domingo, 12 de junho de 2016

Tio Barnabé: "o namoro de astronauta"

Tio Barnabé: "o namoro de astronauta"


"Em Brasília, são produzidas piadinhas infames em relação a quem mora nas cidades dormitórios do entorno, mais conhecidas como “cidades satélites”.
Logo que lá cheguei me alertavam para tentar evitar o “namoro de astronauta”. O quê? Namorar uma garota de satélite!
As cidades satélites ficam a quilômetros do Plano Piloto em sua maioria. Algumas são muito distantes e populosas como Gama, Planaltina, Taguatinga, Ceilândia, São Sebastião, Samambaia e Sobradinho.
Grande reduto eleitoral, são muito lembradas em épocas de eleição.
Em sua totalidade são feias, mal cuidadas, desoladoras mesmo, do tipo terra devastada. A maioria de seus habitantes trabalha no Plano Piloto diariamente e o transporte coletivo é uma tragédia.
Brasília foi feita para carros e não podemos nos esquecer que o sonho de JK era a nascente indústria automobilística que no Brasil se instalava no final dos 50 e início dos 60. Lúcio Costa caprichou na encomenda. Brasília foi feita para o automóvel e não para o pedestre, o ciclista. Até hoje não equacionou o seu transporte coletivo.
O metrô só vai para uma região da cidade e já tem falta de assentos em horários de rush. Inexplicavelmente não chegou à Esplanada dos Ministérios. Os que descem na horrorosa estação rodoviária, última estação, têm de tomar taxi, ônibus ou vans para ir trabalhar na região.
A rodoviária de Brasília é mais uma atrocidade que se comete contra os mais pobres que por ali transitam diariamente (cerca de 800 mil almas). Em meio a um comércio mambembe, precário e desorganizado, a multidão se mistura com hippies tardios, batedores de carteira e toda sorte de desvalidos.
Os ônibus são ruins, desconfortáveis, sem ar-condicionado e nunca pontuais.
Tenho relatos de que deslocamentos de uma asa do Plano a uma cidade satélite como Sobradinho, por exemplo, pode custar até duas horas do pobre indivíduo que não conseguiu financiar o seu carro ou comprar a sua moto e depende ainda do lamentável transporte coletivo.
De forma perversa, o último governo encheu as quadras residenciais de ciclovias. Uma das alegações (creio que as mesmas que são usadas para São Paulo) é que as ciclovias serviriam para as pessoas irem ao trabalho. Deslavada mentira. Todos sabemos que isso só existe, no mundo ocidental, em Amsterdã e mesmo em cidades como Paris as ciclovias nunca foram alternativas para o transporte coletivo. Experimentem pegar um “camelo” (bicicleta por aqui) e ir trabalhar na maior parte dos meses do ano.
A verdade é que as ciclovias foram feitas para os seres odara que habitam as Asas e os Lagos. Os alados e lacustres esquerdistas que amam o Estado costumam trabalhar somente meio expediente. Altaneiros em suas bicicletas, em passeios matinais telúricos, contemplam, com condescendência, os passarinhos, as árvores do cerrado e os seres das cidades satélites que se apertam nos pontos de ônibus."

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