Aparentemente, Dilma se convence antes de Cunha de abrir mão do cargo para evitar cassação e cadeia
Não é só pelo refresco eleitoral para o PT
Aparentemente, Dilma Rousseff se convenceu antes de Eduardo Cunha da necessidade de abrir (ou fingir que abrirá) mão do cargo do qual foi afastada para tentar escapar de ser cassada e presa.
Depois dos depoimentos em que Marcelo Odebrecht a acusou de pedir R$ 12 milhões para sua campanha de reeleição e o lobista Zwi Skornicki não só admitiu ter pago R$ 4,5 milhões ao caixa dois da mesma, como também indicou o caminho da propina, Dilma defendeu um plebiscito para antecipar as eleições presidenciais, mesmo que seja reempossada.
“Será necessário consultar a população para remontar um ‘pacto’ que vinha desde a Constituição de 1988 e foi rompido com o processo de impeachment”, disse a petista na TV Brasil, em entrevista ao blogueiro Luis Nassif, que só em 2016 recebeu repasses de R$ 814 mil do governo federal, além do contrato com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
A EBC é aquela para a qual Dilma nomeou Ricardo Melo a poucos dias da votação do impeachment, garantindo assim o seu espaço na TV para acusar o “golpe”, como fez nesta quinta-feira – e reforçando a tese do advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, de “desvio de finalidade” da nomeação.
“A consulta popular é o único meio de lavar e enxaguar essa lambança que está sendo o governo Temer. Dado o nível de contradição que tem hoje entre os diferentes atores neste país, é necessário que se recorra à população”, afirmou Dilma, ignorando, como de costume, que a Constituição não prevê nada disso.
Em outras palavras: uma chance da mulher sapiens para evitar a cassação (e a inelegibilidade) é que o processo no TSE contra sua chapa perca o objeto; e para evitar a cadeia, que Lula seja eleito (antes de ser preso também) e consiga melar a Lava Jato.
Por enquanto, Lula lidera o primeiro turno em todos os cenários projetados pela pesquisa CNT/MDA, mas Aécio Neves ganha no segundo – sinal evidente de que a base de Lula continua forte apesar das investigações contra ele, mas seu índice de rejeição é maior ainda.
Para ganhar força, o PT busca agora evitar o vexame nas eleições municipais deste ano e, segundo uma pesquisa revelada pelo Radar de VEJA, a avaliação do partido no Nordeste já apresentou alguma melhora.
Até os petistas, claro, sabem o motivo: a ausência de Dilma é um refresco eleitoral para o partido.
Embora esperneiem diante das câmeras, especialmente na comissão do impeachment, eles sentem o alívio de voltar à oposição no papel de vítima – e, dada a falta de sustentação política de Dilma na hipótese remota de seu retorno, vinham tentando convencê-la a se render DilmaVez.
(Agora que um relatório da área técnica do TCU aponta 17 itens irregulares nas contas de 2015, a hipótese ficou ainda mais remota.)
Eduardo Cunha, apesar das tentativas de Temer de convencê-lo por meio de Geddel Vieira Lima, ainda se recusa a renunciar à presidência da Câmara porque teme que seu mandato de deputado seja cassado no dia seguinte e que a perda do foro privilegiado o leve mais rapidamente à prisão.
Dilma parece ter se convencido antes de Cunha a largar o osso, mas, obviamente, não se deve crer em nada – absolutamente nada – do que ela diz.
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Recordar é viver em dose dupla:
A propósito:
Propor eleição depois que já foi afastada é como defender o aborto depois que já nasceu: moleza.
Felipe Moura Brasil ⎯ http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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