quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ex-deputado que confessou propina para votar reeleição também recebeu para votar contra, diz delator

Ex-deputado que confessou propina para votar reeleição também recebeu para votar contra, diz delator

POR MATEUS COUTINHO, JULIA AFFONSO, FAUSTO MACEDO E RICARDO BRANDT
01/06/2016, 04h30
   
Ronivon Santiago (ex-PP/AC) admitiu em 1997 que recebeu R$ 200 mil em polêmico episódio do Congresso; quase 20 anos depois, o ex-deputado Pedro Corrêa, delator da Lava Jato, afirma que Ronivon ganhou dinheiro de Maluf para barrar emenda
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O ex-deputado Ronivon Santiago. Foto: Divulgação
No depoimento em que detalha a ‘disputa de propinas’ envolvendo a compra de votos para a aprovação da emenda constitucional da reeleição em 1997, episódio mais polêmico do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB/1994-2002), o ex-deputado e delator da Lava Jato Pedro Corrêa (PP-PE) revelou que o ex-deputado Ronivon Santiago (ex-PFL, PMDB e PP) que admitiu ter recebido R$ 200 mil para apoiar a reeleição, também teria recebido dinheiro do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (PP-SP), para votar contra a medida.
Tempos depois de ser expulso do PFL após admitir o recebimento do valor em reportagem publicada na época pelo jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, Ronivon se filiou ao PP, sigla de Corrêa. “Também veio a se filiar ao Partido (PP) um dos deputados que recebeu propina em troca do voto pela reeleição, Ronivon Santiago, que confirmou toda história ao colaborador, inclusive relatando ao colaborador que tinha recebido dos dois lados”, disse Corrêa aos investigadores da Lava Jato.
No depoimento, porém, Corrêa não cita valores que Ronivon teria recebido além dos já conhecidos R$ 200 mil. Os “lados” a que se refere o delator eram o governo Fernando Henrique, capitaneado pelo ministro das Comunicações Sérgio Motta e o presidente da Câmara Luis Eduardo Magalhães, ambos mortos em 1998, e Maluf, que havia acabado de deixar a Prefeitura de São Paulo em 1997 com aprovação de 90% e cogitava disputar a Presidência da República.
Na época, segundo Corrêa, o maior desafio para Maluf era exatamente a possibilidade de reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Para tanto, relata Corrêa, Maluf convocou ele e os deputados Severino Cavalcanti e Salatiel Carvalho “para se contrapor ao governo e também cooprtar, com propina, parlamentares que estivessem se vendendo ao governo FHC”.
O DEPOIMENTO DE PEDRO CORRÊA QUE CITA A COMPRA DE VOTOS:
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Apesar dos esforços, Maluf acabou sendo derrotado e o governo conseguiu, em uma votação esmagadora, aprovar a emenda que garantiu a Fernando Henrique mais quatro anos de mandato. Em 28 de janeiro daquele ano a emenda constitucional da reeleição foi aprovada no plenário da Câmara em primeiro turno por 336 votos a favor, 17 contra e seis abstenções.
Em 1997, a compra de votos foi denunciada em reportagem do jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, que revelou gravações de conversas parlamentares dizendo terem recebido R$ 200 mil para aprovar a medida. Um deles, Ronivon Santiago, admitiu ter recebido a quantia. Oito dias após a reportagem, os dois deputados flagrados nas gravações renunciaram ao mandato e o caso foi arquivado pela Procuradoria-Geral da República.
Em 2014 Ronivon tentou se eleger deputado pelo PP do Acre, mas não conseguiu. A reportagem telefonou para o diretório da sigla no Estado, mas ninguém atendeu.
Procurado pela reportagem, Fernando Henrique Cardoso disse que Corrêa apenas repetiu o que foi veículado pela imprensa na época e que já tratou do assunto em sua biografia lançada recentemente sobre o período em que ocupou a Presidência da República, chamada “Diários da Presidência”. No livro, ele relata que o episódio foi uma “questão do Congresso”.
Em um dos diários da Presidência ele chega a relatar que foi informado por Luis Eduardo Magalhães que Maluf teria oferecido R$ 1 milhão ao deputado Fernando Brandt (PFL-MG) da comissão da Câmara que analisava a proposta da emenda constitucional da reeleição para votar contra a medida.
Já o ex-prefeito Paulo Maluf afirmou que o ex-presidente Fernando Henrique é que deve ser ouvido sobre o caso. “O favorecido no episódio foi Fernando Henrique Cardoso com a sua reeleição, e portanto é o FHC que deve ser ouvido”, disse, por meio de sua assessoria.
A delação de Pedro Corrêa está sob análise do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, e ainda não foi homologada. Ronivon Santiago não foi localizado para comentar o caso.
COM A PALAVRA, O EX-PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO:
Procurado pela reportagem, Fernando Henrique Cardoso disse que Pedro Corrêa apenas repetiu o que foi veiculado pela imprensa na época e que já tratou do assunto em sua biografia lançada recentemente sobre o período em que ocupou a Presidência da República, chamada “Diários da Presidência”. No livro, ele relata que o episódio foi uma “questão do Congresso”.
Em um dos diários da Presidência ele chega a relatar que foi informado por Luis Eduardo Magalhães que Maluf teria oferecido R$ 1 milhão ao deputado Fernando Brandt (PFL-MG), da comissão da Câmara que analisava a proposta da emenda constitucional da reeleição, para votar contra a medida. No livro, porém ele não cita outros parlamentares nem os detalhes relatados por Pedro Corrêa.
Veja a íntegra da nota do ex-presidente:
“O depoente apenas repete o que foi veiculado na época e levou à renúncia de alguns dos 4 deputados citados como responsáveis por receber propinas, isso depois de investigação na Câmara. O modo como a informação chegou a mim e sua pronta repulsa estão minuciosamente registrados no volume 2 dos Diários da Presidência, que acabo de publicar. “FH
COM A PALAVRA, O EX-PREFEITO DE SÃO PAULO E DEPUTADO FEDERAL PAULO MALUF:
O ex-prefeito Paulo Maluf (1993/1996) afirmou que o ex-presidente Fernando Henrique é que deve ser ouvido sobre o caso. “O favorecido no episódio foi Fernando Henrique Cardoso com a sua reeleição, e portanto é o FHC que deve ser ouvido”, disse, por meio de sua assessoria.
Veja a íntegra da nota de Paulo Maluf
“O favorecido no episódio foi Fernando Henrique Cardoso com a sua reeleição, e portanto é o FHC que deve ser ouvido.”
COM A PALAVRA, ROBERTO SETÚBAL:
“Fico profundamente indignado em ver o nome de meu pai tão absurdamente envolvido numa história sem comprovações.
Ele era um homem absolutamente ético e tenho convicção de que ele jamais se envolveu em nada parecido com o que, covardemente, o ex-deputado Pedro Corrêa descreveu.
Meu pai não participava de qualquer atividade política partidária desde 1986, e não há nenhum indício de que essa história possa ter fundamento”.
Roberto Setubal
COM A PALAVRA O LÍDER DO DEM, PAUDERNEY AVELINO:
“Rechaço com veemência as referências feitas a mim pelo ex-deputado Pedro Corrêa, autointitulado corrupto. Não responderei aos bandidos e ladrões do dinheiro público”.
OUTRAS DEFESAS:
A reportagem entrou em contato e encaminhou e-mail para a assessoria de ACM Neto, da família de Luis Eduardo Magalhães, mas não obteve retorno. Os demais políticos que ainda estão vivos citados na delação não foram encontrados para comentar o caso, o espaço está aberto para a manifestação deles.

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