Chegam a 45 as ações de juízes contra jornalistas que divulgaram seus supersalários
14/06/2016, 04h00
Ações judiciais exigem que repórteres do jornal Gazeta do Povo, o mais antigo do Paraná, tenham que passam praticamente toda a semana viajando para comparecer a audiências
O número de ações movidas por juízes e promotores contra três repórteres e outros dois profissionais do jornal Gazeta do Povo, do Paraná, chegou a 45. As ações tiveram início após a publicação de reportagem sobre os vencimentos dos magistrados e representantes do Ministério Público neste ano.
Os processos começaram a ser ajuizados em abril, em várias cidades paranaenses. O fato tem alterado a rotina dos profissionais do jornal, de 97 anos de existência. As audiências marcadas para ontem no interior do Estado foram remarcadas. Hoje, o grupo viaja para União da Vitória, cidade localizada a três horas de Curitiba, para participar de uma das audiências.
Eles se deslocam e retornam no mesmo dia. Amanhã, seguem para Medianeira, a 600 quilômetros da capital paranaense, para depor em audiência marcada para quinta-feira.
A reportagem publicada em fevereiro mostrava que, somadas as gratificações, o rendimento médio dos juízes e promotores superava o teto constitucional do funcionalismo público, de mais de R$ 30 mil.
“Essas ações adicionais, infelizmente, só mostram que tem mais alguns juízes que não conseguem entender que a função que eles exercem é pública, e que a remuneração deles faz parte de um debate público necessário”, disse o diretor de redação da Gazeta do Povo, Leonardo Mendes Júnior.
“Esperamos que esse aumento de ações ajude na compreensão total da ministra Rosa Weber do que está acontecendo aqui no Estado e de que esse é um caso para o Supremo Tribunal Federal”, afirmou o diretor de redação, lembrando que o jornal aguarda decisão da ministra sobre um recurso movido há duas semanas para que as ações sejam encaminhadas à Corte.
As ações judiciais foram alvo de notas de repúdio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da Associação Nacional de Jornais (ANJ), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), cujos dirigentes denunciaram a situação de “assédio judicial”, na sexta-feira passada no 29.º Congresso Mundial dos Jornalistas, em Angers, na França.
Ao todo, os processos contra os repórteres (Francisco Botelho Marés de Souza, Rogério Galindo e Euclides Garcia), um analista de sistemas (Evandro Balmant) e um infografista (Guilherme Storck) cobram indenização de R$ 1,3 milhão do jornal.
Áudio do presidente da Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Francisco Mendes Júnior, reforçou a suspeita de uma ação coordenada dos magistrados. “Já estamos providenciando um modelo de ação individual feito a muitas mãos por vários colegas e com viabilidade de êxito para que cada um possa ingressar com essa ação individual caso considere conveniente”, diz ele no WhatsApp.
O Estado procurou ontem a Associação dos Magistrados do Paraná, mas nenhum representante foi localizado para comentar o caso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário