Pela primeira vez, Suíça liga conta investigada na Lava Jato a campanhas eleitorais
JAMIL CHADE, CORRESPONDENTE - O ESTADO DE S.PAULO
10 Junho 2016 | 12h 01 - Atualizado: 10 Junho 2016 | 12h 33
Sob suspeita de que origem do dinheiro era criminosa, conta foi bloqueada; dinheiro ia para países das Américas do Sul e Central
GENEBRA - Pela primeira vez, o Ministério Público da Suíça ligou uma conta secreta no país investigada no "caso Petrobrás/Odebrecht" ao pagamento de gastos em "campanhas políticas na América do Sul e Central". A suspeita das autoridades é de que a origem do dinheiro é criminosa. O MP suíço não informou quais políticos ou partidos estariam ligados a essas campanhas, mas procuradores em Berna afirmam que o dinheiro depositado na conta está bloqueado e que esses dados foram solicitados por autoridades brasileiras.
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A informação foi passada aoEstado em resposta a perguntas da reportagem relacionadas à notícia de que o lobista Zwi Skornicki, apontado como operador de propinas pela Operação Lava Jato, fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal brasileiro. Preso desde 23 de fevereiro de 2016, Zwi Skornicki repassou US$ 4,5 milhões para a conta secreta na Suíça do marqueteiro do PT, João Santana -preso com a mulher, Mônica Moura, em Curitiba, alvos da Operação Acarajé, desdobramento da Lava Jato.
"Como parte das investigações sobre o caso Petrobrás/Odebrecht, o Escritório do Procurador Geral da Suíça também ordenou o bloqueio de uma conta que era mantida por uma empresa localmente domiciliada", apontou a procuradoria em um e-mail ao Estado. "De acordo com as informações disponíveis, ela (a conta)foi usada para financiar campanhas políticas na América Central e na América do Sul."
Skornicki contou em delação que o valor de US$ 4,5 milhões foi solicitado pelo então tesoureiro do PT João Vaccari Neto "para ajudar a financiar a campanha de reeleição de Dilma Rousseff". Segundo o MP suíço, "em relação à sra Dilma Rousseff, não existe nem um processo criminal e nem investigações conduzidas em relação a ela".
Além do Brasil, a Suíça já estabeleceu cooperação com o Panamá no caso envolvendo recursos e pagamentos feitos pela Odebrecht. "Nesse contexto, o escritório do Procurador Geral está focando na possibilidade de que esses fundos vinham de atividades criminosas, e não na possibilidade de que eles possam ter sido usados de maneira ilegal", explicou a procuradoria.
"Qualquer doação ilegal para campanhas eleitorais e outros objetivos políticos devem ser assunto de investigação nos países concernidos e não são, portanto, do interesse direto das investigações conduzidas pelo Escritório do Procurador Geral ", disse o MP.
Segundo Berna, porém, o Brasil já fez um pedido de cooperação para ter acesso a esses dados e que, por enquanto, a solicitação está sendo alvo de uma avaliação. "As autoridades brasileiras pediram à Suíça a cooperação para obter os dados relacionados a essa conta bancária", confirmou o MP em Berna. "Esse pedido por assistência mútua está sendo atualmente processado", explicou.
Outro lado. Com a informação de que o lobista Zwi Skornicki fechou delação premiada informando repasses à conta de João Santana, a defesa de Dilma Rousseff rebateu na quinta-feira, 9, "a insinuação de que teria conhecimento de um suposto pedido de R$ 4,5 milhões feito pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto". "É público e notório que o tesoureiro da campanha da reeleição foi o ex-ministro Edinho Silva. Ele é quem tratava da arrecadação para a campanha em 2014. Todas as doações de empresas foram legais e estão na prestação de contas aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)", dizia a nota.
Já a defesa de Vaccari disse na ocasião que a informação do delator não pode ser considerada. "Sem nenhuma comprovação ou credibilidade. Até porque o sr. Vaccari era tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, jamais tendo funcionado como tesoureiro de campanha".
A Odebrecht informou ao Estado que não iria comentar o assunto.
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