A Folha de S.Paulo publicou hoje um artigo em que questiona o Spotniks porque defendemos abertamente o impeachment.
Pois é. Isso é um fato, Folha. Nós realmente defendemos o impeachment. Fizemos isso porque entendemos que houve um crime de responsabilidade. Vocês defenderam o contrário porque entenderam o exato oposto. O que torna a visão de vocês menos parcial que a nossa? Absolutamente nada.
Como qualquer outro veículo de informação, a Folha é uma publicação com valores muito bem definidos. O Spotniks também. Vocês passaram anos defendendo o governo seguindo a velha linha chapa-branca morde e assopra - como já é tradição na história do jornal. Nós somos oposição porque entendemos, como já dizia o grande Millôr, que esse é o papel da imprensa (o que vocês fazem a gente chama de "relações públicas").
E é por isso que não nos surpreende que um dos áudios vazados do presidente do Senado aponte que Otavio Frias Filho, sócio e diretor de redação de vocês, tenha recebido a presidente da República para tratar das questões editoriais do jornal. É escandaloso que um líder de Estado se sujeite a esse tipo de interferência em plena democracia. Mas é absolutamente natural a qualquer um que tenha acompanhado o trabalho de vocês nos últimos anos que a conversa, como aponta Renan, tenha sido bem acolhida. Que o jornalista Otavio Frias Filho não solte um único comentário a respeito, apenas aponta a naturalidade com que o cinismo se dá na formação de opinião no país. A Folha não tem interesse algum em informar os seus leitores sobre o que se passa quando ela é a notícia.
Há poucos meses vocês organizaram um ciclo de debates para celebrar os 95 anos do jornal. Quem o patrocinou? A Odebrecht. Em plena operação Lava-Jato. A ação fez com que Eurípedes Alcântara, da VEJA, Fausto Macedo, do Estadão, e William Waack e Renata Lo Prete, da Rede Globo, desistissem de participar do evento. Mais uma vez, a Folha flertou com o cinismo. E foi criticada pelos seus próprios pares. Não foi a primeira vez. Não será a última.
A sede em defender o governo é tamanho que vocês já utilizaram até uma entrevista falsa do jurista alemão Claus Roxin, um dos mais influentes dogmáticos do direito penal alemão, para desmerecer o Mensalão. Na época, vocês disseram até que Roxin tinha “interesse em assessorar a defesa de Dirceu”, se lembram? Só tinha um problema: apesar do burburinho gerado, as alegações eram falsas. Roxin teve de vir a público desmentir a entrevista. Tudo não passava de uma mera peça de propaganda política. E para o governo, mais uma vez.
Do nosso lado, não espere subserviência. Nós não temos relações com qualquer partido. Entendemos que PT, PSDB e PMDB são chagas de um país que decidiu terceirizar a vida dos seus cidadãos aos cuidados de políticos profissionais. E é contra isso que lutamos. A solução não virá do atual quadro da política partidária. Virá de uma nova relação das pessoas com Brasília. Menos redentora. Como diz o economista americano Thomas Sowell:
"O fato de que muitos políticos de sucesso são mentirosos não é exclusivamente reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível somente os mentirosos podem satisfazê-las."
É contra essa relação que a gente luta.
Por fim, o óbvio. Todas as informações postadas no artigo sobre a Lei Rouanet, que culminaram na criação de uma CPI, são verdadeiras. Os dados são públicos. Desmerecer a exposição dessas informações apenas porque decidimos não estar ao lado do governo, como vocês, definitivamente não é jornalismo. É só estupidez.
Você consegue fazer melhor do que isso, Otavinho.
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