato deve ser tomada por ela mesma, como um gesto de pacificação.
Sem volta. Dilma já foi avisada por petistas que os senadores autorizarão o seu impeachment. Em jantar no Palácio da Alvorada, na segunda-feira, o próprio Lula disse à presidente que ela precisa se preparar para ficar 180 dias afastada do cargo. Embora neste cenário a chance de Dilma retornar ao Planalto seja remota, a cúpula do PT e os movimentos sociais avaliam que a forte pressão sobre Temer, aliada à cobrança por novas eleições, pode ajudar o partido a construir uma narrativa menos traumática.
A estratégia incomoda Temer, que já está escolhendo nomes para o Ministério. “Ele disse que qualquer solução diferente do que está previsto na Constituição é, sim, um golpe”, insistiu o presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Fernandes dos Santos Neto. “Nos momentos mais difíceis do Brasil, quando ocorreram problemas com o Getúlio, ou com o Jango, sempre deram o golpe tentando modificar a Constituição”.
Além de dirigentes da CSB, estiveram no encontro com Temer representantes da Força Sindical, da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e da União Geral dos Trabalhadores (UGT). O vice-presidente também recebeu um documento com propostas para a retomada do crescimento e do emprego.
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